RUPTURA
Parece-me ter se rompido um laço cármico que com
alguém mantivera, sabe-se lá desde quando! Ainda assim ou por isso dói, mesmo
que fora abstrato o elo rompido, porque fosse um elo psíquico.
Mas o meu caminho, mesmo que me pesando muito já o
tempo reserva ainda muitas belezas de futuras construções artísticas. Imagens
magníficas e harmoniosamente coloridas se refletem em portas, que antevejo na
ante-sala da minha alma, abertas; novas páginas preenchem-se de palavras
críticas, de ensaios filosóficos, e os formões movimentam-se magicamente por
sobre a madeira ao som de uns acordes primários da velha gaita.
Poderia muito bem definir estes anseios como triunfo
da arte em silêncio, por não chorar mais os anseios frustrados, mas não sei em
tempo hábil se é possível materializar tudo.
No inconsciente do orbe já estão certamente plasmadas
todas as formas, devendo conformar-me eu com aquilo que for possível executar
como artista – aquele que faz arte – sem saber de quem houvera herdado o
talento – se é que existe mais que um mero arremedo – mas segundo o astrólogo
francês que em remotos tempos consultara, seria de minha Mãe...
Inquestionável da carnal e de sanguínea herança segundo
minha pessoal observação, já quanto da natura mãe da experiência e consagrada
ao longo do tempo em muitas pegadas caindo e levantando, rindo ou chorando,
indo e vindo, também nessa mãe eu creio.
E como oitavo membro e irmão caçula da família de
sangue, a característica artística se percebe de cada um deles em mim, expressando
um legítimo potencial.
E não poderia ser diferente, porquanto seja a família
um maravilhoso laboratório, onde elementos e tendências adquirem dinamismo,
dependendo do empenho individual; e tanto vale para as coisas boas e positivas,
quanto para as más e negativas.
Cabe a cada membro do clã transformar as suas tendências,
e a partir delas construir uma bela obra de arte em monumento humano,
acrescentando esses caracteres à história universal, cujos elementos muito mais
que as corruptíveis palavras, falam.
E se elementos negativos intermedeiam nossos
“monumentos”, é porque coisas inconfessáveis se alimentam. Mas nem por isso o
belo da estética arquetipal deixa de ser belo, não obstante a decadência de
algumas novelas.
Afinal este velho mundo de incontáveis e maravilhosos
contrastes de opostos segue indelével o seu destino. E não seria justo que
estranhos alienígenas, ou até mesmos deuses o construíssem por nós. Por isso
somos o que somos, construímos o mundo tal como ele é e não como em sonho
gostaríamos que ele fosse.