quinta-feira, 31 de maio de 2012

Texto Para Teatro



Dialogo com a plateia

E então, cada um de vocês, tem conferido a qualidade do SOL, que a HELIOBRAS tem fornecido e diariamente vende?
E da OXIGENOBRAS o AR, tem sido suficiente também para a noite toda? Tem sustentado o fôlego durante o dia e à noite?
Já no dia de hoje tirou cada um a sua garrafa do córrego, as rodas da carroça velha, a cama quebrada, o berço destruído, a fralda usada, a panela de ferro quebrada, o pneu velho, e acolá boiando, aquele cachorro morto?
Já a ELETROBRAS cortou a energia por não ter sido paga em dia?
Já à televisão ofereceu a oração e você riu ou chorou,
enquanto mentiam dizendo que é sim o não?   
Já a deus pagou com juros a divida atrasada pela licença de aqui andar?
Já adiantou o dizimo para depois da morte no céu entrar em triunfo?
Já fez o seu curso de anjo para derrotar e prender seu demônio cruel?
Também já bebeu cada um a sua cota de amargura ou o seu favo de mel,
Saciou a sua cota de sede, com a sua ração de água, com a sua medida de ar, com o seu pedaço de carne, sua côdea de pão?
E a cota de cerveja, de fumo, de feijão, de pensamento, a sua garrafa de emoção?
Ah, é claro a cota da cota que lhe cabe e pode comprar!
Se já acertou as suas cotas todas, muito cuidado ainda!
Acautele-se com os agentes que andam a vendê-las e com pressão e chantagens vem de todas as formas à sua porta e até pela televisão oferecê-las!
Acautele-se com esses vendedores bons ventríloquos!
E aproveite, enquanto de graça puder respirar!
Mas não tema! A vida real que pela via nasal se vai bebendo, e só essa vale a pena celebrar, é de graça, tendo vindo desde o início assim e ninguém a tira nem a dá a ninguém.
Embora haja quem jure de pés juntos que é o seu autor e diga que a fornece principalmente aos pobres, e passa mesmo por cima deles feito um trator quando contrariado, subtraindo-a de uma só vez com violência num golpe fatal, ou aos poucos com promessas mentirosas, ou bênçãos divinais e eternidades...
E há quem prometa até esticá-la, para depois da morte!
Mas enquanto há vida nessa interação vale um fundamento coletivo entre as pessoas:
Quem na hora difícil não estenda a sua mão amiga durante a vida, depois da morte não é preciso que ninguém nos toque, nem mostre o caminho.
Daremos conta de ir sozinhos! E nem haverá tempo de convidar ninguém! Portanto aspire cada um a sua cota de vida com a dignidade de ser único e absoluto senhor dela, e no outro respeite a sua individual parcela.

Enigma das Portas


ENIGMA DAS PORTAS

Fecharam-se todas as portas da terra uma após a outra, até todas completamente cerradas furtarem os ânimos com que se poderiam abrir as do céu. E eu, encerrado neste arcaico pote, o que farei?
           
Envelhecido, nem o tempo confere já um tom artístico, que até uma velha lata amassada possui como estética de lata velha amassada. E eu? Nem isso!
           
Absolutamente decaído, sou o rei deste meu reino passageiro de portas fechadas. Não abri as metafísicas do entendimento em tempo hábil, fiquei preso dentro de mim. Por isso este complexo ser, por não saber como “descomplexar” o corpo corruptível, este o leva à morte. E sem ter para onde ir, por não ter sequer aberto janelas para além daqui, queda-se estático no espaço reduzido de um órgão!
           
E então de portas e janelas fechadas, não há como ir aos floridos campos da imaginação, para aí reencontrar enlevos de saber e de esperança, quanto a desvendar o enigma da vida.

E assim continuo alheio sem saber nada dessa estranha onda que anima corpos, pensamentos, árvores, insetos e até as pedras, além da consciência instintiva dos farrapos pendurados no cordão das coisas, dos livros e das vistas, por onde já nem descem lágrimas de ignorância.

Mas, vê-se ainda como único prêmio um quadro pendurado na parede, cuja moldura de cedro enrolada com um cipó de jasmim sugerindo o seu perfume abstrato, único refrigério de espírito e a suprema arte de um cipó, que lembra perfume, a única parte, talvez, de uma cena onde posso imaginar esperança.

Ainda assim, apesar de todas as portas fechadas da terra e sem ainda ter aberto as do céu creio na suprema beleza abstrata do espírito, em tudo que possa imaginar meu.

E naturalmente também por ter-me intuído e gravado eu pessoalmente a minha marca, enquanto executor de mim mesmo.

Por isso, não há mágoa porque seja eu, eu, cujo destino ao meu carma pessoalmente teci-o, não obstante não acreditar em sina.

E é assim que eu sigo em frente tecendo-o! E descrendo e crendo hei de ser eu, pois de fato sou realmente eu e sem poder ser outro, sou apenas órgão, sou apenas algo dentro desse órgão debatendo-se para ir além.

De modo que, congênito ou carmático não creio ser totalmente responsável pelo que fiz ou deixei de fazer, resultando no fechamento das portas de ninguém. E reparto a culpa, se a houver, com outros eus em mim arcaicos e só.

