terça-feira, 23 de setembro de 2014

OS OLHOS DA ESPERADA



Não é necessário dizer
Ao que se deva querer
Há tempos já nos deixou!

E não há sequer lembrança,
A mais remota esperança,
Que o tempo não levou.

Resta-nos ao fim da idade
Do amor grande saudade
Se a vaidade não a calou

E se ao final de um viver
Pudermos ao menos ver
Se o coração edificou

O quanto sem se fingir
Não andamos a mentir
E nosso peito o honrou,

Será a razão de agora
Descobrir-se onde mora
Nobre rito e o celebrar

Pois quanto tanto se chora
Em vez de dentro lá fora
Às cegas ir a buscar

O esperto comemora
Causa dano e prejuízo
E promete já pra agora

Mostrar-nos na mesma hora
Vida eterna e paraíso...
Mas nem é preciso dizer

Quem dessa água beber
Não terá boa lembrança,
E muito há de temer

Quando já ao anoitecer
Essa for a sua herança,
Mas quem na fonte beber

 

Que lhe anda a conceder

O dom de subir a escada

É certo que há de ter


Bem antes de anoitecer
Com clareza há de ver
Nos olhos da esperada,

Lá no céu Estrela Dalva
O caminho que ressalva
No rito de um altar

 

Se num andar peregrino,

Quase inocente menino

Em paz de amor se lavar.

Nenhum comentário:

Postar um comentário