quinta-feira, 1 de julho de 2010

DIÁLOGO ÍNTIMO

Amigos e amigas, eu pensei escrever o mais belo texto, que fosse possível de escrever
em homenagem à vossa amizade.
Mas como descrever a beleza?
Ou, o que é a beleza?
Pareceu-me de momento ser a verdade a mais bela forma de beleza.
Foi então que surgiu a indagação cruel: o que é a verdade?
É alguma coisa que deve ser buscada por cada um de nós.
É então necessária também a fé...

DIÁLOGO ÍNTIMO

Personagens que habitam a meio à realidade e meio metafísicos encontraram-se numa biblioteca, e começaram a conversar, enquanto aguardavam a hora de voltar ao trabalho, e este foi o tema:

Ela – Que fizeste àquela linda melodia, que à noite solitária e enlevada eu ouvia, quando tocavas andando no jardim de tua casa?

Ele – Já nem me lembrava de que tocava um instrumento! Bem, tu me lembraste! Mas não sei se era bela, a minha música!

Ela – Sim, de ânimo levantado tocavas belíssima melodia! E também te ouvi certa feita dizer que não gostavas do canto da cigarra...

Ele – Não me lembro de te dizer isso, não, mas ainda hoje não gosto do canto da cigarra; e que pena, não me lembro de mais nada te dizer!

Ela – Disseste tanta coisa! E fez-me tão bem o que disseste! Foi muito bom ouvir-te. Talvez sem querer dissesses o que eu estava precisando ouvir!

Ele – Como? Falei o que precisavas ouvir, sem intenção de o dizer? Desculpe! É que nem do papel ao qual em minha estrada ando a representar eu lembro! Nem sei o que pensar nem o que responder! Confesso que não sei o que dizer.

Ela – O que quiseres. Tem o dom da palavra, meu poeta... E em nome da arte e do belo não cala, que a tua fala, além de bela, liberta! E aos já libretos, os alegra!

Ele – O que dizes? A minha pobre e inculta palavra, que nem sempre eu próprio desejo ouvi-la, de tão ignóbil salva e liberta! A quem eu libertaria?

Ela – Isso também eu não sei exatamente! Mas talvez alguém ansioso para ouvir-se! Talvez! Sem coragem de falar a si mesmo, ferindo-o as tuas palavras desperte! Talvez, mas também não sei!

Ele – Feri-lo? Carrasco eu não creio ser; nem guerreiro da palavra; mas realmente não sei como haveria de com ela a alguém salvar!

Ela - Sim, tu não és um carrasco cruel da palavra, mas também não és um anjo! Não, não és um demônio, tampouco um Deus! Porém, sendo poeta podes combater o bom combate e até sonhar! Quem sabe não sejam os teus sonhos que em versos andam a libertar?

Ele – Como se já não bastasse à triste sina revestir-me de poeta, terei também de ser um pobre sonhador, para em versos com meus sonhos salvar? Como, se o que sonho até a mim anda a prender! Os tenho na conta de tão pequenos, que a mim próprio custa-me tanto a ouvi-los e até me andam a aporrinhar! Não, não pode ser!

Ela – Sim, em homenagem à língua podem sim, pois o jardim onde florescem os teus sonhos sou eu! E ao sonhar, sonhais teus versos em mim...

Ele – E quem és tu, afinal? Embora de mim mesmo pouco saiba, se me permitires eu quero saber, agora que já te ouvi, quem és tu, afinal? Assalta-me neste momento uma necessidade imperiosa, poderosamente metafísica de conhecer qualquer coisa de ti!

Ela – Ah, eu sou teu íntimo! E tu em mim és alma... Apenas alma! Por isso não podes olhar-me nos olhos, porque sou o mais profundo do teu olhar! E não poderia então ser tua fêmea, se nem sou mulher! Sou apenas metáfora de ti mesmo, para que um dia ao olhares dentro de ti, aí me reconheceres. E, se nesse dia quiseres em minha pátria o teu bem mais precioso guardar, digo-te então que sou a tua anima, e também o hálito que em tuas narinas ando a soprar...

Ele – Nem sei o que dizer! Diante de tamanha impetuosidade verbal, como posso sentir-me autor dessa arte que me dizes andar a exercer se não sei se o que tenho quero ou se não quero, e quase sempre o sim é não! Desta estranha revelação não sei o que responder! Entretanto, responde-me: o mais elementar princípio de uma personalidade que se revela tem um nome pessoal: terás tu então um nome?

Ela – Respondendo a primeira parte de tua pergunta, interiormente sabeis muito bem a resposta para todas as coisas que perguntais, e sabeis bem o que desejais. Então, confia!
Quanto a eu ter um nome, é o meu selo oculto ainda uma criança... Atreve-te a trazer-me à existência plena, e chamar-me-ei nesse instante, só nesse instante consciência. Mas depois disso, para sempre te lembrarás de mim, e esse será eternamente o meu nome...

Ele – Quão bela é essa sentença! Numa única palavra revelas a maravilha das maravilhas, Consciência! Precisava ouvir essa melodia numa só palavra. Precisava!

