Transitórias passagens
Não valeria a pena manter imagens mumificadas,
se ainda as houvesse do tempo dos espinhos. E ainda que momentos inglórios
transitassem por nós, no passado, agora seriam meras recordações desagradáveis
e, portanto inúteis.
Até na área memorial de nossa história há
pegadas profundas na terra úmida, para compensar as marcas no chão batido e
seco de quando andávamos pelo deserto de nossa desolação tórrida, só para que
se tornem mais leves os nossos pés no presente caminhar.
Mas quem após ter percorrido seu próprio
caminho com dignidade ainda ande em memórias mórbidas, porque não as sublimara –
esquece-las agora não será possível.
Principalmente se houvera espinhos no deserto. Tendo esse tempo ficado mergulhado
no passado, urge correr quem deseje transformar essas memórias tristes em rosas!
E desta arte mais do que das possíveis vitórias, belas e sagradas páginas de
seu livro pessoal consagrem-nas! E então por que eu haveria de chorá-las? Para
quê, depois de tão inúteis já as ter vertido, pois foram apenas lágrimas!
Por isso cumpre a quem olha profundamente no
espelho da alma que se afaste das imagens cadavéricas de seus fantasmas; e como
às cascas dos limões amargas não basta açúcar, também não serve para nada manter
esses fantasmas com cheiro de mofo. Sorria-se para eles de gratidão, sem mágoa
e não mais se escondam no armário tenebroso, de onde furiosamente poderão nos assaltar
escravizando-nos. Por que então não as transformamos?
Porquanto colares de pérolas para os que
apreciam jóias seja diferente de coroas de espinhos, porquanto jóias custam
dinheiro e ostentam “riqueza”, e os espinhos custam apenas lágrimas revelando
também falta de inteligência em um mercado de altíssimo risco de futuros, onde
não se paga com a inteligência porque seja cara, mas desgraçadamente porque
completamente faltando seja a causa germinal de todas as misérias.
Felizes são os peregrinos do caminho do meio:
entre a direita onde transita o suposto bem e a fartura, e a esquerda onde não
transita, mas exerce forte pressão a treva e a fome porque não produz. Todavia
irmãos gêmeos saídos do tronco universal jogam magistralmente a partida da
evolução, quando estão equilibrados. Mas ao final não haverá vencedor. Porque,
dessa contra-arte, caso houvesse a derrota de uma das partes, o todo que é o
ser integral, seria momentaneamente o perdedor... E isso é impossível.
E por ser este o mistério da criação, nem um
nem outro prevalecerá, senão e tão somente o eixo que aponta o bom caminho do
meio.
E naturalmente também as pérolas ou os espinhos
passam, para no fim nem umas nem outros, senão as estrelas... E também os astros
em infindáveis caminhadas de homens aspirantes, candidatos, novatos e
aprendizes. E raros, muito raros Mestres!
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