UM NOME
Escrevi meu
nome numa folha velha e decidi lançá-lo ao vento, na primeira soprada forte que
passou por mim.
Aquele acorde
característico nem ruído não se ouviram do encontro do vento com a folha, nem o
vento olhou para trás a ver quem lançara aquele nome escrito naquela ordinária folha.
Algum tempo
depois, já esquecido aquele episodio, juntamente com folhas de árvores secas e
uns gravetos quebrados milagrosamente veio ter aos meus pés, como se viesse me
cobrar a má hora em que por desgraça o jogara ao vento; e agora, coitado do meu
nome, já desfigurado diluía-se juntamente com a velha folha toda amassada.
Fiquei deveras
muito triste ao vê-lo assim, esfarrapado, mas rapidamente compreendi que eu não
sou ele. Não, eu não sou aquele nome, nem ele deveria ofender-se da má sorte
que teve de nomear-me por um tempo, nem de eu cansado dele lançá-lo no tempo!
Não porque eu exista
sem ele e ele sem mim, o joguei fora! Mas porque ele é somente um nome que sem
sujeito não nomeia ninguém! Neste caso seria eu o seu sujeito, mas já não sou
mais, depois que o lancei ao vento escrito naquela inútil folha de papel.
Hoje, farrapo imprestável
relegado à velha folha, será ainda substantivo próprio, se alguém o adotar e
tomar por nome dando identidade relativa a quem possuir um corpo; senão, não é
nada. Pessoalmente abdiquei dele para que seja apenas um nome qualquer que
lancei ao vento, escrito numa folha velha, mas com possibilidades infinitas de
ser adotado.
Mas porque numa
folha velha destinado a ir ao vento o dispensei, sem qualquer relação com a
minha história? Inconscientemente, talvez num momento sem compaixão por ele o
escrevesse sem imaginar que se desmanchará na primeira poça de água em que cair,
quando desapareceria aquele que me deu identidade civil, sem eu pessoalmente
lhe pedir!
Isto ainda não
está muito claro no modo de o dizer, mas tudo que começa com nome termina em número,
que também perde o valor numeral assim que na memória se apagar a imagem pessoal
que o adotara sem pedir e o tempo reduziu a pó, mas o nome resistirá á espera
que o adotem.
Ã-Hã! Você escreve aos domingos?
ResponderExcluir"Aquele acorde característico nem ruído não se ouviram do encontro do vento com a folha, nem o vento olhou para trás a ver quem lançara aquele nome escrito naquela ordinária folha."
Aos meus olhos...
...isso tá tão bonito que, quando você desistir do teu nome (a 1ª preferência já pe minha), dê ele para mim que eu o repasse para um arquipélago incrustado num mar turquesa ou para a estrelinha mais brilhante, recém-descoberta.
Às vezes braba (oi?), mas desconfiando que "Gente lesa... gera gente lesa", paparico os meus amigos... (^.~)
Boa sorte, Norma
Ta fechado, Normita, é seu. rsrsr Já te disse que és ímpar, no universo?
ResponderExcluirMe disseram isso hoje com outras palavras, e eu achei engraçado em relação a mim, mas não o acho em relação si.
Escrever aos domingos???
Sabe quando a gente abdica das altas esferas mentais e se recolhe a um cantinho numa quelha de uvas. lá na aldeia? É para lá que sempre vou, quando escrevo e lá é que eu quero ficar sempre...
Fraterno abraço, amiga!
O que vem a ser uma "quelha" é a armação onde se traça a videira?
ExcluirÉ isso?
Hummm, lembrei do vinho tirado do lagar... docinho... mas só para quem já é acéfalo na presente existência. Senão, vai preferir estar morto!
Hahaha, Norma
Mas não se esqueça de voltar!
ResponderExcluirFazes falta por aqui...
Bjo Nac♥
Quelha é uma faixa estreita de terra mais ou menos de 3 metros de largura, em que se plantam videiras ao correr. já tomou o docinho, natural? que delicia!!!! tomei altos porres na infância, desse.
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