sábado, 29 de setembro de 2012

COM QUE VOZ


Imitando Camões, com que voz descreverei as minhas dúvidas,
se não há certeza alguma?

Subi por mim acima e desci por mim pra baixo tomando todo o cuidado
do mundo em observar bem o que na trajetória ia encontrando,
mas nada de animador que no mundo já alguém não tenha visto e dito encontrei.

Banal em todos os sentidos, só não o sou mais por faltar-me
a experiência de um certo simulacro de estadista que virou presidente,
quando não deveria sê-lo nem de escola de samba da terceira divisão,
se é que existe essa categoria.

Claro me ficou ao descer, caso passasse eu por essa experiência,
não causaria o mal que esse sujeito causou à nação, submetendo-a
à mas baixa miséria moral de sua própria natureza, pelo exemplo que deu,
sem se importar com a dignidade mínima que é exigida de um cidadão.

Nem se pode dizer que terá descido ao fundo do poço da desonra,
pois tudo leva a crer que sempre aí andou. Esse é o seu habitat.

Não, eu não seria essa encarnação da canalhice, por não ter
essa mácula da civilização e respeitar o outro na escala mínima,
pois também não sou nenhum São Francisco de Assis.

Quanto à suposta caminhada pelas brasas da iniciação não falo
a respeito. Talvez nessa trajetória só tenha mesmo queimado meu pés!

Embora tenha razoavelmente compreendido a doutrina dos Mestres,
na linguagem original, não descobri como na linguagem dos homens
aos homens a levasse.

Também não tenho o talento para repeti-la ipsis literes.
Nem me sinto confortável nessa função de mero repórter
de algo tão imensamente elevado, que a quem de direito caberia
fazê-lo seria aquele que, na tradição é conhecido como Buda Humano.

Alguém como João Batista, que ao ser degolado privou o
Buda Terreno, Jeoshua de cumprir a missão,
inspirada pelo Buda Celeste, Jefersus...  

Bem, foi assim que subindo por mim deparei-me com esse fato supremo,
e ao descer encontrei aquela outra aberração humana
que virou presidente.

segunda-feira, 24 de setembro de 2012



AH ESSE SILÊNCIO QUE FALA!
O silêncio fala tanto, mesmo quando interrompido por palavras, tanto! 
E as pessoas, passe o tempo que passar continuam as mesmas e sozinhas. 
E que pena, cada vez mais corrupta é aquela que pretende ser mais que pessoa! 
É o mundo seguindo seu curso montado na garupa de quem traça o plano social da civilização, sem ter noções de civilidade!
Sem consciência, aniquilam algumas espécies do reino animal, 
e a outras confinam e engordam para comer, numa mistura domestica do animal, 
vegetal e mineral; e assim vai indo o mundo comendo o mundo.
Numa instintiva e voraz transformação, sem método racional vai indo...
Certamente não há grandes conflitos nesse devorar de espécies inferiores,
que até se doam para instintivamente subirem um degrau e se 
transformarem em energia mental...
Mas nessa esfera, o dinheiro enquanto ilusão de força e poder 
faz a diferença e determina as regras do jogo.
Há entre os do contingente geral diferentes opiniões, e até à boca pequena 
há quem diga que alguns da espécie mais rudes são porcos; 
mas existe aí uma diferença, pois os porcos certamente não comem gente, 
nem a outros porcos...
Bem, mas ao cabo de tudo não somos assim tão maus!
Talvez ainda meio inconscientes, por nosso estágio de evolução 
estar ainda no primário, em relação ao padrão superior.
Mas não há como fugir do modelo idealizado como arquétipo sintético,
formado a partir de todas as correntes filosóficas, 
se pretendermos continuar na marcha da evolução.
Infelizmente muitos de nós repudiamos o ideal divino 
mutilando o sagrado, representado na ideia ampla do bem, 
que ao final é o que expressa a essência da beleza do eu revelado. 
Em razão disto e por motivos concretos – racionais – impossível 
nos é conceber por conceitos éticos e estéticos duvidosos 
a beleza intrínseca do ser, sepultada nas profundezas do homem terreno, 
ainda fora do alcance da razão.
E essa beleza do real bem é o verdadeiro tosão de ouro como essência 
incorruptível do ego, para que um dia seja realmente cada um ele mesmo,
enquanto indivíduo inseparável. 
Todavia enquanto tantos vivem o presente estágio da “razão animalizada”, 
segundo o conceito histórico da espécie que alçou voos mais altos, 
apenas uma pequena elite ultrapassou a linha divisória tornando-se a elite 
da “razão humanizada”.
Mas ainda assim essa deixa para trás os seus troféus, 
as suas vanglorias e seus feitos empalhados e pendentes 
em lugar de grande destaque na parede da sala, 
ou na cabeça ostensivamente com muito orgulho a posição social, 
aparentemente mais elevada, mas será mesmo a elite?
Mas há sim uma pequena parcela já beirando as raias da mente universal, 
e só por isso fala tão alto o silêncio e a humildade, tanto! 
Pena poucos ouvidos haja para ouvi-lo e digam: 
“ouçam o que eloquentemente o silêncio fala mesmo atrás das palavras inúteis!” 
Pois são chegados os tempos em que havendo muitos ou poucos, 
haja olhos bem abertos para ver atrás das sombras do desejo 
e das palavras gordas e inúteis!" mais vale então um enigma em palavras!    
"Quem te disse ó folha, que o vento que te levantou tem por trás dele o tempo? 
Quem te disse isso mentiu, porque ao tempo criou-o homem! E tu folha, além do tempo, existirás? Lembra-te de que ainda há pouco um pedaço do céu caiu em fagulhas e o mundo não acabou.”


