quinta-feira, 28 de abril de 2011

A Saga das Prosas continua...


ANCIÃO
Sentado, à tarde, sobre uma pedra à beira do mar, olhava ao longe e só via água e céu, aquele velho homem.

Procurava no horizonte algum momento glorioso, que tivesse marcado à sua estrada e à memória.

Voltava ao tempo que já se fora, procurava as suas velhas conquistas, mas às de hoje deixava para trás, por lhe saberem mal.

Relembrava o mundo que a história havia imprimido em arte, e em boas obras de amor ao próximo.

Mas não via em nada do que lhe disseram do amor, qualquer essência presente; nem mesmo num volumoso vulto arquitetónico em faraônicas dimensões, modernas, nem grandes e fartamente anunciadas descobertas da ciência hoje.

Nem no céu as estrelas não comemoravam, pois não riam a brilhar; se não que em torno delas umas aureolas nublosas lhe pareciam chorosas, em vez do seu tão sonhado e ensejado canto a estrelar.

Mas as ondas e a voz do mar impávido, sem emoção, nem ligavam aos anseios de seu velho coração; e a seu lado estouravam na praia milenar o mesmo canto, que seus ancestrais andaram a ouvir.

Esse mar imenso fundo e largo sabe onde vai ter, mas não sabe o que de longe até ali à praia vem trazer.

Nem o seu futuro, porque os homens pequeninos e atrevidos andam agora afoitos e sem juízo até às praias a emporcalhar.

Em silêncio, lá no céu os astros também se negavam a responder; e ora um ora outro em brusco movimento em código a revelar, que boa nova, não se iluda, não, não deve à boa nova esperar!

E assim o velho homem já cansado, meditando perguntava ao céu e ao mar acerca do futuro, mas como resposta a terra agora às suas costas não lhe dera,
também a negativa do céu e do mar em névoa escura em alto muro se ergueram, e até de sua inquietação se puseram a desdenhar!

Por quê? Ainda em seu coração se pergunta, não aprende o homem com o mar, com as estrelas, com os répteis, com os insetos, uns com os outros as coisas boas de cada lugar?

Só ignomínias e tragédias da mídia e do inconsciente coletivo que os andam a defecar, é só o que tolo pode acreditar?

Cego ainda com o recente sucesso de umas quimeras gerais conquistadas, não prevê o que o mar já vê ser mais um fracasso.

E segue a mesma trilha tão calcada e a alardear seguir “o novo” e cego ao acaso enuncia que é o melhor modo de caminhar! Mas para onde? Para o caos?

Bebe o pior vinho já envolto, comemora o ano velho e brinda ao novo, quando o verdadeiro e régio caminho livre passa ao largo.

E assim vão todos soltos na prisão, procurando onde o que procuram não está por estar onde sempre esteve: escondido no seio oculto do povo, mas onde o mesmo povo não o vê!

E assim procuram fora onde não há nada, e buscam dentro recordar o que já passou; sem ser nenhuma estrada nem mera pista de baile riem e dançam ao som de uma canção, que o próprio tempo ainda não cantou.

Mas ao velho e humilde homem, o céu bondoso e o mar complacente em gesto derradeiro vieram brindar, formando um vulto altaneiro a dançar.

E o brilho do céu e a espuma do mar formaram então a imagem de uma linda criança, sorrindo, que veio até ele feliz, se apresentar.
E ele, de lágrimas nos olhos em agradecimento, os fechou para sonhar.

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