quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Teatro em dois atos

Desce o pano de boca e o palco é encoberto e se apaga.
As cenas memoráveis de alegria, os encontros fraternais entre pessoas amigas desapareceram.

As vozes meigas, femininas, o choro manhoso e a alegria espontânea das crianças se calaram e não há mais movimento naquele palco.

O pano de boca de cor roxa confere um ar sinistro muito triste.
Fala em silêncio uma linguagem fúnebre...
Mas não morreu ninguém naquele palco!

Sem vento nem movimento, permanece estático no tempo, convida à reflexão quem na platéia assistia cenas memoráveis representando a história arcaica.

E até nela se viam da antiga Grécia animados fragmentos históricos com vestimentas humanas e da terra divida em nações ali olhando de soslaio se via passando na impermanencia do tempo simulacros de pessoas, efígies de grandes personagens reais, lembrando o mito da caverna platônica.

Ao lado deste edifício a uma quantas quadras se ergueu um outro edifício com linhas modernas assinado por um renomado arquiteto.
Moderníssimo, linhas curvas de concreto armado erguido seria uma escultura, não fosse o destino a que se prestava.

O palco, enorme, frio, sombrio, aí o nu feminino exibido sem arte e sem pudor, atentava contra a honra da mulher.
O enredo resgatando o passado arcaico arrancava das catacumbas cadáveres há milênios sepultos
não como homenagem, mas para escarnecer dos valores morais da idade moderna a galhofarem da honra em decadência mortal.

O pano de fundo e a trilha sonora exaltam figuras do submundo marginal desdenhando da sã figura do ético cidadão.
E a Rés-Pública? Como não havia carpete e o cimento frio servisse de piso, à bandeira nacional se estendera no chão e sem qualquer cerimônia pés enlameados a pisavam.
Foi quando a mítica criança dos velhos contos e personagem divina da prosa limpa surgiu aos prantos a soluçar, e pegando com força na mão do velho ancião que a tomou no colo onde se sentiu segura, gritou:

“Nem as crianças são respeitadas? Onde está o respeito à vida e às crianças!” Como o direito à vida e a segurança serão garantidos com essa gente má! Com voz infantil, firme, num canto divino gritou a criança especial. E o ancião retumbou forte, eloqüente qual trovão e disse: - sim, reina a Anarquia e a ruína já liquidou o país do futuro! E agora? Quais as mães e pais dignos de gerar a criança sadia do futuro que já chegou? Sim há muitos dignos, mas afastai-os desse antro contaminado! O ar infecto e as mãos sujas de sangue contaminam tudo.

Lá do alto desce a enxurrada de lama e quem não tiver os pés calçados com as botas da decência
será corroído com o ácido dessa lama fétida e podre.
Lá no alto reina a mentira e a podridão... é preciso derrubar essa torre.
Assim bradava o ancião, quando subia o pano de boca do palco moderno que teria custado centenas de vezes mais do que o seu real valor.
A peça que aí seria encenada, nem os marginais mereciam o castigo de assisti-la.

2 comentários:

  1. Olá estimado amigo Julio!

    sabe,que gosto imensamente de vir aqui..arejar a cabeça..rss!

    Afe!!

    Oxalá dias melhores nos batam à porta!

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  2. Mas a alegria de vossa presença é minha, cara amiga Dolores.

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