SAUDADE
II
Um
embrião bendito poderá ser um elo frágil da real fraternidade que meio
intuitivamente agasalho em meu coração? Não fraternidade no conceito político
nem sequer acadêmico, cuja palavra repetida inutilmente por esses senhores e
senhoras que a balbuciam desconhecendo absolutamente o que seja raiz, essência e
real significado da verdadeira fraternidade!
Não, tais
falastrões populistas desconhecem esse nobre sentimento, que serve de elo permanente
entre a vida de todas as espécies em movimento, sencientes, e de toda a
natureza e reino!
E foi
mesmo assim, que diante deste quadro do mundo passei humilhado por todas as
provas das mais diversas naturezas, das quais saí sempre mais pobre de bens
materiais. Mas estranhamente uma leveza de alma e um sorriso sincero de
espírito sobrevieram-me numa meritória compensação, enriquecendo-me de
experiência e simplicidade.
E mais
consciente, sinto-me agora um pouco melhor e mais leve que ontem. Mas não posso
negar que o mundo está na exata medida de cada um que aqui se encontre na
condição de herdeiro de hoje, de ontem, de mim de sempre e de todos.
Tamanha
é a exatidão de como é construído esse quantum mental astral a cada instante
por cada um de nós, que o mais feliz resultado será não repercutir muito tempo nem
longe a obra dos hipócritas e ignorantes político-religiosos com as suas
palavras e desejos, de salvamento coletivo, esperando que a humanidade resista a
todos esses ataques, e siga em frente alheia aos salvadores e às modas
passageiras dos vendilhões de almas.
Sim,
esses que anunciam em tom muito alto aos berros ou esmurrando as mesas
afirmando levianamente que com atos e medidas pessoais de super-homens mudarão
o mundo com regras e conceitos sectários, esses não passam de simulacros
políticos e religiosos, e são deveras e sem surpresas os anões espirituais de sempre.
Apenas anões éticos e morais que gritam e agridem até o silêncio e ora comandam!
E
então eu sigo ainda humilhado, sim, mas jamais segundo o conceito humano da
derrota derrotado pelo mundo. Embora algumas pessoas de uma ou de outra categoria
venham a infringir-me desassossegos, os fazem apenas por não conseguirem ver
além da esquina às suas próprias marcas e que tentam imprimir-me um rótulo.
Entretanto,
não cola: tanto na minha alma que se refugia no âmago de minha essência quanto no
meu corpo mal vestido e já despojado de vaidades, que ninguém nota que ninguém
já vê. E só eventualmente me levam a um estágio alterado da razão essas
cretinices, pois naturalmente a burrice muito me aflige, mas ainda bem, rapidamente
passa.
Humilhado, sim, porque o
conjunto constituído de corpo, alma e espírito que encerra o homem universal
sofra as interferências que certamente prejudicam a pescadora cognição, mas não
causam grandes distorções que firam o beneficiário espírito; nem sequer à
língua materna em mim alteram a fluência enquanto modestamente eu pensar, falar
e escrever por ela.
Apenas lamento além da humilhação e das frustrações, o
tempo perdido! E que fique muito claro: segundo o meu entendimento, além do
tempo perdido nada poderá atingir o meu espírito... E reafirmo: o máximo que o
homem e o mundo podem lesar ao espírito humano é roubar-lhe tempo; e é só o que
poderiam roubar-me também!
E já agora destrinchando minha identidade, diria então
que sou um ser cuja alma queixosa derrama negativos fluídos astrais no corpo,
furtando tempo e oportunidades ao espírito. E isso pode retardar alguns
milhares de segundos ao esperado encontro da alma com ele. Por isso, no fim será
a alma a única vítima que, tal peregrina entristecida dá um tempo no seu
romance, mas não definitivamente será desenlaçada, de seu amado Eros.
Este passageiro desencontro lesa a
alma, sim, não obstante a simplicidade das minhas palavras com as quais eu revelo
essa perda, mas são aquelas que sei usar da árvore pátria mãe generosa e bela. Porém,
ainda que estes desencontros retardem o encontro da alma com o espírito não causa
tal atraso grave transtorno ao Plano Universal do Supremo Arquiteto!
Supremo Arquiteto? Sim, e na língua
lusa este belo termo designa o comandante deste plano que leva avante e a
outros sistemas as Mônadas Eleitas, alçadas a essa condição pelos próprios
esforços como pescadoras de si mesmas.
Herdeiras especiais de Paraísos? Depois
da curta vida e durante a morte? Não! Isso não passa de uma lenda pobre e muito
curta, conto de fadas, crença meio cega à qual só a mais ingênua criatura pode sonhar,
porque não compreenda o que seja realmente universal, embora dentro de uma
“ostra cósmica” viva.
Naturalmente por serem as lendas absolutamente
sedutoras, simplórias e não envolverem grandes questões mentais nem pesquisa
científica cresce e medra o grande rebanho.
Basta cegamente acreditar. Ainda que
em nome dessas crenças e lendas se apresentem bem falantes, todavia são só espertos
e oportunistas, insaciáveis por dinheiro!
Diante do quadro do mundo e do meu, resta-me
uma profunda saudade de paragens longínquas, imprecisas, fragmentadas, mas
muito saborosas ao meu paladar mental e psíquico, com que saboreio em lusa
língua o sabor da saudade.
E mesmo que me saibam às vezes estranhas
e até amarguem por haver também arruinado a minha memória e não lembre termos
completos nem períodos inteiros, valem-me enlevos de modesta sensação de prazer
contido.
Tenho
então o inconsciente generoso que me traz ao nível da emoção estes saudosos
momentos longínquos, embora mais os sinta do que os saiba. Nisto a saudosa memória
é bela! E ainda que às vezes trágica, contudo é sempre bem-vinda. E a acalento
em minha alma simples que se cobre cada vez mais de menos... Se é que me faço
entender! Por isto e não por outra razão repito: bendita a minha memória por
clarificar extratos agradáveis e bondosos de um passado de bons ideais, pouco
importa se alguns jamais se cumprissem!
E assim garbosamente em minha língua posso dizer:
glorioso é para quem não é “grande” recordar os sonhos pequenos! Mas não digo mal
nem amaldiçoo os que se julgam grandes e fazem pequenos a outros e ora e sempre
aborrecem meu espírito!
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