quarta-feira, 6 de junho de 2012

Texto para Teatro


Ato Quinto

E foi então que vi um terceiro homem de letras, astuto e bem resolvido;
Sentidos afiados, corrido, dialético, pleno, fleumático,
Frio, intelectual, bom papo, legal...
Trazia abertas uma porta e uma janela, por onde acreditava desvendar o Universo!
Mas, apesar de todos os predicativos da porta e da janela abertas,
Só lhe servia o que em si entrasse com facilidade e à mão estivesse.
Contentava-se com o sapato que coubesse no seu pé, confortável.
E lhe bastava o que agradasse ao seu paladar.
Mas ria-se muito, afinal, o universo é simples e já, farto alegre,
Correndo, pragmático, material e muito bom como está.
Mas quando falava por ele o seu outro Eu Anarquista,
Se esse personagem melhor lhe servisse, nada mais tolerava nem queria ouvir,
E tramava nos bastidores para criar um déspota que elegeria como ditador...
Curiosamente corria à sua porta um pequeno regato de uma filosofia
Materialista, e fragmentos de outras semelhantes que àquela se juntavam.
E naturalmente o seu intelecto, para o gasto bem formado.
Porém, como bem diz o velho ditado, na forma mais densa e pesada de uma só crença,
Um só estilo de música, - a sua música- e às vezes apenas um vinho,
(se herdara ou aprendera o gosto de um bom vinho)!
Se não, só um lado das coisas, que era o seu lado!
Todavia fingindo alto saber, elevando-se num estrado,
Nem se dava conta de que fora de madeira construído,
E pela voracidade do cupim num piscar de olhos desapareceria!
E por onde deveria entrar luz ou sair boa jurisprudência
Ou tese doutoral para o bem comum, nada, desse não saía nada!
Apenas qual Narciso refletia a si mesmo em patética forma teatral.
E foi assim que eu vi a sua projeção astral no espelho,
Enquanto à sua janela alguém seguia em frente à vida,
E ele ria, enquanto aos poucos a sua imagem se apagava,
Quase sem deixar rastro, e sem deixar memória longeva!


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