sábado, 15 de setembro de 2012

Dicotomia numa escada descendente

Não?
Sim?
Silêncio:Ouro;
Palavra: prata.
Verdade e Mentira então? Não!
Nem verdade nem mentira.
Nem Ouro nem Prata só tesouro são
Nem silêncio e palavras tudo são!
Metais preciosos depois de minerais arrancados Da terra,
 “pensados” nas Estrelas?
Assim é que representam Sol e Lua. Mercúrio e Vênus!
Todavia e, contudo Mercúrio metal tem um quê,
Mais que o ouro, que tivessem os Alquimistas Conseguido penetrar na sua alma,
Teriam feito ouro de Mercúrio!
Mas no mundo dos homens é o oposto:
Do Ouro e do Sol que se vai ao Mercúrio Astrológico.
E não há nenhum mal nisto, nenhum mal!
Nem bem, nenhum bem que se carregue também!
Tal é assim o fogo e a água O carbono e até o sal!
Igualmente assim o ar e o oxigênio.
Tal e não outra coisa o Oxigênio e o Prana.
No Reverso do Verso do Universo Prana é o real elemento vital.
O resto é um compacto de muitas palavrinhas alinhadas
Umas na frente das outras, com grande ou pequena
 Dose de carga emocional, intelectual, animal e humana,
De um ego abundante.