Ela – Sim, certamente essa é a mais pura e bela expressão no sublime jogo da “conquista”! Quem busca o eixo e o eu, aí encontrará a Consciência! Pois quando ela reinar, nunca mais quem dela desperte há de sujeitar-se às fraudes, nem às mentiras... É por excelência essencial a voz do eu luminoso, e vai muito bem guardada, no âmago de cada eleito

Ele – Belíssima e mui rica síntese fonética, preciosa síntese essencial geneticamente perfeita, uma única palavra! Quão bela é e rica, a nossa língua! Nem carece dizer mais nada. Apenas repetir... Com/Ciência...

Ela - Silenciemos então essa maravilhosa semente em nossos corações e em nossas mentes, pois também já é a nossa hora de voltar!

4 comentários:

  1. Caro irmão Julio,que maravilha de Diálogo.
    Diria que se assemelha mais a um tratado.
    "Tratado do Belo".

    O objeto de investigação da Metafisica não é qualquer ser, mas do ser enquanto ser. Esta investigação levaria à elaboração de uma ciência suprema, superior a todas as outras. Esta ciência já estaria sendo feita, apesar de ainda existir de forma crua. No livro I, Aristóteles
    fala da importância da causa desde a filosofia anterior. Os filósofos hoje ditos "pré-socráticos", procurando explicar a existência física do mundo, teriam considerado apenas a causa material em sua formação , ao passo que Aristóteles aponta a existência de outras três, a eficiente, a formal e a final.
    O ser como verdade não é estudado pela metafísica porque este pertence não a objetos, mas a estados de espírito. Tal estudo caberia mais à lógica do que à metafísica. Os outros dois sentidos, o ser como essência – que subsiste por si mesmo, o qual diz que uma coisa é propriamente – e o ser em ato e potência serão tratados pela metafísica

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  2. o belo é a perfeição em destaque.
    o belo é o esplendor da forma.
    Então a palavra forma equivale à essência, e já dizemos: o belo é o esplendor da essência da coisa.
    Ciências do belo. Observando as belezas concretas, as ciências ampliam, portanto, a visão, desvinculando-se primeiramente das individuações (pela abstração total) e a seguir, detalhando o seu exame (por meio da abstração formal), indagam separadamente todos os aspectos específicos que o objeto belo apresenta:
    O ser do belo. Em principio, a metafísica trata do aspecto de ser das coisas. Não há metafísica sem ser. Portanto, perguntamos, que é o belo como ser? Seria um elemento de essência do ser, ou seria apenas um propriedade, ainda que intrínseca?

    O belo pré-artístico. Antes que surgisse a arte, o belo já existia. Muito antes de aparecer o homem sobre a face da terra para produzir a arte, já resplandecia o belo na luz dos astros, no colorido das auroras, no azul da abóbada celeste, nas noites estreladas, nas nuvens vagando no espaço, nas montanhas sinuosas, nas florestas verdejantes, nas flores coloridas, no zumbido dos insetos e canto dos pássaros, nos brutos das campinas, no rolar das ondas do mar. Imenso sempre foi o número das coisas belas, antes que a primeira obra de arte surgisse.
    Mesmo na arte, o som já pode ser belo, harmonioso, agradável antes de se transformar em música expressiva. Por isso, há na música muito do belo pré-artístico, antes da expressão musical propriamente dita.

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  3. Ai que soninho,adorei o seu Diálogo
    mas ainda vou citá-lo:

    "Ela – Sim, certamente essa é a mais pura e bela expressão no sublime jogo da “conquista”! Quem busca o eixo e o eu, aí encontrará a Consciência! Pois quando ela reinar, nunca mais quem dela desperte há de sujeitar-se às fraudes, nem às mentiras... É por excelência essencial a voz do eu luminoso, e vai muito bem guardada, no âmago de cada eleito

    Ele – Belíssima e mui rica síntese fonética, preciosa síntese essencial geneticamente perfeita, uma única palavra! Quão bela é e rica, a nossa língua! Nem carece dizer mais nada. Apenas repetir... Com/Ciência...

    Ela - Silenciemos então essa maravilhosa semente em nossos corações e em nossas mentes, pois também já é a nossa hora de voltar!


    Agora vou dormir :)
    Carissímo irmão.
    Fraterno abraço

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  4. Cara irmã Ana,
    de repente o comentário supera o texto em muito larga escala.
    Quanto ao belo, creio estar Nele.
    E quando Ele resolve agir, expressa a suprema beleza da criação, impossível de imaginar.
    Depois, na sequência veio o ser, que modifica as formas, e alguns artistas decodificam o selo original, e o belo é revisto e toma a forma do tempo e da cultura de um povo...
    Mas enquanto ser nada como o conceito do Eu Original.
    E aí sim, a Metafísica acrescenta, além do Belo o Bem e o Bom.
    Isto só pra desafiar nossa curiosidade quanto ao tempo que falta percorrer, de um caminho que mal começamos.
    No fim, caríssima Ana, o que vale a pena é mesmo caminhar...
    Ou dormir, quando bate esse soninho bom kkkk

    Com os anjos
    e fraternalíssimo abraço

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