Também não me importa saber se alguém se interessa por portas fechadas ou abertas. Digo apenas que semelhantes portas para além de metáforas servem na vida como reais sentidos, a serviço das faculdades sensíveis e cognitivas.
E ao longo do tempo edificando a consciência vão engajadas dentro da personalidade, tendo já adquirido uma carcaça ou pote perecível e descartável.

Mas, em verdade este enredo tem também como meta abrir as portas do céu, subjetivas, naturalmente, sem que se as possa denominar psicológicas no sentido clássico do termo, embora físicas elas realmente não sejam; tanto aquelas hipotéticas e as de madeira, quanto as de ferro forjadas a fogo.

Abstratas ou metafísicas é a melhor expressão para aquilo que realmente definem como universalização da consciência, enquanto portas canônicas... (de qualquer forma... portas)
           
É mais ou menos isto o que representa a parábola portas abertas ou fechadas da terra, portas abertas ou fechadas do céu.

Estando muito claro para quem as abriu ou pretenda abrir, que para isto muito pouco conta a fé.

O método clássico de abri-las tem como primeiro passo a audição, seguida muito de perto do silêncio; e, coroando de êxito todo o processo a atenção, antes de se entrar ou sair por uma porta. Este primeiro exercício visa fortalecer a vontade e com ela fortalecida aumentar a sensibilidade, e eis as verdadeiras chaves que se encaixam nas fechaduras das portas...

Daí em diante há de se buscar o método pessoal, pois não sei exatamente o quê nem como será o retrato da alma; porquanto, também saiba, ninguém tem competência para dar-lhe conteúdo; julgá-la, então, humanamente impossível!

Mas é a alma para mim, no momento, apenas uma página transitória de história a passar na minha frente, não sendo totalmente eu. Talvez mero retrato instantâneo de um ser tão complexo, que a maior tragédia está em não haver ontens. Porém tragicamente triste, é ver ruir o mundo, tão sólido!
           
Desabar estupidamente sem esperança de amanhã, só porque os ontens foram trágicos e também os hojes ainda os são! Infelizmente, o horizonte já não sorri para que aos seus dentes de marfim vejamos brancos, branquíssimos.

quarta-feira, 30 de maio de 2012

UMA OUTRA PORTA




            Existe sempre uma porta aberta, para compensar aquela que se fechou. Pena é que raramente seja vista, ainda que muito larga, tremendamente alta, e eleve a grande altitude ou desça a grande profundidade.
            Dolorosas penas que por serem penas não deveriam pesar pesam, contraindo e enfiando nossa cabeça ombros adentro, enfraquecendo o nosso pequeno ser sustentado numa coluna “vertebrada”.
            E esse peso que afunda a nossa cabeça pressiona também os nossos olhos, fechando-os; e nós, já antes meio cegos, aí é que não vemos mais nada!
Conquanto magnífica porta aberta fruto de todas as que se fecharam, há de congregar as virtudes e os talentos adquiridos no ato de fechar e abrir, o que tenha animado ao entrar ou sair, criando luz própria e iluminando o caminho, pouco importa se apenas o clarão do vão da porta aberta ilumine.
Pena é todos não verem essa bela e magnífica porta! E às vezes só por medo de olhar lá fora cerrem os olhos a chorar penas, enfiando a cabeça quando não no peito, em qualquer buraco da terra, imitando o avestruz, ainda que muitos insistam na mentira de olhar dentro!
Há quem diga de quem nessa porta especial entrou, por ela nunca ter saído. Mas não é verdade. Afinal, quem revelou as suas virtudes não poderia ser outro se não aquele que por ela entrou e saiu maravilhado!
Mas existe mérito no fato de muitos duvidarem de suas virtudes. E assim é que se criam mitos negativos, demônios assustadores e se desenvolve o sentido instintivo de autodefesa, fugindo de medo.
Também esse medo cria o instinto de defendê-la pela fé, outros há que morrendo de pavor lançam sobre ela mentiras, atribuem-lhe crimes e cobrem de injúrias.
Todavia, e isto é uma pena, são esses que a carregam às costas, arrastando-a, em vez de nela entrarem sem temor, e de olhos abertos descobrirem o que há dentro ou além dela para ser visto.





segunda-feira, 28 de maio de 2012

Origem do Pensamento.



A passagem meteórica de uma vida aqui no chão, só dá tempo de abrir os olhos e fechá-los.
Porém muitas abridelas e fechadas de olhos nos esperam pela frente.
Nosso dever, então, quando nos cabe voltar ao chão é cuidar de mantê-los abertos até o momento de os fecharmos novamente.

Cuidemos assim de nos momentos de arroubos de grandeza não se viver no Akasha, como outrora se vivia no céu, quando o céu era céu e até lá ainda não podíamos nem sabíamos como subir.

Hoje, quando já nele andamos e conhecemos melhor o seu tamanho – infinito - e no finito bilhões incontáveis de galáxias avistamos, não subamos acima desse e no Akasha, que é algo como o céu do céu, de lá caiamos novamente!   

