segunda-feira, 24 de maio de 2010

O DESCOBERTO

Amigos e amigas,
a saga da indignação prossegue nestas prosas despretensiosas, mas com o exercício de pleno direito de o dizer do meu jeito...

O DESCOBERTO

Do ilustre, iniciado e talentoso poeta português, Fernando Pessoa, eu emprestei o nome “Encoberto”, por servir-me admiravelmente bem ao que ora sinto que sou, enquanto descoberto de lustro e “valores”.

Nem sempre fui assim; já tive a ilusão de que poderia seguir caminho adiante, de cabeça erguida, igual a tantos que seguem com elas levantadas; embora, alguns, senão boa parte, apenas porque esteja vazia e não pese, eleva-se involuntariamente, segundo a gravidade, massa e peso, conteúdo, etc..

Também já tive momentos em que acreditei que ao sorrir para as pessoas, jovialmente, elas responderiam sinceramente; e até algumas a essa gentileza se prestaram, mas vejo hoje, claramente, muitas o faziam por absoluto movimento mecânico.

Existem pessoas boas, amorosas, educadas, não se pode negar; eu, porém é que tenho andado fora do prumo, cuja refração da minha imagem no éter luminoso, me torna uma figura meio invisível e deformada.

Há momentos em que essa imagem é interessante, mas eternamente nessa condição cansa o ostracismo, inclusive entre os amigos.

À roda de uma mesa, por exemplo, mesmo em minha própria casa, acintosamente, como se de propósito quisessem humilhar-me, basta abrir a boca para dizer qualquer palavra, que a voz dos confrades levanta-se a fim de encobrir a minha, e até as minhas sombras ganham potencia, no tom da voz!

Mas eu rio por dentro, ante as tantas asneiras que em nome do abortado, ou futuro doutorado eles dizem. E como descaradamente eles mintam, na santa intenção de que eu não entenda, mas aprove meneando a cabeça ou rindo sem entender o que eles dizem...

Mas como eu sei que eles falam sem falar, e de tal forma, ao desmentirem-se acabam mentindo, por não saberem o que dizem; por essa razão eu conheço também de minhas sombras cada silaba, que vierem a dizer, mesmo que falem sem parar enquanto eu silencio.

E é mesmo assim que evito proferir asneiras, que aumentariam reverberadas com o som já tão alto, agredindo, sem dó, o silêncio!

E nisto é que gozo infinitamente ser invisível, e até descoberto de brilhos e valores que despertem a atenção.

E é assim também que rio mesmo às gargalhadas, interiores, para eles não sabotarem meus ouvidos, nem eu fira o silêncio, embora aos canais da audição entulhem com excrementos silabais com os quais enxovalham a língua, em tom grave, e ninguém ousa mandá-los calar a boca, porque um seja, sei lá, o cara de todas as caras, mas por iso mesmo cale-se!

Mas talvez em alguma coisa, dentre as milhares de asneiras proferidas eles tenham razão, mas como ninguém tenha o direito de julgar, e eles e até as minhas sombras julgam, cometem o crime pela ignorância da impenetrabilidade interior do outro; e por ser regra absoluta, no caso Teosófico não julgar, em nenhuma hipótese, permitir que nos julguem será ato falho de falsa humildade, pois não somos os novos Pilatos, para lavarmos as nossas mãos!

Entretanto quanto a este episódio específico tendo a mim como personagem, o demonstrado desprezo acintoso em forma agressiva constitui-se num rito sumário e ao vivo, sem direito a prévia defesa, mas não amaldiçôo nem às minhas pobres sombras tagarelas!

Mas porque tal suposto julgamento se desenvolva em nível subjetivo, é ainda mais grave, senão absolutamente cínico e desprezível.

Não cínico, segundo o rito Canino, de Diógenes, mas por preconceito inaceitável nem mesmo reverberado através do espelho!

