quinta-feira, 17 de maio de 2012

Neste dia se elevando no horizonte de sol meio escondido...


             SAUDADE III

         Um embrião bendito poderá ser um elo frágil da real fraternidade que meio intuitivamente agasalho em meu coração; não a fraternidade do conceito político que os senhores e senhoras dessa estirpe repetem e alardeiam sem ao menos saberem realmente o que seja a raiz, a essência e o real significado da verdadeira fraternidade.
        Não, eles desconhecem esse nobre sentimento que serve de elo permanente entre a vida de todas as espécies em movimento senciente.
         E assim, diante deste quadro do mundo passei humilhado por todas as provas das mais diversas naturezas, das quais saí sempre mais pobre de bens materiais. Mas estranhamente uma leveza de alma e um sorriso sincero de espírito sobrevieram-me numa meritória compensação, enriquecendo-me de experiência e simplicidade.
       E mais consciente, sinto-me agora um pouco melhor e mais leve. Mas não se pode negar que o mundo está na exata medida de cada um que aqui se encontre na condição de herdeiro de hoje, de ontem, de mim e de todos.
       Tamanha é a exatidão de como é construído a cada instante por cada um de nós, que o mais feliz resultado é não repercutir por muito tempo dos hipócritas e ignorantes as suas palavras de salvamento coletivo, pois a humanidade resiste a todos esses ataques e segue em frente, alheia aos seus salvadores e modas passageiras.
        Sim, esses que anunciam em tom muito alto aos berros esmurrando as mesas afirmando levianamente que com atos e medidas pessoais de super-homens tornarão possível mudar o mundo com regras e conceitos sectários, não passam de simulacros políticos e religiosos, e são deveras e sem surpresas os de sempre anões. Apenas anões éticos e morais que gritam e agridem o silêncio!
         E então eu sigo humilhado, sim, mas jamais segundo o conceito humano da derrota derrotado pelo mundo. Embora algumas pessoas de uma ou de outra categoria venham a infringir-me desassossegos, mas apenas por não conseguirem ver além da esquina às suas próprias marcas, é que tentam imprimir-me um rótulo.
        Entretanto, não cola: tanto na minha alma que se refugia no anonimato, quanto ao meu corpo mal vestido e despojado de vaidades, que ninguém o nota. E só eventualmente me levam a um estágio alterado da razão as cretinices, pois a burrice muito me aflige! Mas ainda bem que rapidamente passa. 
Humilhado sim, porque o conjunto constituído de corpo, alma e espírito que encerra o homem universal sofra as interferências e certamente prejudicam a pescadora cognição, mas não causam grandes distorções que firam o beneficiário espírito, nem sequer à língua materna em mim alteram, enquanto modestamente eu pensar por ela.
Apenas lamento, além da humilhação e das frustrações o tempo perdido! E que fique muito claro: segundo o meu entendimento, além do tempo perdido nada poderá atingir o meu espírito... E reafirmo: o máximo que o homem e o mundo podem lesar ao espírito humano é roubar-lhe tempo; e é só o que poderiam roubar-me!       
Destrinchando minha identidade diria então que sou um ser cuja alma queixosa derrama negativos fluídos no corpo, furtando tempo e oportunidades ao espírito. E isso pode retardar em alguns milhares de séculos o esperado encontro da alma com ele. Por isso no fim será a alma a única vítima que, tal peregrina entristecida dá um tempo no seu romance, mas não definitivamente será desenlaçada.
        Este desencontro lesa a alma, sim, não obstante a simplicidade das minhas palavras humildes com as quais eu digo, mas são aquelas que sei usar da árvore pátria mãe generosa e bela. Porém, ainda que estes desencontros retardem o encontro da alma com o espírito, não causa grave transtorno ao Plano Universal do Supremo Arquiteto!
         Supremo Arquiteto? Sim, e na língua lusa este belo termo designa o comandante deste plano que leva avante e a outros sistemas as Mônadas Eleitas, alçadas a essa condição pelos próprios esforços, como pescadoras de si mesmas.
         Herdeiras especiais de Paraísos? Depois da curta vida e durante a morte? Não! Isso não passa de lenda, crença e só a mais ingênua criatura pode sonhar, porque não compreenda o que seja realmente universal, embora dentro de uma “ostra cósmica” viva.
         Naturalmente por serem as lendas absolutamente sedutoras, simplórias e não envolverem grandes questões mentais, nem pesquisa científica.
         Basta cegamente acreditar. Ainda que atrás dessas crenças e lendas se escondam espertos oportunistas, insaciáveis por dinheiro!
          Diante do quadro do mundo e do meu, resta-me uma profunda saudade de coisas longínquas, imprecisas, fragmentadas, mas muito saborosas ao meu paladar mental e psíquico saboreado em lusa língua com sabor de saudade.
          E mesmo que me saibam às vezes estranhas e até amarguem por haver também arruinado a minha memória e não lembre termos completos nem períodos inteiros, valem.
         Tenho então o inconsciente generoso que me traz ao nível da emoção estes saudosos momentos longínquos, que mais os sinto que os sei. Nisto a saudosa memória é bela! E embora às vezes trágica, é, contudo sempre bem-vinda. E a acalento em minha alma simples que se cobre cada vez mais de menos... Se é que me faço entender! Por isto e não por outra razão repito: bendita a minha memória por clarificar extratos agradáveis e bondosos de um passado de bons ideais, ainda que alguns jamais se cumprissem.
         E assim garbosamente em minha língua posso dizer: glorioso é para quem não é “grande” recordar os sonhos pequenos! Mas não digo mal nem amaldiçôo os que se julgam grandes e ora e sempre aborrecem meu espírito!
 

3 comentários:

  1. olá julio, as palavras são sempre bem vindas, para um dia de sol meio escondido, que fora ontem. parece em fim que entre, hoje ou ontem, nada será indiferente, do que sempre o fora. esses movimentos interessantes são sempre surpreendentes, como agora que ao ler seu texto, inspiram palavras desta natureza, espero que possa compartilhar deste recanto, intitulado cavaleiro solitário, e se assim o permitir.

    Atenciosamente

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    1. Oi Claudia, será sempre muito bem vinda, sempre. Se quiser
      partilhar palavras por aqui, será muito melhor cada dia
      que a encontrar e "Ouvir" a sua Voz.
      Pessoalmente acredito na amizade, pouco importa a distância.
      Cada vez mais também acredito na Humanidade como o termo indica: uma unidade. Então, o verbo fará muito bem as honras dessa amizade sem tempo, sem talvez cor, mas o sentimento também não tem tempo nem cor, mas um elo invisível une todos nós!

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  2. Agradeço a simpatia e a acolhida, é certo que compartilhamos idéias e ideais, também acredito nas pessoas e na boa intenção das mesmas, embora as vezes, seja complicado respeitar do expressar, ao que outrem necessita para ser feliz, íntegro e satisfeito. Sofro por compreender a angústia do sentimento alheio e o dever de cumprir o que entende-se por unidade.

    Bem, é isso. Até mais, mas nem enganesse não tenho voz, talvez a que perca-se do sentido.

    Bom final de semana.

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