domingo, 30 de outubro de 2011

ANCIÃO



Sentado, à tarde, sobre uma pedra à beira do mar, olhava ao longe e só via água e céu, aquele velho homem. Procurava no horizonte algum momento glorioso, que tivesse marcado à sua estrada e à sua memória.

Voltava ao tempo que já se fora, procurando as suas velhas conquistas, e às de hoje deixava para trás por lhe saberem mal. Relembrava o mundo que a história havia imprimido em arte, e em boas obras de amor ao próximo; mas não via em quase nada do que lhe disseram do amor em essência presente; nem mesmo num volumoso vulto arquitetónico em faraônicas dimensões modernas, nem grandes e fartamente anunciadas descobertas da ciência hoje.

Nem no céu estrelas comemoravam, porque rissem a brilhar; senão que em torno delas umas aureolas nublosas lhe pareciam antes chorosas, em vez do seu tão sonhado e ensejado canto a estrelar.

Mas as ondas e a voz do mar impávido, sem emoção nem ligavam aos anseios de seu velho coração; e a seu lado estouravam na praia milenar o mesmo canto, que seus ancestrais andaram a ouvir.

Esse mar imenso fundo e largo sabe onde vai ter, mas não sabe o que de longe até ali à praia vem trazer; nem o seu futuro, porque os homens pequeninos e atrevidos andam agora afoitos e sem juízo a desfazer.

Em silêncio lá no céu os astros também se negam a responder, e ora um ou outro em brusco movimento, assim lhe parece, vão por código a revelar que boa nova, não se iluda, não, não deve haver!

E assim o velho homem já cansado meditando perguntava ao céu e ao mar acerca do futuro, mas resposta alguma às suas costas não lhe dera nunca a terra, e tinha agora também a negativa do céu e do mar que em névoa escura e em alto muro se ergueram, e de sua inquietação se puseram a desdenhar.
Por quê? Ainda em seu coração pergunta, não aprende o homem com o mar, com as estrelas, com os répteis, com os insetos, uns com os outros as coisas boas de cada lugar? Ignomínias e tragédias da mídia e do inconsciente coletivo são só o que anda a defecar!

Cego ainda com o recente sucesso de umas quimeras gerais conquistadas, não prevê o que o mar já vê ser mais um fracasso; mas assim mesmo segue a mesma trilha já tão calcada e gasta e diz seguir “o novo!” Mas ao acaso enuncia que é o melhor modo de caminhar...

Bebe o pior vinho já envolto, comemora o ano velho e brinda ao novo, quando o verdadeiro e régio caminhar livre passa ao largo; e assim vão todos soltos presos, procurando onde o que procuram não está por estar onde sempre esteve: com o povo, mas só também quando o povo está com o todo, para além do homem que segue e é o seu líder!

E assim procuram fora onde não há nada, e buscam dentro recordar o que já passou; sem ser nenhuma estrada nem mera pista de baile riem e dançam ao som de uma canção, que o próprio tempo tampou os ouvidos para não ouvir, de tão ruim.

Mas ao velho e humilde homem, o céu bondoso e o mar complacente em gesto derradeiro vieram lhe brindar, formando um vulto altaneiro a dançar; e o brilho do céu e a espuma do mar formaram a imagem de uma criança, sorrindo, trazendo uma legenda no peito onde estava escrito:LPD e veio até ele feliz, se apresentar.
E ele, de lágrimas nos olhos, em agradecimento os fechou para sonhar.

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