segunda-feira, 29 de junho de 2009

MÚSICA E POESIA

Aquele violino

Na solidão da noite quando chega
com pés de seda vagarosamente
e todo o meu espírito se entrega
ao seu macio e mórbido ambiente,

ponho-me a ouvir o som dos violinos
das grandes sinfonias siderais,
autênticos, de marca, genuínos
regidos por maestros virtuais.

Entre eles tenho a estranha sensação
de existir um, à guisa de excepção,
que toca expressamente para mim.

Acabo sempre por reconhecer
qual é a estrela que tocando assim
me quer na sua música envolver!

JOÃO DE CASTRO NUNES

sábado, 27 de junho de 2009

Como um dom

Como um dom

São como a voz dos astros os meus versos
louvando a Deus que entre eles tem morada,
o Criador de quantos universos
fez emergir sem número do nada!

Afino-os pelas grandes sinfonias
dos consagrados músicos de outrora
que me compraz ouvir todos os dias,
especialmente pela noite fora.

Procuro neles imitar o som
que fazem as estrels ao girar
na abóbada celeste, como um dom

que Deus me concedeu não sei porquê,
não me cansando de lhe demonstrar
a minha gratidão... pela mercê!

JOÃO DE CASTRO NUNES

OCULTA DAMA

Disseste-me certa feita, que haverias de me encontrar quando eu estivesse bem acordado, e consciente de que tu vivias...

Mas como não me deste qualquer indicio do lugar aonde vivias, passei a imaginar se não serias uma ilusão, e a tua voz apenas invenção de meus delírios.

Eu era ainda jovem, uns quinze anos, mais ou menos; e a tua voz soava-me gentil e feminina, sempre que fechava os olhos.

E surgia na minha memória, graciosa, na minha imaginação como sendo de alguma secreta namorada.

Tive muitas namoradas, e nem me lembro qual delas seria naquele momento; mas tu, sim; lembro-me bem da tua voz arquetipal, como se gentil e severamente quisesses afastar a todas as outras do meu pensamento, e assinalar um timbre vocal único.

Mas também lembro de que a uma delas, e que eu sei bem quem era, elogiavas repetindo-lhe frases inteiras, como se tivesses dentre todas as outras grande afeição por essa.

Hoje já cansado e de idade madura, ainda não sei quem és; mas aquela de tua preferência que ao longo do tempo pluralizou-se em outras, igualmente de tua simpatia, mas também essas passaram de mim. Não definitivamente, isto não, mas sequer sei por onde andam, ou se vivem, ainda, exceto uma...

Mas tu, afinal, quem és? Alma? Nunca pude saber com certeza se real ou metafísica, se vivias em mim ou algum outro eu oculto falava em teu nome, ou até em nome de algum fantasma.

Ou se mera personagem fictícia que falasse; talvez, quem sabe! Sombra da minha ilusão? Mas ainda vez ou outra escuto a tua voz, já rouca e baixa, sem distinguir muito bem o que dizes.

Vais como eu próprio sumindo no tempo, definhando aos poucos sem que eu saiba ao certo quem sejas.

Infelizmente tudo que nasce – e tu nasceste – certamente igual a tudo mais hás de morrer. Amigos inesquecíveis se foram, amigas tão queridas jamais voltei a ver; nem todos morreram, é verdade que nem todos morreram, mas sumiram por caminhos desconhecidos, tornaram-se ignotos no tempo e desapareceram.

E até tu de quem guardo profundo carinho, mesmo não sabendo quem és somes no silêncio noturno e não mais me acordas como antes, pela manhã, quando levantava sonhando com o teu rosto e ouvindo ainda do dia anterior a voz de uma bela mulher.

É o tempo implacável até com o coração, que em metáfora faz-se um instrumento de amor. Ah tempo cruel, que não perdoas ninguém! Diz-me ao menos quem fala agora baixinho e suave, diz-me quem é essa ninguém!

Se alma fores não podes sucumbir com o tempo, não podes fraquejar como eu! Se alma fores hás de levantar-te para fazer em meu nome as honras da casa.

Eloqüente e em voz clara erguer-te como entidade real, para que venhas a ser eu, quando eu partir!