quinta-feira, 13 de setembro de 2012

PAPEL

Quando olho no espelho, envelheci. Tenho como certo que envelheci. Mas por dentro, não obstante a marca no rosto, até me acrianço; infantilizo-me e choro de ternura as coisas que os adultos desprezam. Também admiro cenas da natureza, que os adultos detestam, e rio-me muito quando alguém lê alguma coisa minha e não se dá conta da presença do encoberto, ao longo das páginas escritas. Rio-me por um motivo e lamento por outro: rio-me por ser invisível a minha escrita, e lamento por não encontrar alguém que me tendo lido, perguntasse: - “quem é aquele oculto ser que ora paira, ora se esconde e meio sem ser nada está lá em silencio, mas eloqüentemente fala muito alto?”. E anseio muito isto, por duas razões: primeiramente porque tenha alguém lido meus escritos; e depois porque entendera o sentido metafísico daquilo que dissera o encoberto, e que até eu próprio às vezes o ignoro. Ainda que ao que tenha dito o dissesse com absoluta clareza, e não importa quem o dissera, pois até eu próprio, através do outro meu eu desconhecido e encoberto, que nem sei bem se existe, mas concretamente fala em meus textos! É fato que está mesmo lá, mas eu não tenho consciência nem domínio sobre ele e sequer o conheço! Atrevido, de repente transcende minha linha de criação, surge diáfano com atitudes desafiadoras independentes, e às vezes meio ator rebelde, mas sempre cínico e crítico... Só isto é possível descrever do encoberto, uma das várias personagens meio ocultas e meio mágicas que permeiam irreverentes o meu discurso. Mas não é nenhum deles um ser inteiro; isso não é. Facetado impressiona a sua integridade essencial aparente, mesmo sem ter qualquer forma que o identifique. Oculto e sem deveras criar, de fato se auto-gera momentaneamente. E não seria possível dar outra pista a quem o quisesse descobrir, caso me lendo ele viesse a ser totalmente revelado, no caso de ser encontrado. Até eu gostaria de revelá-lo, mas deixaria de ser o encoberto e as palavras na sua língua seriam as palavras como outras quaisquer. Melhor então deixá-lo onde está que aí até se pode dizer que ele é marginal e responsável pelo desvio da linha de raciocínio lógico, impondo-me uma guinada radical que me leva para outras zonas de pensamento, alheio à minha vontade. E é assim que me faz dizer coisas que não pensei, adquire vida própria com uma tão forte marca, que é possível distinguir-lhe algo como cor, e uma idéia de um nome. Este ente, para diferenciá-lo de outros eus em mim, possui a síntese de todos e às vezes confunde-se comigo; e até atrevidamente assume meu lugar. Mas como é mascarado e de difícil identificação, torna-se mágico, metafísico, encoberto. Mas certamente, por estar numa zona de boa fluência e fluidez, é de natureza andrógino: guerreiro enquanto espadachim das palavras, e mãe enquanto língua falada. Porém de tão oculto inspirou o tempo, que hoje se fez encoberto. Nesta região geográfica da linha do Equador o tempo escuro é magnífico, porque o sol poderosamente é aqui feroz. E para terminar esta prosa, digo ter sido translada pela via escrita ao papel, consagrando a este artífice todas as homenagens pelo precioso papel que prestara enquanto secretário. E enquanto vegetal transformado se empresta honrosamente e serve à língua.