Todavia chorar, por isso, também não choro, porque rir e ao vivo é o que faço interiormente em silêncio, quebrado por um salutar e irônico cinismo.
Mas no silencio das horas mortas chora meu coração, ao lembrar-me de que no passado foram eles que mataram Cristo!

Hoje são pais e mães, alguns doutores em leis, exatamente como daquela feita, que de tão concretas estocadas de abstratas leis, o sangue jorrou.

Ainda bem que por ser eu o invisível descoberto e muito rude, passo despercebido pela novíssima e moderna ignorância deles e dos novíssimos projetos de lei.

Ah, se eles soubessem que eu só quero viver! Ah, se eles soubessem! Mas se fossem eles “os senhores da vida e da morte” deixar-me-iam exercer, esse rito sagrado de viver e lutar contra os meus fantasmas?

Não, contra eles eu não luto com essas aramas... Mas não revelo a natureza nem dos oponentes nem das armas.

Afinal entrara-se já em AQUÁRIOS, e o mental que deveria revelar abstrações sensíveis quanto à unidade da vida cuja palavra “humanidade” revela, esbarra ainda na rudeza, quando muito, da razão acadêmica.

2 comentários:

  1. Bela prosa amigo,uma grande MENSAGEM!
    O amigo é muito modesto quando se descreve a si próprio.
    Grande pensador,filósofo,por que não!Poeta,artista,tem valor,não há como negar.

    O Nevoeiro,está muito denso,cada vez mais.O Mostrengo,ainda comanda!

    "BENEDICTUS DOMINUS DEUS NOSTER QUI DEDIT NOBIS SIGNUM". que contínua em poder dos impuros e falsos profetas.
    O caminho é só UM,que a maioria não quer aceitar,uns por ignorância,outros porque não querem abrir mão,habituados que estão ao materialismo.

    O simbolismo do mito de D.Sebastião,da Cruz e da Rosa,não está ao alcance de todos.Nestes momentos conturbados que o mundo vive e particularmente alguns países europeus,sinceramnete não sei dizer se é Hora,talvez sim,talvez não.Ainda não se avista a Ilha,devido ao grande nevoeiro que paira sobre ela.

    Triste de quem vive em casa,
    Contente com o seu lar,
    Sem que um sonho, no erguer de asa,
    Faça até mais rubra a brasa
    Da lareira a abandonar!


    Triste de quem é feliz!
    Vive porque a vida dura.
    Nada na alma lhe diz
    Mais que a lição da raiz-
    Ter por vida a sepultura.


    Eras sobre eras se somem
    No tempo que em eras vem.
    Ser descontente é ser homem.
    Que as forças cegas se domem
    Pela visão que a alma tem!


    E assim, passados os quatro
    Tempos do ser que sonhou,
    A terra será theatro
    Do dia claro, que no atro
    Da erma noite começou.


    Grecia, Roma, Cristandade,
    Europa- os quatro se vão
    Para onde vae toda edade.
    Quem vem viver a verdade
    Que morreu Dom Sebastião?

    Fernando Pessoa

    Boa semana para si.
    fraterno abraço.

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  2. Amiga e mana Ana, assim é o que já não pode ser.
    "Os anos vão descendo e já no estio"...
    Mas vamos caminhando. Juntos, de alguma forma.
    Você no momento mais veloz do que eu, e isso me deixa deveras entusiasmado.
    Conhece a frase do Faraó Solar, Kunaton?
    Ao despertar do sono terreno teria exclamado:
    "Nada de novo, debaixo do sol!"
    Hoje nem debaixo da lua há novidade.

    O Banquete e o festim de sangue regados
    pela ala esquerada politico religiosa cada vez mais expõe as chagas.

    Sinceramente nos resta o passado de poesia,
    como essa, do Fernando e algumas outras,
    e na música a volta a Beethoven e seus pares
    para o ser puro mergulhar sem medo
    na essência da arte...

    Deus aguarda...

    É, minha cara amiga, chegou a hora de olhar para trás!

    Sonho com um cantinho lá na aldeia!

    Boa semana para si também

    Fraterno abraço

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