Mas se tu fores um fantasma charlataneando é bom que te cales para sempre, redimindo-te por todo este tempo em que me usurpaste a atenção, iludindo-me de que poderias ser uma entidade real.

E em circunstâncias especiais até conselheira foste manifestando as tuas preferências... Mas não creio sejas esse fantasma. Todavia sendo alma temo-te enfraquecida e de voz cansada. De qualquer modo, seja lá tu quem fores, segue... E se alma, vive...

Mas se tu fores um fantasma e não morreres transforma-te numa obra de arte, estratificada e pendente de uma árvore milenar de um carvalho pendurada na parede num quadro.

sexta-feira, 26 de junho de 2009

BRASIL ACIMA DE TUDO!

O Brasil beira as raias do espanto, rompe todas as barreira da imoralidade, e o mais grave é que o promotor da lama e da sujeira moral que assola o país tem aprovação cada dia maior.
O que ele diz e faz não tem grande importância, levando em conta a sua absoluta cegueira ética e moral. E por passar, como tudo mais passa, quando mais tardar pelas via da morte, que a meu ver quanto mais cedo viesse menor seria o estrago na alma da nação.

Porém ter a aprovação que dizem ter, mesmo levando em conta a massificante propaganda através de uma rede popular de pequenos jornais e pequenas rádios do interior do país, não justifica esses níveis altos, mesmo considerando a ignorância do povo.

Aliás, umas das armas desse desgoverno tem sido justamente a promoção da ignorância, através da sistemática destruição da escola.

E ainda que eu não seja poeta rima com esmola, essa arrasada escola...

Mas se existe algum mérito nesse desgoverno, seria essa capacidade para gerar escândalos, diariamente, com denúncias das carretas de dinheiro público desviado por seus comparsas e parentes, vindo seu filho estrategicamente sendo mantido fora do noticiário, para assim na calada da noite agir e gerir os bens públicos na sua conta particular.

Pobre país!

Não foi este o sonho dos nossos ancestrais que idealizaram o Quinto Império e o Reino do Espírito Santo!

Embora a desonra e as chagas imputadas à alma nacional, o tempo e a grandeza deste país continental haverão de regenerar. Não só a alma, mas também o corpo, pois o grande Espírito que idealizou o projeto manter-se-á na sua prístina pureza.

E afinal é do Espírito que emanam as raízes. E tanto a alma como o corpo são os seus aspectos humanos, que o tempo ajustará aos valores do Espírito.

Então que os Verdugos, os Judas cumpram seus papéis de finalizadores do ciclo, mas não abusem de suas ganâncias nem agravem por muito tempo a honra da alma nacional!

Que as crianças, a exemplo do adulto inculto, agem por imitação.

Embora, diga-se isto, as nossas crianças parecem já ter vindo vacinadas contra esses porcos.
Sonata a horas mortas

Gemem tristes na noite os violinos
e simultaneamente aos meus ouvidos
suaves chegam lentos, sibilinos,
acordes de piano em sustenidos.

Choram violoncelos noite fora
em música de câmara orquestrada,
dolentemente, até à luz da aurora,
só se calando com a madrugada.

Vibram as liras com um som plangente
nas mãos de Orfeu as feras amansando
e as pedras dos caminhos comovendo.

Soam dentro de mim, na minha mente,
nostálgicas sonatas... desde quando
me estou a preparar para ir morrendo!

JOÃO DE CASTRO NUNES

quinta-feira, 25 de junho de 2009

Como um estigma

Tenho o sagrado dom da Poesia
que Deus me deu, não sei por que razão,
o dom de transformar em harmonia
as pulsações banais do coração.

Talvez não seja mais que fantasia
ou mesmo descabida presunção,
não longe das fronteiras da ousadia,
esta maneira minha de expressão.

O certo é que meus versos naturais,
fluentes, espontâneos, musicais,
brotam de mim como água cristalina,

o que me faz supor ou constatar
que só por mera interveção divina
pode esta circunstância haver lugar!

JOÃO DE CASTRO NUNES
MÚSICA E POESIA

Modernidade e tradição

Versos de manifesta qualidade,
melódicos, bem feitoa, não forçados,
outra coisa não há que mais me agrade
nos meus poemas... personalizados.

