ESTÉTICA DO
SIMBOLISMO
Hoje
estou só. Só e não sei se é numa ilha ou arquipélago onde não sei nada de mim, ciente
apenas dessa minha solidão. Mas estranhamente não estou triste. Serenamente ordeno
os mais vivos e coloridos objetos mentais em minha memória, por onde andaram
pessoas; e em sua homenagem coloco ao fundo belas paisagens a fim lhe dar certa
originalidade guardando certa semelhança àquelas, onde foram vivenciados belos episódios,
de cujas cenas às vezes banais e em circunstâncias até inesperadas, porém inesquecíveis,
profundas e de saudosas lembranças.
E é por elas, apenas por essas
belas memórias é que sou profundamente agradecido ter andado por essas vias e
vivido esses momentos com meus amigos e saudosas mulheres, algumas delas de inesquecíveis
lembranças de algo amorosamente presente.
Muitas personagens das quais
nem guardo imagens claras criam ainda uma enorme tela um pouco enfumaçada, revelando
imenso retrato de um tempo, que infelizmente já passou. Todavia permanece ainda
em meu inconsciente saudoso do qual sou tomado por grande sentimento, e me deixo
levar até essas paragens segregando lacrimosos sentimentos internos; mas,
estranhamente já não causam sofrimento.
E até me enleva a um cenário
de estrema beleza quando exercito o mais ingênito sentimento pátrio em nossa
língua, onde a harmonia fonética expressa a filha natural única da alma
lusitana – saudade – que até às longínquas terras levou e ainda leva singular forma
de vida onde fecunda no espaço etéreo e mental dourada estrofe sem par no mundo.
E assim, rude nos rudes,
divina e liricamente ele, o maior de todos os poetas cantou: “Que me quereis perpétuas saudades?”
Para que de tal forma a arte elevada jamais alguém ousasse igualar em verso! E
para que, também, não vá a estranhos palcos ser exibida, por ser tão somente
profunda e apenas saudade!
Bebo-a então eu em longos
tragos, sim, bebo e por estar tão intimamente presente em minha alma, as
lágrimas nela vertidas se convertem em cristais límpidos de um sentir, tal como
em tantos anônimos rostos vá a ornar o ilustre peito lusitano! E pelo mundo
fecunda nobilíssima e natural nostalgia! E onde houver um simples vocábulo
português aí estará presente a conceder a tônica e a revelar do sangue a real
herança de uma raça, cujo nobre sentimento exprime de espírito a beleza de sua
voz em sentimento, na lusitaníssima saudade!
Por isso, embora não estando triste mergulho
na essência da alma lusa só para dele repetir: “Que me quereis perpétuas saudades?” Mas quando já a mágoa passada
e o canto silenciado da outrora: “voz
enrouquecida e não do canto, mas por que venho cantar a gente surda e
endurecida” eu atrevido ora exclamo: que pena que ainda hoje ande de muitas
vistas apartada a tua arte, por estranhas e talvez ensurdecidas almas tão
pequenas! Que pena saudoso cantor! Porém aqueles que às lágrimas vos levaram
enrouquecendo-vos a voz, onde estão agora? Que nomes tiveram? Ah, valeu então a
pena ó, sublime cantor da alma lusitana! Pois que em ti “a alma não é pequena”, tal como dizia outro de alma e de espírito
grande para cantar “o peito e o feito
ilustre lusitano”.
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