Conquanto se modestos caminhemos entre as quatro laterais, entre os quatro pontos cardeais
em quatro corpos, que já está de muito bom tamanho, pois supostamente nós e de fato somos os quintos, quando ainda mal sabemos de onde viemos, e nem imaginamos como o nosso divino alquimista tão bem faz, o que faz na direção de nosso órgão!

Ensimesmei-me ainda há pouco sobre o tema de a dialética da preguiça... e eu sou preguiçoso...
E o que seria de mim se por um minuto tivesse de assumir a direção do meu sistema involuntário, do meu divino alquimista! Apenas por um segundo poderia ser fatal, que dirá num minuto! (Muito provavelmente no mínimo o que sai ficaria e o que fica sairia!)

Mas o Eterno agindo mesmo quando limitado ao Avatara e à prisão carnal submetido, nunca se contrafiz! Por isso o Brasil se revela pela cabeça da serpente, saída de ninho do qual nos falava certa feita um personagem, hoje apenas réu do mensalão e chefe da quadrilha tal consta nos autos
a denúncia feita pelo Ministério Público Federal.

Já o ex, prisioneiro de um corpo combalido, refém da uma férrea prisão da ignorância e sem um mínimo  entendimento do que sejam os valores básicos da civilização...

E nem as pedras do Roncador não sabem se riem ou se choram, ante a dúvida se um ex pode peitar os três poderes, como tentou e tentará sempre quando embriagado andar, como diariamente acontece.

Claro que a flor da vida está protegida até de gigantes planetários, que dirá de alguém saído dos confins mais remotas da inteligência, da espécie humana!

“O ruim por si se destrói”, mas está tão ruim o fosso político que muitos ruins juntos mantêm o ruim na tumba, animado pelo oxigênio federal.

E enquanto isso ainda o reino das trevas se alimenta e domina o país... dos Pedros Cavaleiros, dos Pedros Honrados, Juscelino, Getulio... Vieira, Camões, “e outros em quem poder não teve a morte”-  Henrique - José de Souza – cujo cantar mavioso revela o salto infinitamente para além deste ora gueto infecto, num imundo cenário político petista da silva brasileiro.  

sábado, 26 de maio de 2012

HOMENAGEM AO MESTRE


HOMENAGEM AO MESTRE

Minha primeira indagação tão logo acorde é perguntar-me, quem sou eu? E nesse momento peno todas as culpas psíquicas, sofro o desconforto e a desconfiança emocional e me recrimino, caso no dia anterior tenha seguido pelos desvios do caminho burlando a regra que determina o rumo de ir a mim pelo nobre caminho do meio.

É verdade que não é esse rumo muito claro, nem a linha divisória que separa uns de outros caminhos perfeitamente definida, nem os possíveis desvios assinalam com exatidão a trilha correta entre o certo e o errado, mas como é um centro e do centro é sempre possível extrair um eixo, vale!

E então ante a precariedade cognitiva e a fragilidade sentimental de mero ser humano dou de ombros, e no ato seguinte me auto-absolvo, certo de que vou a fazer o que é possível em “vigilância dos sentidos”.

E é assim e à minha maneira que eu continuo buscando o meu pessoal ar, a minha oculta cor, - que ninguém vê as cores como eu vejo - o meu inconfundível e agradabilíssimo paladar, o meu perfume singular, o aperto do calo se desconfortável sapato calçar... E o quase de agora, que ainda não sei o que seria totalmente supremo e único, o meu pessoal amor.

Mas sendo este meu andar a única fórmula de seguir redescobrindo-me, num ato voluntário respiro fundo a cada manhã ao levantar-me, e aí descubro estar vivo pela ardência nos pulmões, provavelmente pelos longos anos em que fui, mas hoje sou um ex fumante.

Sorrio então levemente, como convém a um sorrir contido, e penso com os meus botões: como são ingênuos aqueles que me vendo sorrir alegremente pensarem não haver mais espinhos, em meu caminho! Vendavais não, esses não!

E mesmo quando os houvera foram tão passageiros, que num breve piscar de olhos desapareceram; e por ser tudo passageiro, realmente tudo desaparece na impermanencia das formas onde há homens, onde há normas, onde há animais...

Sim, onde há fêmeas, machos e encontros braçais, onde há ondas invisíveis e lascivas levantadas, inevitáveis passagens de um estado ponderado a outro imponderado e funerais... Éticos, certamente morais e o de corpos também!

E como há ainda homens até abaixo de onde há animais... Seguirei este meu pessoal caminho até esgotar o meu ente funeral, que é físico, e porque também sei, o meu não sei é metafísico!

quinta-feira, 24 de maio de 2012

Livro de Deus


!