Com a sua matriz na antiguidade,
não quer dizer, por muito elaborados,
que não cultivem a modernidade
nos temas e propósitos visados.

Sob os modelos gregos e romanos,
não se me dá que, embora originais,
os denominem de parnasianos.

Importa é que na sua sinfonia
de frases e cadências musicais
se note que são mesmo... Poesia!

JOÃO DE CASTRO NUNES

quarta-feira, 24 de junho de 2009

Livro de Deus

Onde está Deus?
Quem é? Ou o que é Deus?

E tu homem, quem és?

Sabes, já, que a vida e a ciência te ensinaram, que as formas,
todas as formas são passageiras; inclusive o Universo.

Sabes, também, ou fazes ideia do tamanho do mundo, devido a tua mente luciferina razoavelmente pensante.

E por trás deste mundo, deves já disso saber, em perfeita harmonia espécies ordenadas se desenvolvem, crescem e morrem sob a regência e modelo de uma inteligência em forma de Lei...

Digamos então que seja Deus, como Ideia - essa Lei que rege os ciclos, onde as formas crescem obedecendo a um código e morrem segundo esse mesmo código.

Há então a morte!

Sim, há morte e a morte é a única certeza entre ela e a vida. E no caso, a vida é mera uma hipótese.

Muito mais de mera uma hipótese só bilhões de hipóteses, de acordo com cada pessoa que viva.

Mas se Deus criou o homem à sua imagem e semelhança, de acordo com a crença geral... Verdade ou não, mas digamos que sim.

Então Deus dentro do homem, (todo mundo diz que Deus está dentro), e então não será mais que uma idéia!

E então? Deus homem? Deus homem, tu serás no máximo o Deus que fizeres dessa ideia Dele dentro de ti! Nada, absolutamente mais nada além disso...

Seja em nome do Cristo, seja em nome de Lúcifer...

(E como diz o pastor de sua cabra ou ovelha: não há mé nem meio mé, hás de dar o leite pro café). Já o pastor de homens “Santo Deus”! Tomou o leite, comeu o pão e a carne; e depois de já ter consumido quase tudo, ao que restou vivo e não pôde carregar tosquiou a rês e levou a lã.

Bem, este é, talvez, o menor livro do mundo; e tem um nome bem pomposo: (Livro de Deus)
Nasceu prematuro. É o que dizem. E teria vindo ao mundo pela via do aborto psíquico, do que seria uma história divina narrada por um anjo aos filhos da terra, com a marca de Lúcifer, na testa...

Porque não fora totalmente possível ao homem herdar o sangue real lá nos primórdios da "Queda"... trazem a marca na testa... É o que dizem. E quem diz isso? Não sei. Mas eu ouvi. Mas também não sei de quem ouvi. Talvez do vento.

domingo, 21 de junho de 2009

Trilogia do Eu...

Agora o peso aumenta.

O bom peso da responsabilidade.

Mas tenho a companhia da “cavalaria armada”, da consagração da arte, da amizade e do carinho sincero que vem crescendo ao longo do tempo ao vivo e virtual, mas não menos real.

Tenho a companhia de quem gostaria de ter, caminhando comigo, trocando idéias enquanto aprendo com cada palavra, com cada manifestação o que for possível aprender.

Ensinar nem é tanta a pretensão, mas sempre, por ser absolutamente diferente uma pessoa da outra, alguma coisa original expressa e ensina.

Entretanto Prosa é o que escrevo, por não ser Poeta, embora de atrevido, só de atrevido já tenha escrito algumas poesias.

Mas quando nos defrontamos com um Mestre, em Poesia... Compreendemos melhor a razão que teria levado Platão a queimar as suas poesias quando conheceu Sócrates.

Mas ainda não será desta vez, nesta encarnação, pois eu creio na reencarnação, que morrerei órfão... Pois nesta definitivamente eu já encontrei algumas das “artes” e dons de espírito, que Platão e outros Iluminados recomendavam como os bens da Terra dignos da conquista: Amor, Amizade, Busca do Saber, Agir e Fazer... E no ato de encontrar semelhantes tesouros, realizar e consagrar a “Daemonia” e ser Feliz.

