segunda-feira, 2 de julho de 2012

HORIZONTE II



Ainda o horizonte exerce muito forte fascínio em mim, mesmo aquele aspecto concreto do relevo ao escurecer, quando o sol se põe e a imaginação cria a sua obra abstrata.
No meu caso, devido a minha natureza anímica fortemente acentuada com as emoções de caráter melancólico voltadas ao passado, para lá sempre retornam.  
Deste meu temperamento prisioneiro, raramente eu bebo na fonte da alegria; mas quando o ambiente predispõe-me a ensaios dessa natureza anímica, melancólica, procuro um lugar mais reservado.
Nem sempre nesse lugar choro; e quando choro nem sempre é de mágoa; e até muitas vezes choro de êxtase; mas até o meu êxtase é contido e moderado.
O que não é a minha ira, quando indignadamente com veemência e cólera ponham-me a esbravejar! E não me arrependo da fúria nem minha consciência me acusa de que errei a dose da minha ira.
Os elementos anímicos com os quais lido em meu diuturno modo de viver são deveras fruto real do meu longo caminho, pelos desertos desta e de muitas outras vidas que já vivi.
Os meus elementos devem ser observados por vários e diferentes pontos de vista, já que o olhar do analista está fora e simbolicamente consulta a lista de estatísticas de que disponha.
Nunca será, todavia um retrato fiel de nenhuma outra alma, quando à qual eu próprio à minha jamais poderei revelar, por absolutamente ignorar em essência o que ela seja,  que dirá um analista!
Nem profundamente, porque a memória dos neurônios e a memória das partículas anteriores às células guardam modelos mentais e anímicos, indevassáveis até para mim.
A esse outro horizonte ouso às vezes visitar, mas raras vezes as janelas estão abertas de modo que se leia a história aí escrita, pois, muito bem guardada, ainda que passe e vá sempre de reino em reino se revelando.
E então o que dizer das histórias já gravadas nos elementos químicos? Essa informação é que fascina o horizonte histórico; e porque se não o possa desvendar, ocorreu-me eleger essa quase impossível tarefa o elemento primordial a ser descoberto!
E reside então nessa ainda impensável possibilidade uma das causas de minha mais profunda acefalia e também o maior desafio; e, naturalmente o seu sintoma externo – é a melancolia.  
Diante de tantas janelas, já sem falar em horizonte, como serenar a consciência diante de tamanha limitação do conhecimento, e ainda dentro de um sistema cerebral embrionário, com todas as infinitas janelas por abrir e quase todos os neurônios por iluminar?
Sócrates quando do seu “só sei que nada sei” teria imaginado essas janelas?  De qualquer modo, o horizonte em que ora e sempre miro e não o compreendo porque desapareça quando dele me aproximo, é e sempre será o Graal. (O meu Graal). Sem deixar de reconhecer que ao verdadeiro Graal não se pode mirar com os mesmos olhos, se ignorarmos outros horizontes invisíveis a olho nu; mas que desafiam e cumprem a sua função silenciosa, cumprem.
Não há então nada mais próximo da arte, que um horizonte; seja aparentemente concreto e revestido de cores douradas ao anoitecer, seja apenas a imagem de um vir a ser.
Bem, assim aos poucos vou decifrando o antigo desafio que já tanto fascínio causou ao meu olhar, e assim muitos horizontes nascem e lhes dou boas vindas pelo desaforo de fugirem de mim.
Ainda que estrelas desafiadoras pisquem rapidamente em formato de janelas luminosas abertas no céu do maior horizonte, ou uma nuvem passageira que se dissipe em água, ou até efêmera com o vento se desfaça em vapor não cumprirão outro código senão de não responderem nada, mas ainda assim sempre lhe dou as boas vindas.
E desafiando a quem queira desvendar-lhe o derradeiro destino, desse horizonte eu sei que é um caminho que não tem fim.
Há nele janelas e aves que voam e depois do voar voltam ao pó, quando outro horizonte leva ao outro e esse a outro numa roda interminável; e é assim que o meu coração chora!
Mas já não sei se de tristeza ou de alegria, diante de tamanho mistério e de tanta fantasia de horizontes! Mas é muito sério e a cada volta nasce, nasce sim, e a cada roda que gira outro e depois mais outro e vai girando, girando sem  fim.   

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