terça-feira, 11 de setembro de 2012

tempo

Tempo Tique taque, tique taque é a voz do tempo contado pelo cuco do relógio, que depois de bem marcado e quase extinto anuncia as horas falsas. Não deixa de ser algo meio estúpido, um cuco de porcelana ou de esmalte após uns tiques taques sair à janela e cantar: “cucu”, “cucu”... E o faz com o “bico fechado” a mentir o “cucu”, e às vezes, errando as horas, mentindo-nos o tempo. (Coisas de um tempo de um momento romântico encenado pelo lado esquerdo do cérebro). Hoje os cucos dos relógios estão confinados nos museus, e os verdadeiros pássaros daquela espécie, morreram. Mas muitos cucos surgiram depois da morte dos verdadeiros em diversas formas e tamanhos, e em todos os lados ouvimos cucu para lá, cucu para cá, num cucurucar sem fim enquanto durar essa medida do tempo. Mas, por fim, no fim mesmo, não há mais cuco algum nas proximidades onde viva o homem, porque a si mesmo por ter perdido o juízo anda quase se comendo. (Coisas de um tempo de um momento romântico encenado pelo lado esquerdo do cérebro). Ainda ontem choravam umas perdas que hoje não significam mais nada, e até as velhas bonecas e os velhos carrinhos jogam fora. Ainda ontem faziam guerra com pedras, depois com pedras e paus, e depois com ferro, depois com ferro e fogo, depois com energia atômica, e ainda choram muitas perdas. O tempo todo o homem perde coisas e as chora. Teria sido o homem criado para perder coisas, ou teria sido criado para fazer coisas com o fim de perdê-las? Teria sido criado para chorar, ou, como diz a promessa de salvação, teria sido criado para ser feliz com as quimeras do paraíso? Mas como saberá entre perdas, choros e falsos paraísos o que é ser feliz? E o que esse termo significa? Perder, por exemplo, é perder algo que trazia nas “mãos” ou em outro lugar, ou até em lugar nenhum e tinha a ilusão de que possuía algo e perdeu, às vezes até uma masculinidade duvidosa, ou uma razão feminina; chorar da mesma forma é chorar, e acabou-se ou se acaba tudo num festival de lágrimas quando secam! Entretanto ser feliz é tudo que o homem quer, ainda que a sua felicidade custe a infelicidade dos outros, mesmo sem medida nem parâmetro, sequer registro do sabor da felicidade que procura que dirá a sua substância, que dirá a cor! Sequer qualquer imagem, por mais remota ninguém tem da felicidade! Por exemplo, se aqueles sorrisos ditos de manchete não significam felicidade, o que será então que a representa? Sendo a salvação, essa que eles nos prometem, não haveremos de querer salvar-nos, porque chorar e perder enraizou-se tão profundamente em nós que viver eternamente num paraíso seria terrivelmente tedioso! Não seria possível viver com tamanha felicidade onde nada mais necessitássemos das coisas que eventualmente podemos perder e nos causa dor para confrontar com a alegria! Como então viver sem ganhar, para depois perder essas coisas? Não, há aqui muitas coisas criadas artificialmente pelo tempo, e dentre muitas causas e efeitos e coisas, uma delas é certamente o tique taque do relógio de parede já sem cuco, que no paraíso não teremos; e também o pulso do relógio de pulso, já sem tique taque algum. De modo que, se alguém deve ser responsabilizado por estas perdas aqui e também no paraíso, não pode ser “o tique taque que marca o tempo das perdas”. O melhor e mais justo é responsabilizar o tempo, inocentando o relógio. Mas se ao contrário de punir devêssemos homenagear alguma coisa, seriam os cucos que as suas vidas ofereceram a favor dos relógios. E estes sim, os relógios sim, que depois de inventados impuseram tremendo castigo ao tempo condenando-o ao ritmo quaternário, do compasso, que o prendeu às horas escravizadas nos ponteiros de brincadeira analógica ao digital. Mas contando sem parar no tique taque, com ou sem som, lá no fundo, “lá no fundo mesmo não há culpados; e se os houvesse não seriam os relógios nem os tiques taques”, nem o tempo nem os cucos. Os homens talvez sim, que os criaram e impuseram ao tempo um ritmo; mas o fator tempo que envelhece porque passa ininterruptamente caminhando, dá a vida sim, mas em contrapartida e por castigo supremo, dá-lhe também a morte.

sexta-feira, 7 de setembro de 2012

Prosa


Ilusão ou Maia


Nem tudo que no céu brilha são astros e estrelas.
Muitos pontos luminosos que reluzem viajam como partículas luminosas
e nem mais existe seu corpo radiante.
“São estrelas cadentes”, pedaços daquelas memórias em partículas
de luz descendentes, para que se lhe façam pedidos quando caem.
Às vezes um fragmento meteórico cai próximo do observador,
e este de boa fé e fervoroso crente fecha os olhos e lhe faz um pedido.

Em relação ao futuro, este momento da evolução humana parece
girar em torno de si mesma, circular. 
E ao invés do fascínio pelas novas descobertas 
este círculo cria uma poderosa barreira
e impede o homem de olhar pra frente.

E às vezes por temor olha para trás alimentando as crenças e o velho hábito,
já agora um vício que o faz seguir de cabeça abaixada morrendo de medo,
quando deveria não temer, mas respeitar Deus.
Este caso exige uma análise mais profunda e não é tão simples
como à primeira vista parece.

E se o novo é um fantasma que assusta, é em virtude da cultura
milenar ocidental, e da hierarquia emocional que finca os pés
no chão e acha que está só e é dona absoluta da situação.
Por ser mais antiga criara raízes profundas,
e por isso tenta manter-se em seu estado natural de inércia passiva,
tolhendo como sabe muito bem fazer e iludir;
e às vezes, usa chantagens emocionais que lhe são naturais,
e até sabota a razão impedindo-a de seguir o impulso analítico,
em direção ao novo.