Onde está afinal, Deus? Sua esfera é o espaço Infinito e o tempo Eterno. E quem é afinal, Deus? O que fecunda, e depois de fecundar preenche o vazio Absoluto.
E o que vem a ser realmente a sua natureza como criador de todas as coisas? Criador. Mas tu, homem, quem és?
Já sabes, a vida e a ciência te ensinaram que todas as formas são passageiras e mortais; inclusive os Universos!
Sabes, também, devido a tua mente (serpentina e adâmica) que por trás, dentro, fora ou dentro os infinitos: tempo espaço.
E neste outro espaço/tempo relativos, dentro ou fora em perfeita harmonia espécies ordenadas se desenvolvem, crescem e morrem sob a regência e modelo dessa inteligência em forma de Lei Universal.
Digamos então que seja Deus, como ideia - essa Lei que rege os ciclos, onde as formas crescem obedecendo a um código, e morrem ao vencer o prazo desse mesmo código.
Portanto, há morte!  Sim, há morte como transformação das formas e é a única certeza que tens é a morte depois da vida. E no caso, a vida, é mera uma hipótese!
Bem, muito mais de uma hipótese somos bilhões de hipóteses, em cada pessoa que nasça viva e morra sobre a terra, juntamente com todas as espécies.
Mas se Deus criou o homem à sua imagem e semelhança, como rezam as crenças... verdade ou não, mas digamos que sim, e então Deus dentro do homem, (todos dizem que Deus está dentro), será dentro desse homem mais que uma ideia? Não, não poderá ser mais que uma ideia!
E então! Caro Deus homem? Lembra-te de que tu ainda és muito pequeno para chegares a homem Deus além carne, que se desfaz em lapsos de tempo! E sabes também que não poderás ser divino em nada além do que divino fizeres dessa idéia dentro de ti! Nada além do que fizeres dessa ideia dele dentro de ti serás divino.
Seja em nome do Cristo, Buda, Maomé, seja em nome até de Lúcifer...
Mas enquanto isso, além de metafísicas e filosofias, na pequena aldeia um desses embriões divinos cuja ideia divina vai ao interior do humilde pastor de cabras ou de ovelhas, sim este humilde pastor de cabras e de ovelhas será mesmo um pastor verdadeiro! Tendo acreditado, porém no pastor de homens e este, “Santo Deus”! Esse redutor divino a uma quimera ao alcance depois da vida durante a morte, tomar-lhe-á o leite, comer-lhe-á o pão e a carne e todas as economias; e depois de tudo consumado e consumido à rês que restasse viva e não pudesse carregar, é capaz de tosquiá-la e a lã levará! É bem capaz, esse lobo com pele de cordeiro! 
Bem, este é talvez o menor livro do mundo! E tem um nome assim bem pomposo: (Livro de Deus) Nasceu prematuro, parece, e é o que eu penso devido à ideia imprecisa à luz da razão do Tempo Infinito e Espaço Absoluto como seu Corpo, não obstante a sua ideia germinal no âmago de cada humano. Devido já poder esse ser deduzir a vida una, embora em frações de indivíduos pensantes que já sabem trazer em corpo temporário os três reinos anteriores como estrutura física, cuja ideia divina poderá ir e voltar quantas vezes forem necessárias até que a ideia se torne luz, ao longo de bilhões de anos à frente. Por isso teria este livro vindo ao mundo pela via do aborto psíquico, do que deveria ser uma história divina e recitada por um Arcanjo aos filhos da Terra, com a marca do arcanjo “Gabriel” na testa...
É o que dizem. - E quem o diz? Alguém pergunta mesmo do silêncio: - Não sei! Eu respondo. - Mas que eu ouvi, ouvi! Como não sei de quem o ouvi, poderia ter sido dito até do vento!
Mas, como disse o Padre Vieira:
"Para falar ao vento, bastam palavras; para falar ao coração, são necessárias obras." 

terça-feira, 22 de maio de 2012

POBREZA




Porque não saibamos o que é riqueza de espírito, a pobreza é a única que temos em concreto. Existem em abstrato inúmeras formas de fortuna, conquanto em espécie, palpáveis, nenhuma que dure para sempre.
Tudo quanto exista e seja possível tocar e aos nossos olhos impressione a forma que tem, não é nada; inclusive nós, inclusive tudo. 
Juntamente com todas as coisas somos objetos da sombra a impedir o sol e nem existimos, apenas refletimos a luz. Mas também o sol é finito e sombra (luminosa) em nosso espaço, e também relativa deixará de existir um dia. 
Diante desta impermanencia o que é real? E quem conhece realmente o que é verdadeiro? Alguém a alguma coisa eterna já viu a cor, sentiu o sabor, o cheiro – alguma forma ou mesmo ideia precisa e permanente?
Teria sido esta suprema indagação a que levara o antigo Grego a buscar o ser metafísico, expresso na idéia do eu? 
Não só naquele tempo na Grécia, mas hoje continua a sua busca em todo o mundo por muitas pessoas sérias, muito sérias, há de se dizer, e algumas muito raras através da fé; ainda outras pela necessidade fazem descobertas profundas de caráter místico, algumas através da ciência, quando esbarram nas causas inexplicáveis.
De modo que a busca da verdade resulta na questão do indecifrável espírito, deveras fonte de toda a riqueza.
E sabe então quem o busca o que é riqueza de espírito e descobrirá o que é pobreza da alma e do corpo. Ainda que seja uma ideia relativa, pois não se pode pensar haver qualquer saber derradeiro na esfera do pensamento humano.

domingo, 20 de maio de 2012

Reta Palavra


PALAVRA RETA

     Ao trovão ainda não ouço. Mas ao longe relâmpagos furtam ao céu por breves instantes, as trevas. 
     É noite e ainda não ouço os trovões. E ao longe, os raios ferozes serpenteiam nas trevas; e é só isto o que quero dizer: à noite, este momento é brevemente iluminado, porque está encoberto o céu e não há estrelas nem luar.
     Mas já agora os trovões roubam ao silêncio o silêncio e troam num concerto de luz e som ao mesmo tempo em que os coriscos roubam ao escuro o escuro, iluminando breve o céu, que agora está aos roncos. 

sexta-feira, 18 de maio de 2012

Prosseguindo...


