segunda-feira, 11 de abril de 2011

Esfinge 3.005



INDIFERENTE

Sem estilo e sem intenção de mudar que seja uma vírgula do que sinto neste momento de absoluta solidão de corpo alma e espírito, relato em tinta da cor triste com letras deformadas, o que na alma reverbera em sensações, às quais eu não sei em sentimentos defini-las.

E já nem chegam a ser tristes, porque até este sentimento envelheceu e já não o acho digno de causar-me desconforto.

Naturalmente em virtude da pouca importância dada as pessoas ou às coisas que poderiam ter me causado tristezas e aborrecimentos.

Sem tom, sem vontade, e por isso mesmo sem qualquer ensaio de estilo, escrevo o que ninguém lê, plagiando Pessoa, ao dizer “que não tinha portugueses que o lessem”, ainda que os seus prognósticos não se confirmassem, pois não só os portugueses, mas o mundo todo o leu e lê.

Eu, todavia em pedra fria assente com meus pés e os meus olhos a coisas que eu não queria mais ver vendo, translado meu testamento em abstrato, revelando um auto-retalho caracterizado pelo desassossego que o anda a modelar.

Esses sinais na cara, que um dia fora um rosto liso, antes que o desgosto e as rugas profundas o rasgassem, tornou evidente a quem lê nos meus olhos o meu estado, e pensa com seus botões ao passar por mim: “aí vai um triste”! E segue em frente o seu destino, esquecendo-me ali; e eu, mais uma vez fico só, sem desejos nem imaginação de não ficar só.

Mas não tenho certeza de estar deveras triste, por já não saber decifrar os sentimentos nem qualificá-los com peso e qualidade do que sinto.

Sem qualquer certeza e sem imaginar o que é verdadeiro e vá já ao mundo ou escrito na história e até mesmo na consciência coletiva do povo, não tenho a mínima informação do que seja real e exista, destinado ao sempre.

E nem saberia explicar com outras palavras este drama. Mas devo repetir que, além de não conhecer, não acredito em qualquer coisa que possa ser descrita ou escrita e realmente exista em definitivo.

Isto que aqui anda e qualquer coisa e tudo mais que falta por andar no campo dos anseios, e tudo quanto não ande ainda nem na imaginação.

Sem estilo e sem grilo e sem nenhuma vergonha de o dizer o digo, pois que o certo e o incerto são tão incertos que ao final nenhuma certeza ou incerteza são verdadeiras.
Assim como também não existe o ser inteiro, por ser passageiro, nem o permanente devido a impermanência...
Existência plena talvez só Deus, porém antes de ser Deus e a morte, mas também a morte mente de matar... Então? O que significa a alegria ou a tristeza?

Ah, mas há algo diferenciado,indisível e até invisível, tal o fio de Ariadne que une o ser ao não ser, e desconfio tratar-se de um código moral e ético, que mesmo que não garanta a existência pós qualquer coisa, mas reflete um brilho dourado.

3 comentários:

  1. Não há o que escrever,tudo já foi escrito com sábias palavras,fica portanto o "dito pelo não dito".
    Gostei demais da conta do seu "Indiferente".
    Abraços fraternos carregadinhos da mais pura amizade,meu bom e sábio amigo.

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  2. Amiga Dolores, vossa bondade emocinoa e vossa amizade enriquece.
    Quem dera a sabedoria passasse nem que fosse do lado de fora do portão!
    Mas mesmo assim muito obrigado e saiba que a amizade é reciproca e absolutamente verdadeira.
    Fraterno abraço, minha boa amiga Dolores

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