É isso que impera e se leva desta vida breve, que num sopro do vento passa e quem passa... só deixa para trás seus amores e a saudade.

E para além de qualquer forma retórica, prosa doce ou dura, o que perdura é mesmo o feito quando feito com amor e consagração ao “Bem Bom e Belo” encerrados nos Eu.

sexta-feira, 19 de junho de 2009

Escadas para o Nada

Descendo ou subindo degraus ou estados pouca escolha há.
Tanto em relação a ir quanto ao estado de ficar onde não é um lugar, nem condição
Mental de ser ou não qualquer coisa.

Ouvindo um blues com Elvis, até que há uma ideia distante, no tempo.
Passado, naturalmente memória fragmentada, sem já cor nem perfume.
Embora remota uma maciez de seda, do vestido macio, da moça girando e eu em seu torno girando também.

Como giraria hoje, se nem chão, tempo nem espaço ou consciência real de onde esteja, eu tenho?

Mas estou presente nalgum lapso de memória, de algo em mim mesmo.
Assim, ao passar o ar por mim e arder um pouco nas minhas narinas.

Mas nesta ardência vem certa convicção de estar vivo. E saber que arde também revela pensamento, e então eu penso. Mas não como o francês disse, “logo existo”, que existir pode ser sem pensar, que é quase o meu caso.

Enfim, quem pensou estar lendo um texto revelador descobrirá que se trata de um texto velador...

Vela apenas por não ser nada, e não por esconder. Para esconder teria de ser algo e parecer outro, mas o quê?

Como tudo, na vida, o melhor a não ser nada, que terá a mesma medida do tudo, que no fim acaba.

E se acaba, já não é coisa alguma tudo.

Rebeldia Celeste

Correndo como vão os dias, cada vez mais depressa passando o tempo, o que se vai de fato a construir?

Na medida maior e no conceito de Maia diz a regra que tudo passa, e deixa de ser!

Porém, enquanto não passam o mundo sem essas coisas ficaria vazio, sem cor e muito triste...

Apesar também da arte passar, enquanto não passa alguém se encanta, ou até desencanta diante dela, se a arte já estiver feita e exposta!

E assim, quem olhar, ouvir, ler ou apenas sentir terá inevitavelmente emoções e pensamentos!

E nisto, só nisto se fundamenta e vale a pena, a arte.

E é verdade, como ensinam os mestres, que ninguém a ninguém revelará o seu eu, nem um grande mestre, grande guru, nem mesmo Deus!

E se tiver o Eu de ser revelado e se cumpre viver só para isso, terá então cada um de a si mesmo o revelar... e não dizem que esse eu é Deus?

E aí quem já tiver medida e eixo da ciência do bem e do mal
estará livre, desde que jamais agredida a vida “nos três mundos”!

E a partir de então, livre não mais precisará render-se a ninguém, nem deixar tutelar-se por nenhum Anjo, Arcanjo, Santo nem Rei.

Mas reverenciará a tudo e a todos, respeitando o tempo de cada um e a sua expressão no mundo.

Já um cavaleiro poderá até por camadas mais densas ou mais leves cavalgar, livre, poderá, sim, mas servirá um Rei em honra de sua Dama.

Em condições muito especiais, será portador de um cálice. E de uma espada.
E quando de uma espada precisar e já não a tiver, tire-a de sua coluna vertebral, que é esta a sua verdadeira espada e lei...

Mas quando se instala a dúvida entre o cá e o lá... Haverá Rebeldia Celeste.
E provocará grandes tremores! E aí Grandes, Tutores, Doutores, Sábios não mais obrigam ao acometido de Rebeldia Celeste a nada...
E no fragor de Rebeldia adeus castelos, instituições, templos, sacrários, santuários e sagradas fontes.
O horizonte é agora só uma referência: e de repente nada mais haverá a perder nem a ganhar.

A Rebeldia Celeste ocorre quando não mais houver o que se perca, nem o que se ganhe. Mas é preciso manter a vigilância, para não se perder a si mesmo!