quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

ARGONÁUTAS


Meu coração atravessou o oceano aos prantos, ante a presença indelével de memórias concretas no fundo do mar.

Escritas com as lágrimas de muitas moças solteiras, porque seus noivos não retornaram ao lar; com os gritos abafados dos marinheiros, que se perderam e não puderam voltar; ah e as penas dolorosas das mães, que viram seus filhos partirem para nunca mais voltarem!

Mas é preciso navegar, porque “navegar é preciso, viver não é preciso”. É preciso romper os limites, é preciso descobrir o que além do mar os olhos possam admirar, os olhos possam contemplar o novo, ainda que à custa de muita dor e lágrimas, que até ao mar ajudaram a encher!

Também meus ossos milenares ainda choram; também minhas células do sangue reclamam; também minha carne sofre ainda agora as dores do navegar arcaico; mas não por ser velho e ultrapassado o argonáutico navegar das caravelas, pois o não é!

Mas arcaico nas lágrimas derramadas pelos sete mares, sim, dos velhos filhos ancestrais, que ainda cambaleantes pelas mesmas rotas saudosos ainda vão! Por isso mesmo, enaltecidos em minha alma honrada, por ser descendente desse povo e dessa gente, antiga e bem intencionada!

Valeu a pena? Sim, valeu e vale ainda por ter se feito maior a que nunca foi pequena, embora arcaica a alma, mas não a ousadia lusitana!

Meu coração ainda aos prantos retornou à rota e retumbou o som e se juntou a mim, dando-me notícias do que viu escrito...

Também por isso lamentoso, pois nem todos reconheceram o feito nem o sacrifício, e dos que lendo vêem ainda hoje muitos só uma caótica viagem é devido o olhar estrábico e despreparo mental ou corações rançosos!

Apesar de alguns filhos das terras aonde a alma navegante às suas lágrimas levou tragam às suas bocas e às suas cabeças acorrentadas às idéias mortíferas do leste, e é por isso, ainda, seu desejo o de tomar o que não é seu...

E a inveja mata tanto e tanto amarga a boca do proletário mental, sem horizonte, que vai cego engajado e envenenado pelo falso líder, que ao fim elegeu e elege!

Mas o meu coração chora-lhe também a falta de berço; chora-lhe também a falta de olhos; chora-lhe também a falta de eixo... E por não ser ainda um ser social vai encaixado na faixa do meio, e nada trazendo nem ao que diga com juízo, não sabe o que faz, nem diz ao que veio. 

Meus pés cansados de tanto andar e minha voz rouca de tanto falar o que ninguém ouve, rendem-se aos calos de tanto andarem em vão meus pés a caminhar; mas minha alma ainda crê e o novo há de chegar com o Encoberto, que até já chegou! Apesar do Estado, apesar do conto que em seu nome já foi aplicado, apesar do tolo hoje falando alto, e falando grosso causando dolo!

E isto é porque não ouça a voz antiga do sangue Árabe do Africano; porque não ouça o cavalgar dos Celtas; porque não ouça o pulsar do sangue lusitano e tantos outros elementos, e além do sangue os feitos...

No mais só discursos pobres essa pobre gente faz de colar de miçangas penduradas com rodinhas de carrinho de brinquedo quebrado ao pescoço, colheres de plástico, palavras corruptas e “culturas” da moda.

E desde penduradas ao pescoço esses cordões em malditos períodos, infundados projetos, até a tudo despejarem com raiva nos meus ouvidos e no meu coração, e assim abundam os gerúndios e as verborragias vazias nos palcos, palanques, ruas e guetos da vida.

Aos prantos, porque não haveria de ser o meu pranto? Ainda no fundo do mar há vestígios de sangue; ainda no fundo do mar há ossos; ainda no fundo do mar há lágrimas das filhas sem casar; ainda no fundo do mar há feitos, ainda que a outros mares já os tenham ido plantar...

Aos prantos atravessei mil vezes e mil vezes aos prantos hei de chorar lágrimas de quem não pode ver... Nem ouvir a voz no balanço das ondas do mar. Que dirá um feito que a morte não ceifou, pouco importa alguém ande agora com ódio a conjurar!

Mas na batida solene dos tambores africanos há tanto e nos vai tanto a ensinar! Mas até esses tambores alguns nos querem mentir?

Aos prantos não atravesso mais o oceano de água salgada; só o oceano de minha desilusão, devido a aula que alguns não assistiram, e se assistiram não compreenderam e vão sem eixo a menti-la.

Teria quebrado-lhe o eixo a cartilha, escrita em vermelho e por isso turvara-lhe a vista e ao coração corrompido amargura agora, o dissabor?

Mas também eles são vítimas de sua própria e insana desventurada ideológica e até ao alto elevaram um simulacro e depois a simulação... que  depois de alçados ao mais alto posto do país do Encoberto, vão voando.


2 comentários:

  1. Eles TAMBÉM são vítimas.
    E NÓS as vítimas deles.
    Contudo, há AUSÊNCIA de inocentes!

    __/\__ Boa sorte!
    Norma

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  2. Quando, Norma, quando finalmente o povo vai acordar?
    Essa sanha, infelizmente se espalha em todas as camadas.
    Colocar a voz num CD é preciso uma batalha...
    Cumprir prazos há muito está fora d moda.

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