segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Pusilânime.



Hoje amanheci ouvindo o fado de Amália Rodrigues
de um soneto de Camões: “Com que Voz”.
Devo também perguntar-me com que voz ou arte prosseguir em minha
caminhada, quando falha já a memória, as pernas vacilam
e os olhos marejam?
Lembro vagamente as imagens metafísicas de um tempo
passado na aldeia Bodiosa, hoje deserta, segundo informações.
Retorno espontaneamente ao Porto presente
e o passado insiste em se fazer passado na imagem gentil
da Av. Santa Helena, mas a Clara já lá não está!
Passo em frente à prefeitura onde outrora abrigava o Fórum,
mas também aí não mais está a Clara!
Talvez algumas pedras do caminho, que sobraram livres do asfalto
me reconheçam e respondam, Clara já não está!
E eu vivo esse sentimento ilusório, preso a um a tempo que passou.
Pusilânime, sem vontade, cede o ânimo ao desanimo e o presente
modo de ser me assusta e o amargor constante nem a boca adocicada
por qualquer disfunção orgânica o disfarça.
Pusilânime diante dos desafios da modernidade,
“Com que Voz” seguirei eu meu triste fado?
A Clara, única lembrança animadora, existe.
Está longe, mas num espaço metafísico sem fronteiras está
sempre presente.
E para sempre, bem depois do fim, onde um não sei quê
de eternidade alimenta a chama morna de um estar aqui
sem rumo e perguntando: “Com que Voz?”
Pergunte à Clara! Me ocorre responder e ousar sorrir por saber dela.   

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