sexta-feira, 7 de setembro de 2012

Prosa


Ilusão ou Maia


Nem tudo que no céu brilha são astros e estrelas.
Muitos pontos luminosos que reluzem viajam como partículas luminosas
e nem mais existe seu corpo radiante.
“São estrelas cadentes”, pedaços daquelas memórias em partículas
de luz descendentes, para que se lhe façam pedidos quando caem.
Às vezes um fragmento meteórico cai próximo do observador,
e este de boa fé e fervoroso crente fecha os olhos e lhe faz um pedido.

Em relação ao futuro, este momento da evolução humana parece
girar em torno de si mesma, circular. 
E ao invés do fascínio pelas novas descobertas 
este círculo cria uma poderosa barreira
e impede o homem de olhar pra frente.

E às vezes por temor olha para trás alimentando as crenças e o velho hábito,
já agora um vício que o faz seguir de cabeça abaixada morrendo de medo,
quando deveria não temer, mas respeitar Deus.
Este caso exige uma análise mais profunda e não é tão simples
como à primeira vista parece.

E se o novo é um fantasma que assusta, é em virtude da cultura
milenar ocidental, e da hierarquia emocional que finca os pés
no chão e acha que está só e é dona absoluta da situação.
Por ser mais antiga criara raízes profundas,
e por isso tenta manter-se em seu estado natural de inércia passiva,
tolhendo como sabe muito bem fazer e iludir;
e às vezes, usa chantagens emocionais que lhe são naturais,
e até sabota a razão impedindo-a de seguir o impulso analítico,
em direção ao novo.

Desta diferença substancial é que surge a luta pela supremacia
entre os dois movimentos subjetivos e opostos que se podem chamar
de horizontalidade e verticalidade:
o predicativo da razão é de ir em frente e para o alto na verticalidade,
enquanto o da emoção é permanecer inerte acomodada
onde se encontra a olhar para trás o passado horizontal.

E acaba se criando uma polarização entre inércia e fuga,
e eis a alma humana neste estágio em seu velho palco,
onde sob o comando da emoção executa as suas velhas cenas
já com grossas teias de aranha tolhendo a razão!

Apesar de andarem em constante luta,
pois se esta luta cessar manter-se-á o ser estagnado
prisioneiro do medo e a morte vingará, mas enquanto não vem
será mero um sonâmbulo do inconsciente coletivo
(cabeça de gado genericamente assim denominado,
em razão até do nome Gautama, condutor de gado).
Isto por não haver ainda uma vontade superior
– esta maravilhosa ferramenta – principal atributo da mente universal
substituída nesse estágio por uma enfiada de cabeça na terra
e aí amarrado pela fé o tempo impor-se-á...
Mas quando já fortalecida a vontade e finalmente houver equilíbrio
harmônico entre as duas faces da alma - mente e emoção - cresce 
o homem dos conflitos à serenidade – da terra ao céu – podendo então caminhar
mais rapidamente em direção à luz.

E se há luz para onde vá e para ela se encaminhe,
é evidente que o faça saindo das trevas, naturalmente onde se encontre,
pouco importa se até às vezes sonhe belas pradarias e teses
romanceadas em bela poesia. Mas como não é a alma pomba,
nem voa por esses prados nem por esse imaginário e inexistente céu da poesia...
Mas no momento em que despertar compreenderá não existir esse espaço
de onde acaba de sair, também nenhum comandante divino há,
nem tampouco diabólico. E agora, já sem medo nem ilusão,
será Ele, apenas Ele, o Ser Verdadeiro que andava encoberto
por umas vestes ilusórias, encerrado num pobre e acorrentado
qual ego no Pote de Argila.    

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