DESPEDIDA
Ao passar por
lá – na rua das despedidas – não me despedi de ninguém por todos já terem ido
embora; pois, se não estou em erro é mesmo lá a rua das despedidas; por isso
não encontrei nem conheci ninguém em minha passagem fugaz, em que por lá andei.
Em verdade só vi hipotéticos vagos espaços, onde as pessoas não estão mais.
Sequer é possível dizer tratar-se de pessoas, por terem passado e serem agora apenas idéias de alguém em nuances invisíveis etéreas, uma tecido oculto feito de remendos de ex-indivíduos, uma forma fugaz engajada num corpo hipotético virtual, enquanto ente que dorme na imaginação de alguém, que por ali pensou e sentiu saudade da pessoa e até ouve as vozes que ecoam no silêncio.
Mas por ter se despedido, não estava mais por ali juntamente com todos que tiveram semelhante destino. Sendo ali então a rua das despedidas, todos aí vão despedir-se dos que partem. Mas os que partem, para onde irão? Uns dizem que vão à morte – por isso os supersticiosos temem passar por ali. Há também quem diga que os que partem vão para a vida; deveria então, em virtude da consagração da tradição humana ser aquele lugar de romarias, festas e homenagens aos que saem da morte e vão para a vida, mas eu lá não vi ninguém, nem mesmo velas acesas!
De qualquer modo, cabem aqui duas perguntas: teriam morrido em todos os sentidos da morte aqueles que acreditam na morte? Ou teriam passado à vida, no caso daqueles que acreditam na vida?
Mas de algum modo na rua das despedias guarda-se
em memória muitas recordações, pude sentir isto mais do que sabê-lo, tanto das
lágrimas de quem por ali passou despedindo-se a chorara dos que se foram,
quanto de uma estranha alegria de outros, e não importa qual o destino para onde
se suponha tenham eles ido.
Que é o outro lado da vida tanto para
uns quanto para outros, sem dúvida que sim; mas cá, entretanto, é onde as
crenças alimentadas com saudades, arrependimentos, perdões e o fim de muitas
tolices e crendices, sentimentos soberbos, mesquinhices, gestos prepotentes
acontecem, para finalmente tudo ali se encerrar para quem foi. E também os
nobres e elevados feitos, se a história os não guardar, com eles se foram.
Cessam igualmente aí bem e mal na
despedida de um estado para outro, quando a morte inevitável vem e sem pedir
licença leva qualquer um, sem termos a menor ideia do que virá depois, nem para
onde vamos. Existem muitas teorias, mas só muitas teorias. Só a rua das
despedidas é que é real, e até em metáfora, porque todas as coisas concretas
inversamente ao conceito que delas se faça são ainda metáforas; e só na
interpretação fria do rigor das letras são concretas, mas não existem de
verdade como nada existe com princípios de eternidade.
Também meu coração é uma metáfora no
sentir, enquanto bate concreto na sístole e na diástole marcando a passagem breve
do tempo. Portanto também não é meu coração. Tal como a rua das despedidas, mas
ainda assim eu passei por lá e chorei. Não sei agora se em lágrimas liquidas ou
fluídicas, mas chorei todas as que se choram, por quem lá passou de partida ou
despedida de quem ficou. Não morri nem vivi por ter passado por lá, tendo-se
como pressuposto a ideia de que à rua das despedidas só vá quem está indo; e
eu, porque escreva, ainda não passei daqui e ainda não fui.
Os que escrevem ser tornam imortais...para os ciclos acadêmicos ou para os amigos.
ResponderExcluirAbraço apertado pelo Dia de hoje.
Bjo Norma
Abraço que vitaliza, abraço que abraça a vida e refaz...
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