Desta diferença substancial é que surge a luta pela supremacia
entre os dois movimentos subjetivos e opostos que se podem chamar
de horizontalidade e verticalidade:
o predicativo da razão é de ir em frente e para o alto na verticalidade,
enquanto o da emoção é permanecer inerte acomodada
onde se encontra a olhar para trás o passado horizontal.

E acaba se criando uma polarização entre inércia e fuga,
e eis a alma humana neste estágio em seu velho palco,
onde sob o comando da emoção executa as suas velhas cenas
já com grossas teias de aranha tolhendo a razão!

Apesar de andarem em constante luta,
pois se esta luta cessar manter-se-á o ser estagnado
prisioneiro do medo e a morte vingará, mas enquanto não vem
será mero um sonâmbulo do inconsciente coletivo
(cabeça de gado genericamente assim denominado,
em razão até do nome Gautama, condutor de gado).
Isto por não haver ainda uma vontade superior
– esta maravilhosa ferramenta – principal atributo da mente universal
substituída nesse estágio por uma enfiada de cabeça na terra
e aí amarrado pela fé o tempo impor-se-á...
Mas quando já fortalecida a vontade e finalmente houver equilíbrio
harmônico entre as duas faces da alma - mente e emoção - cresce 
o homem dos conflitos à serenidade – da terra ao céu – podendo então caminhar
mais rapidamente em direção à luz.

E se há luz para onde vá e para ela se encaminhe,
é evidente que o faça saindo das trevas, naturalmente onde se encontre,
pouco importa se até às vezes sonhe belas pradarias e teses
romanceadas em bela poesia. Mas como não é a alma pomba,
nem voa por esses prados nem por esse imaginário e inexistente céu da poesia...
Mas no momento em que despertar compreenderá não existir esse espaço
de onde acaba de sair, também nenhum comandante divino há,
nem tampouco diabólico. E agora, já sem medo nem ilusão,
será Ele, apenas Ele, o Ser Verdadeiro que andava encoberto
por umas vestes ilusórias, encerrado num pobre e acorrentado
qual ego no Pote de Argila.    

quarta-feira, 5 de setembro de 2012

Brincando de prosear


                       Transitórias passagens


Não valeria a pena manter imagens mumificadas, se ainda as houvesse do tempo dos espinhos. E ainda que momentos inglórios transitassem por nós, no passado, agora seriam meras recordações desagradáveis e, portanto inúteis.
Até na área memorial de nossa história há pegadas profundas na terra úmida, para compensar as marcas no chão batido e seco de quando andávamos pelo deserto de nossa desolação tórrida, só para que se tornem mais leves os nossos pés no presente caminhar.
Mas quem após ter percorrido seu próprio caminho com dignidade ainda ande em memórias mórbidas, porque não as sublimara – esquece-las agora não será possível.  Principalmente se houvera espinhos no deserto. Tendo esse tempo ficado mergulhado no passado, urge correr quem deseje transformar essas memórias tristes em rosas! E desta arte mais do que das possíveis vitórias, belas e sagradas páginas de seu livro pessoal consagrem-nas! E então por que eu haveria de chorá-las? Para quê, depois de tão inúteis já as ter vertido, pois foram apenas lágrimas!
Por isso cumpre a quem olha profundamente no espelho da alma que se afaste das imagens cadavéricas de seus fantasmas; e como às cascas dos limões amargas não basta açúcar, também não serve para nada manter esses fantasmas com cheiro de mofo. Sorria-se para eles de gratidão, sem mágoa e não mais se escondam no armário tenebroso, de onde furiosamente poderão nos assaltar escravizando-nos. Por que então não as transformamos?
Porquanto colares de pérolas para os que apreciam jóias seja diferente de coroas de espinhos, porquanto jóias custam dinheiro e ostentam “riqueza”, e os espinhos custam apenas lágrimas revelando também falta de inteligência em um mercado de altíssimo risco de futuros, onde não se paga com a inteligência porque seja cara, mas desgraçadamente porque completamente faltando seja a causa germinal de todas as misérias.
Felizes são os peregrinos do caminho do meio: entre a direita onde transita o suposto bem e a fartura, e a esquerda onde não transita, mas exerce forte pressão a treva e a fome porque não produz. Todavia irmãos gêmeos saídos do tronco universal jogam magistralmente a partida da evolução, quando estão equilibrados. Mas ao final não haverá vencedor. Porque, dessa contra-arte, caso houvesse a derrota de uma das partes, o todo que é o ser integral, seria momentaneamente o perdedor... E isso é impossível.
E por ser este o mistério da criação, nem um nem outro prevalecerá, senão e tão somente o eixo que aponta o bom caminho do meio.
E naturalmente também as pérolas ou os espinhos passam, para no fim nem umas nem outros, senão as estrelas... E também os astros em infindáveis caminhadas de homens aspirantes, candidatos, novatos e aprendizes. E raros, muito raros Mestres!