SAUDADE II

                                                        
Aos saltos e sobressaltos tropeçando nas pedras do caminho, cheguei até estes meus anos de vida, perplexo. Observando as pessoas que passam por mim a distribuir alegria e doses generosas de civilização, reconhecei a minha absoluta insignificância, a minha falta de civilização e completa pobreza de bens, ante as riquezas gritantes ao pescoço de ouro e nas orelhas de diamante desses que passam exibindo seus reais signos de alegria.
E ao analisar a tão festejada felicidade dessas pessoas, pude medir meu senso social. E já completamente desanimado medi a distância que nos separa.
         E o mais grave é que além da distância também o meu nível é muito inferior ao dessas pessoas felizes! E em não havendo mais espaço para descer e absolutamente desconheça o destino para onde vá, me resta apenas subir.
         E eu subo de fato desta tragédia alguns degraus de humildade. Sim, humildade como a única coisa possível de extrair desta condição deplorável, para subir acima deste desassossego e viscerais atropelos de órgãos, decrepitude física, e já agora na mais grave pobreza e falta de alegria.
E é assim que essas pessoas logram vencer mais uma contenda que silenciosamente mantiveram comigo, e sem que eu desejasse pelejar tornaram péssimo o que já era muito ruim; e ainda se riem, conquanto seja temerário fazê-lo, devido á falta de higiene bucal, criando a aparência estética verossimilhante às hienas.
Mas nem precisa grande imaginação, um pouco dela e esses vencedores enxergar-se-ão bichinhos domésticos, desde que dispostos a olhar no espelho com os olhos abertos.
Mas como não vêem nem as próprias facetas das mazelas psíquicas, então riem muito! E até às vezes comemoram vitórias em partidas muito disputadas entre si! Depois saem às ruas cantando, festivas ou vão pela noite adentro em restaurantes elegantes com os amigos a distribuir amostras grátis de civilização e alegria, brindando com caros vinhos suas pobrezas estéticas, e até mesmo desfilando seus carrões importados com o “bem” nacional. E às vezes até aviões supersônicos e antiéticos! Isto sempre depois de um jogo qualquer, ou até mesmo após um mero estalo mental, espirro intelectual que tenham tido e um cifrão monumental.   
         Mas diante destas cenas, humildemente cada vez com menos dúvidas prossigo minha estrada peregrina em busca do desconhecido. Claro que fugindo deste conhecido e recalcado viciado giro circular, como foge o diabo da cruz!
       Pois eu tenho por leme e elo a eterna musa lusa e companheira palavra, nesta nossa nobre língua maviosa. E embora dela eu seja um rude amante, do alto de sua nobreza pacificamente eu e ela vamos juntos edificando o que julgo seja um embrionário termo crítico honesto.
         Pequeno, muito pequeno, mas porque o acalente com respeito e bom coração, representa alguma forma de verdade latente na mente coletiva.
         Talvez na minha prosa até germens de conceitos simples de justiça universal fraterna e bem querer contenha, talvez, ou alguma sombra conhecida por vários nomes: mas que muito bem lhe ficaria o nome consciência, ah esse nome lhe ficaria muito bem, lá isso ficaria! Ou até talvez uma sombra de espiritualidade, civilidade, enfim um relato existencial em que reine a paz, o amor e o embrião latente de um saber permanente e semelhante à fonte que o ensinou, que não distingue cor, sabor nem credo. 

quinta-feira, 17 de maio de 2012

Neste dia se elevando no horizonte de sol meio escondido...


