quinta-feira, 12 de julho de 2012

NOBRE DAMA





Descia a rua sossegada ao final da tarde, e até o sol já brando os seus raios refletia em sua cabeça coroada pelo tempo harmoniosa, e aos seus cabelos brancos dourava majestosos. Descia a rua sossegada, aquela mulher serena e prosseguia.

Aonde iria a nobre dama, aonde iria? E o que andava agora sorridente em seu coração a consagrar? Saia honesta até os joelhos, blusa branca de seda que ao seu rosto clareava, de cabeça descoberta que não tinha o que esconder nem ao que quisesse simular, descia a rua sossegada a nobre dama, sossegada e serena a caminhar.

Quem seria a nobre dama? Ninguém ousou lhe perguntar; e de cabeça luminosa levantada seguia altaneira e bela fêmea, passava sossegada essa linda mulher a caminhar.

Pela rua afora de espírito sossegado revelava o sorriso luminoso de quem cumprira a juventude consagrada e bem vivida, e porque ao seu tempo colorisse de bondade, olhou serena e com bondade ao triste semelhante maltrapilho que passava, e à cabeça inclinando em reverência docemente lhe sorrira.

Mas seguiu em frente! E ao voltar os olhos para trás ao triste mais uma vez olhou com doçura e de espírito levantado a nobre dama ao triste que ficava, sorriu mais uma vez, e mais outra.

Três vezes viu a dor silenciosa ao passar, três vezes olhou alguém tombado no destino enquanto sossegada, a nobre dama emprestava o bom olhar da compaixão.

Quem seria a nobre mulher, que ao descer a rua tanta admiração e bom dizer houve em todos despertado?

Na penumbra da tarde, ao longe desaparece por entre um clarão do sol poente avermelhado. E de seu rastro meio furta-cores muitas interrogações ensejava e até uma saudade longínqua, dela nascia e hoje habita o imaginário de quem a viu passar, para nunca mais ser vista.

E quem poderá dizer não ser agora alguma décadas depois uma linda menina de olhos morenos, incomuns, cheios de mistério longínquo e sereno? Tanto que ao sorrir de novo é sempre alvissareiro e nunca cansa olhar para ela?

Quem será agora esta criança? Será a herança imaginária daquele olhar longínquo, de cabelos brancos? Será o bendito fruto daquela altiva dama que pela rua antigamente a tantas mulheres ensinou a altivez na rua?

Quem será a criança ora presente e tantas mais que riem e alegram a quem triste passa por elas? Quem saberá dizer onde foi parar no tempo aquela mulher de bela lembrança altaneira que por aqui passara?
Ah, mas estas lindas morenas, mulatas, louras e todas as damas que ainda agora por aqui passam, a sorrir e a olhar!

É nobre não esquecer a nobre dama, que passou por aqui um dia! E como é gentil e animador vê-la agora nas crianças, a brincar!  

Pois quem quer que por aqui passe agora, nos renovará a esperança e a certeza de que a nobre dama nunca mais há de nos deixar, pois enquanto existirem mulheres, sempre altivamente ela há de brilhar, infantil!

Nenhum comentário:

Postar um comentário