terça-feira, 8 de junho de 2010

INCONSCIENTE

Pessoalmente sou uma imitação grosseira da vida de um deus, de algum modo falo imitando a palavra de um sábio, por ter sido sábio aquele que inaugurou a fala ordenada, e quando sou bondoso imito a santidade de um santo. (Acho que é mais ou menos isso.)

Mas compreendo hoje melhor do que ontem que a palavra não diz por si mesma muita coisa. (Mas pode dizer tudo que se possa ouvir.)

Já o silêncio sim, poderá traduzir e talvez seja a única maneira de perceber o que realmente existe como essência. Ainda que se trate de uma pálida sombra, de alguma limitada realidade.

Sim, o silêncio às vezes frio e cruel como um escuro ancestral, mas de onde de repente ante a fraca luz de uma lanterna mental, brilham olhos de estranhos e pequenos animais assinalados em nossa mente.

A lanterna é a nossa única consciência possível, dolorosamente iluminando os relevos de alguma coisa sólida ou móvel conhecida da triste realidade que nos cerca, e mal compreendemos onde a natureza absolutamente desconhecida se deixa observar, e nós fingimos desvendar.

E se nesta fase de o dizer coloco a frase no plural, falo só por mim, envolvido no silêncio noturno da minha ignorância, porque não saiba nem tenha consciência ou sentimento pessoal do que seja a vida integral.

Vida de verdade e não mero conceito de um tradutor universal! Pois nem Cristo ou mesmo em momentos em que o sofredor Crestos se manifestou em meu peito em heroísmo se fizeram inteligíveis ante essa incógnita, que os insensatos ousam largamente interpretar.

Imaginá-los e até ouvi-lo aos berros pelas ruas em distendidas eletrônicas asneiras anunciando a revelação desse mistério e a redenção de todos os males, causa tremendo espanto!

Mas depois do espanto e já refeito do surto de burrice a que fora acometido diante de tamanha grandeza desses gritos, compreendo, pela classe de pessoas que se identificam, nítida e cristalina a sua intenção, e o que pretendem se revela claramente, nas promessas que fazem e nos produtos que oferecem.

E ao vivo carimbam com a sua marca forte de que até o sagrado silêncio está sujeito aos seus ataques repentinos, com ofensivas palavras!

E assim, ao deixarem de ter sentido as sentenças dos sábios, não se tem mais como classificar o som com a cadência e ritmo da voz humana, e já pouco revela em voz amiga e familiar.

Por isso é que sou mesmo a imitação da vida, se a dos falsos profetas for verdadeira.

Conquanto exista sempre um meio termo entre todas as coisas, demarcada por um frágil ponto nota-se já a raiz da esperança.

Sim, porque continuo existindo eu e continuam existindo eles. E é assim que nós vamos a navegar nesta nave maior, mas já não tão grande que se não possa medir, pesar e contar-lhe o tempo de vida, e até se pode parti-la aos pedaços!

Isto se for nosso entanto o de apenas com a carne alheia nos divertirmos. Pois, desgraçadamente ainda não compreendemos que mesmo que não pensem todas as outras espécies, instintivamente vão a fugir de nós. E por que fogem de nós?

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