             SAUDADE III

         Um embrião bendito poderá ser um elo frágil da real fraternidade que meio intuitivamente agasalho em meu coração; não a fraternidade do conceito político que os senhores e senhoras dessa estirpe repetem e alardeiam sem ao menos saberem realmente o que seja a raiz, a essência e o real significado da verdadeira fraternidade.
        Não, eles desconhecem esse nobre sentimento que serve de elo permanente entre a vida de todas as espécies em movimento senciente.
         E assim, diante deste quadro do mundo passei humilhado por todas as provas das mais diversas naturezas, das quais saí sempre mais pobre de bens materiais. Mas estranhamente uma leveza de alma e um sorriso sincero de espírito sobrevieram-me numa meritória compensação, enriquecendo-me de experiência e simplicidade.
       E mais consciente, sinto-me agora um pouco melhor e mais leve. Mas não se pode negar que o mundo está na exata medida de cada um que aqui se encontre na condição de herdeiro de hoje, de ontem, de mim e de todos.
       Tamanha é a exatidão de como é construído a cada instante por cada um de nós, que o mais feliz resultado é não repercutir por muito tempo dos hipócritas e ignorantes as suas palavras de salvamento coletivo, pois a humanidade resiste a todos esses ataques e segue em frente, alheia aos seus salvadores e modas passageiras.
        Sim, esses que anunciam em tom muito alto aos berros esmurrando as mesas afirmando levianamente que com atos e medidas pessoais de super-homens tornarão possível mudar o mundo com regras e conceitos sectários, não passam de simulacros políticos e religiosos, e são deveras e sem surpresas os de sempre anões. Apenas anões éticos e morais que gritam e agridem o silêncio!
         E então eu sigo humilhado, sim, mas jamais segundo o conceito humano da derrota derrotado pelo mundo. Embora algumas pessoas de uma ou de outra categoria venham a infringir-me desassossegos, mas apenas por não conseguirem ver além da esquina às suas próprias marcas, é que tentam imprimir-me um rótulo.
        Entretanto, não cola: tanto na minha alma que se refugia no anonimato, quanto ao meu corpo mal vestido e despojado de vaidades, que ninguém o nota. E só eventualmente me levam a um estágio alterado da razão as cretinices, pois a burrice muito me aflige! Mas ainda bem que rapidamente passa. 
Humilhado sim, porque o conjunto constituído de corpo, alma e espírito que encerra o homem universal sofra as interferências e certamente prejudicam a pescadora cognição, mas não causam grandes distorções que firam o beneficiário espírito, nem sequer à língua materna em mim alteram, enquanto modestamente eu pensar por ela.
Apenas lamento, além da humilhação e das frustrações o tempo perdido! E que fique muito claro: segundo o meu entendimento, além do tempo perdido nada poderá atingir o meu espírito... E reafirmo: o máximo que o homem e o mundo podem lesar ao espírito humano é roubar-lhe tempo; e é só o que poderiam roubar-me!       
Destrinchando minha identidade diria então que sou um ser cuja alma queixosa derrama negativos fluídos no corpo, furtando tempo e oportunidades ao espírito. E isso pode retardar em alguns milhares de séculos o esperado encontro da alma com ele. Por isso no fim será a alma a única vítima que, tal peregrina entristecida dá um tempo no seu romance, mas não definitivamente será desenlaçada.
        Este desencontro lesa a alma, sim, não obstante a simplicidade das minhas palavras humildes com as quais eu digo, mas são aquelas que sei usar da árvore pátria mãe generosa e bela. Porém, ainda que estes desencontros retardem o encontro da alma com o espírito, não causa grave transtorno ao Plano Universal do Supremo Arquiteto!
         Supremo Arquiteto? Sim, e na língua lusa este belo termo designa o comandante deste plano que leva avante e a outros sistemas as Mônadas Eleitas, alçadas a essa condição pelos próprios esforços, como pescadoras de si mesmas.
         Herdeiras especiais de Paraísos? Depois da curta vida e durante a morte? Não! Isso não passa de lenda, crença e só a mais ingênua criatura pode sonhar, porque não compreenda o que seja realmente universal, embora dentro de uma “ostra cósmica” viva.
         Naturalmente por serem as lendas absolutamente sedutoras, simplórias e não envolverem grandes questões mentais, nem pesquisa científica.
         Basta cegamente acreditar. Ainda que atrás dessas crenças e lendas se escondam espertos oportunistas, insaciáveis por dinheiro!
          Diante do quadro do mundo e do meu, resta-me uma profunda saudade de coisas longínquas, imprecisas, fragmentadas, mas muito saborosas ao meu paladar mental e psíquico saboreado em lusa língua com sabor de saudade.
          E mesmo que me saibam às vezes estranhas e até amarguem por haver também arruinado a minha memória e não lembre termos completos nem períodos inteiros, valem.
         Tenho então o inconsciente generoso que me traz ao nível da emoção estes saudosos momentos longínquos, que mais os sinto que os sei. Nisto a saudosa memória é bela! E embora às vezes trágica, é, contudo sempre bem-vinda. E a acalento em minha alma simples que se cobre cada vez mais de menos... Se é que me faço entender! Por isto e não por outra razão repito: bendita a minha memória por clarificar extratos agradáveis e bondosos de um passado de bons ideais, ainda que alguns jamais se cumprissem.
         E assim garbosamente em minha língua posso dizer: glorioso é para quem não é “grande” recordar os sonhos pequenos! Mas não digo mal nem amaldiçôo os que se julgam grandes e ora e sempre aborrecem meu espírito!
 

segunda-feira, 14 de maio de 2012

Poema maravilhoso de Antero de Quental


Poema maravilhoso de Antero de Quental

Fui rocha em tempo, e fui no mundo antigo,
Tronco ou ramo na incógnita floresta…
Onda, espumei, quebrando-me na aresta
Do granito, antiquíssimo inimigo.