segunda-feira, 3 de setembro de 2012

META-FIXA II


 

ESTÉTICA DO SIMBOLISMO

                                                 
Hoje estou só. Só e não sei se é numa ilha ou arquipélago onde não sei nada de mim, ciente apenas dessa minha solidão. Mas estranhamente não estou triste. Serenamente ordeno os mais vivos e coloridos objetos mentais em minha memória, por onde andaram pessoas; e em sua homenagem coloco ao fundo belas paisagens a fim lhe dar certa originalidade guardando certa semelhança àquelas, onde foram vivenciados belos episódios, de cujas cenas às vezes banais e em circunstâncias até inesperadas, porém inesquecíveis, profundas e de saudosas lembranças.
E é por elas, apenas por essas belas memórias é que sou profundamente agradecido ter andado por essas vias e vivido esses momentos com meus amigos e saudosas mulheres, algumas delas de inesquecíveis lembranças de algo amorosamente presente.
Muitas personagens das quais nem guardo imagens claras criam ainda uma enorme tela um pouco enfumaçada, revelando imenso retrato de um tempo, que infelizmente já passou. Todavia permanece ainda em meu inconsciente saudoso do qual sou tomado por grande sentimento, e me deixo levar até essas paragens segregando lacrimosos sentimentos internos; mas, estranhamente já não causam sofrimento.
E até me enleva a um cenário de estrema beleza quando exercito o mais ingênito sentimento pátrio em nossa língua, onde a harmonia fonética expressa a filha natural única da alma lusitana – saudade – que até às longínquas terras levou e ainda leva singular forma de vida onde fecunda no espaço etéreo e mental dourada estrofe sem par no mundo.
E assim, rude nos rudes, divina e liricamente ele, o maior de todos os poetas cantou: “Que me quereis perpétuas saudades?” Para que de tal forma a arte elevada jamais alguém ousasse igualar em verso! E para que, também, não vá a estranhos palcos ser exibida, por ser tão somente profunda e apenas saudade!
Bebo-a então eu em longos tragos, sim, bebo e por estar tão intimamente presente em minha alma, as lágrimas nela vertidas se convertem em cristais límpidos de um sentir, tal como em tantos anônimos rostos vá a ornar o ilustre peito lusitano! E pelo mundo fecunda nobilíssima e natural nostalgia! E onde houver um simples vocábulo português aí estará presente a conceder a tônica e a revelar do sangue a real herança de uma raça, cujo nobre sentimento exprime de espírito a beleza de sua voz em sentimento, na lusitaníssima saudade!
Por isso, embora não estando triste mergulho na essência da alma lusa só para dele repetir: “Que me quereis perpétuas saudades?” Mas quando já a mágoa passada e o canto silenciado da outrora: “voz enrouquecida e não do canto, mas por que venho cantar a gente surda e endurecida” eu atrevido ora exclamo: que pena que ainda hoje ande de muitas vistas apartada a tua arte, por estranhas e talvez ensurdecidas almas tão pequenas! Que pena saudoso cantor! Porém aqueles que às lágrimas vos levaram enrouquecendo-vos a voz, onde estão agora? Que nomes tiveram? Ah, valeu então a pena ó, sublime cantor da alma lusitana! Pois que em ti “a alma não é pequena”, tal como dizia outro de alma e de espírito grande para cantar “o peito e o feito ilustre lusitano”.