Rugi, fera talvez, buscando abrigo,
Na caverna que ensombra urzes e giesta;
Ou, monstro primitivo, ergui a testa
No limioso paul, glauco pascigo…

Hoje sou homem, e na sombra enorme
Vejo, a meus pés, a escada multiforme,
Que desce em espirais na imensidade…

Interrogo o infinito e às vezes choro…
Mas, estendo as mãos no vácuo,
Adoro e aspiro unicamente à liberdade.

quarta-feira, 9 de maio de 2012

Aproxima-se o dia das Mães.
A a todas as Marias amor e fraternidade.
E à Mãe de todas as Marias minha eterna gratidão pelo gesto grande de gerar filhos.
E ao ser Mulher servir de espelho a todas as mulheres, benditas e deliciosas presenças!

terça-feira, 8 de maio de 2012

MÃE




Quem mais que tu
Do mundo honra
Deve merecer,
Se a vida por ti passa
Na grandeza
De dar vida a outro ser?

Quem mais que tu
Concedeu
À vida outra vida
E feliz a ofereceu
Rindo mesmo dolorida?

Quem mais que tu
Grandeza tem de espírito
No dom de ser amiga
E gentil gerar alguém
Na dor e na alegria
Desse gesto grande
De ser mãe? Quem?

domingo, 6 de maio de 2012

Abalo sísmico da borboleta




Ao ver duas pequenas borboletas amarelas flertando no jardim, lembrei-me da visita de um amigo, dias atrás, um senhor circunspeto muito sério sentado a conversar comigo aqui mesmo, quando uma desavisada lagarta subia pelo seu sapato.

Este pacato senhor tomado por tamanha fúria sacudia o sapato tão freneticamente, que ao cair no chão esmagava a pobre lagarta com tanta raiva, que até eu me senti um pouco esmagado.
E agora. ao ver as duas lindas borboletas voando me ocorre uma estranha curiosidade de saber onde andará a outra borboleta, viúva daquela lagarta?

Mas a humanidade é mesmo assim. Gosta de borboletas, mas não gosta de lagartas.
Gosta de dinheiro, mas combate o capitalismo.
Gosta de boas comidas, boas bebidas, mas não gosta dos produtores rurais.
Gosta de conforto, de bons automóveis, bons aviões, mas combate a indústria.
Na verdade o homem não gosta mesmo é do outro, e se engaja em movimentos para salvar e resgatar não sei o que, mas quer mesmo levar vantagem em alguma coisa.

E o espelho mais revelador desse trágico quadro nacional está nos movimentos do partido governista e suas lutas demagógicas em nome do social.
Quer mesmo é silenciar a imprensa, esmagar o outro e na sua Eugênia, como dizia com humor um amigo meu, a continuar com eles, chegará um dia em que só será permitida a gestação do feto que tiver a estrela do PT na testa. Os outros serão obrigados abortar.

sexta-feira, 4 de maio de 2012



EFEITOS SEM CAUSA REAL?

Em manhã incrivelmente clara, o sol transpassando a tênue penumbra da noite se esvaía. Meu coração entristecido quedava-se murcho devido o sonho, em noite estranha.
E nem mesmo um fundo dramático de mistério já havia. A luz solar irresistível não permitia, àquela altura já tão clara e quente.
E a minha alma aturdida – perdera o chão etéreo – se escondia atrás das cortinas da mente a brincar, tentando distrair a razão.
E desde então, cada elemento senciente da emoção ou racional da mente insiste em tornar-se independente do conjunto inteiro, que sou eu! Cada um reclama o seu domínio, tenta impor-me a sua opinião numa autentica ditadura do politicamente correto, ou do proletariado, e até às vezes me desafiam!
Essa insanidade passageira causa-me transtornos pessoais, provoca efeitos anárquicos, e vez ou outra eu próprio sinto-me um estranho em meu interior, sem saber a quem atender: se a face emocional da alma que ainda guarda razoável grau de vaidade e às vezes se exibe, ou à face mental que arcaica presa em velhos conceitos e até ainda se submete ao coração, em vez de ser ela mesma agora. Creio que por esse descontrole o mau humor me desalente, mas como se trata do coração metáfora, há de passar! Também o sentimento de caráter amoroso reclama seus direitos ingênitos milenares - se diz primogênito - mas só com o segundo consorte da alma - a razão - é que se pode apresentar como uma das faces da alma!
Nesse jogo, o coração músculo não impõe nada. É mero prisioneiro da sístole e da diástole.
Mas eu sei que ao entrar diretamente na discussão esclareço cada parte envolvida nessa disputa, ainda que nem sempre esteja disposto a ensinar o óbvio, tanto a uma face quanto à outra da mesma moeda anímica, em franca anarquia.
Conquanto à nação, que vive esse estado anárquico, quem a colocará no eixo? O povo?
Na dimensão pessoal eu sei e tomo as medidas legais saneadoras. Embora às vezes me sinta um estranho para mim mesmo.
Naturalmente enquanto não lhes reafirmo a velha história da identidade real, que já a tenho há séculos: e eu falo em séculos de tempo espiritual, não em tempo contado pelo relógio - esse farsante inventor das horas mortas e de estranhos “eus”.
Mas quem reafirmará esse estado à nação tomada por um partido desmoralizado e corrupto? O povo?
É assim que vez ou outra eu me apanho infantilmente contando o tempo em frações! Mas repentinamente desperto e sinto vontade de rir das tolices inventadas pelo homem. E dentre as muitas tolices inventadas não foi deveras o tempo a mais estúpida invenção, não?
Que muitas são estúpidas, todos sabemos; exceto os estúpidos de todas as classes, que nem sabem que são estúpidos, seja de qual estupidez forem: acometidos magistrados, doutores, proletários, presidentes, pastores, enfim, todos aqueles que miseráveis de inteligência, cuja miserabilidade está em serem comandados por um só lado do jogo.
Mas ainda assim têm lá a sua função na máquina de inventar coisas e criar elementos até de comer!
Outros fazem artigos de luxo que não servem para coisa alguma, e por isso custam muito caro; daí o luxo, o consumo e a frescura que por aí abunda tão abundantemente, inclusive no volume das bundas e seios artificiais...
Já aquela invenção que ajuda a decifrar o indecifrável... Quem em sã consciência não sabe que o mais estúpido dos resgates psicológicos não seja o novo homem, que renasce do consultório psiquiátrico?
Mas em verdade o mais estúpido invento para o homem coletivo é o inspetor do politicamente correto.
Existem homens que não são estúpidos, é evidente que existem! Todavia, quantos? E o que fazem para não serem estúpidos? Os grandes Iluminados cuja identidade tem nomes e vestes diferentes no tempo e no espaço, esses sim vêm iluminar e dar identidade aos homens lúcidos, que dentre os idiotas se destacam. Mas há tantos incapazes, que de tão pouca inteligência negam a grandeza de um Iluminado com nome diferente daquele que eventualmente mandaram pra a cruz, ou arrastaram pelas ruas: tenha Ele o nome de Maomé, de Orfeu, Jeoshua, Jesus, Sidharta, José... Passam sempre encobertos no meio da multidão de tolos, que até outros tolos elegem presidentes!
Entretanto os mais estúpidos vestidos de aproveitadores andam por aqui de falsos e modernos cristãos, desde que se entenda por falsos e modernos cristãos alguns guardadores de rebanhos do Ocidente, fatalmente justificando o nome Ocidente: lugar da morte.
Naturalmente excluiremos destes rebanhos ocidentais os homens de bem e sensatos pais de família, mas como o assunto envolva muitos alienados, nem vale a pena citar os que não são, porque somem realmente poucos, embora levem avante o mundo nas costas.
Mas esses nem querem comprometer a sua palavra nem correr o risco de serem acusados de infames, incrédulos, etc. e terem seus nomes falados pelos falsos profetas, que em nome de outro profeta já transfigurado e despido de identidade real é já morto.
Daí para baixo abunda os inventores de religiões, as mais inúteis invenções, estranhamente ocupando o lugar das fábricas de alimentos.
Aliás, falando em alimento, uma das funções sociais de algumas destas religiões é precisamente diminuir o ímpeto das indústrias alimentícias, na medida em que suprimem o dinheiro dos trabalhadores, tradicionais consumidores de alimentos, agora transformados em pagadores de impostos divinos. Isso mesmo, em detrimento da comida na mesa, devido também aos dízimos do Estado.
Porque de algum modo já agora fora comida pelas máquinas de arrecadar a substância original de fazer alimento, reduzida em essência à pobre matéria de impostos e dízimos!
Entretanto seja qual for o destino e boca, fatalmente em outra comida transformar-se-á após comida.   
Ainda uma pequena parcela da humanidade envolvida com disputas políticas e religiosas saboreia comidas raras e especiais, quando não merecem nem estas excrescências do sistema involuntário!
Sim, alguns que somam a maioria entre os pregões são mesmo indignos de semelhante substância! Entretanto fazem parte de uma estranha invenção, cuja máquina que os sustenta custa muito caro ao povo para ser mentida enquanto órgão político-religioso de uma nação.
Está já na hora de dar fim a tantas e inúteis invenções do homem, e o próprio homem que age dessa forma precisa ser reinventado; infelizmente a matéria prima, por não haver outra terá de ser esta mesma. Por isso, nessa parcela não se vê esperança de redenção, em parte por causa dessas invenções inúteis, inadequadas e tantas mentirosas verdades.
Vale então a pena velar à morte redentora, por reduzir ao pó todos os indignos inventos humanos, operando as necessárias reformas sepultando os vilões.
Pouco importa se em cova rasa ou em luxuosos mausoléus encerrados e rodeados de mármore, bronze e pompa, mas já sem a circunstância que valha algo digno de celebrar. 
Porém e isto sim é digno de celebrar, por trás da mentira se encontra a verdade. Pena é que ora fora do tempo e reinem os homens construtores de frações, que separam os pares dignos e unem os marginais.

 


quinta-feira, 3 de maio de 2012

SOLFEJOS


SOLFEJOS

Quando mais não for,
Uma brisa leve
E uma pitada de gaita
No deserto do meu ir,
Devem chegar e servir
Ao que tenho e levo
Para oferecer-me.

Neste meu só caminhar
Incerto lento e sem fim,
Sem saber onde vai dar,
Singela gaita ao luar,
Sussurrando para mim,
E a leve brisa a passar,
Se ninguém interferir...

Devem dar e me levar
Aonde pretendo ir.