sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Vento (Ciclo da Nnova Era)

Ao passar por mim o vento, duas belas coisas me soprou: ele próprio moderado em brisa fresca, à noite, e o perfume de jasmim, que às minhas narinas ofereceu.

Mas também em outra ocasião ao passar por mim, num lamento fez-me recordar de quando andei em prantos, pasmado a soluçar.

Já outra feita, ao passar por mim, fresco, à noite, levou-me a muito custo quem se fez presente no passado, e hoje é em minha alma a saudade... Por isso cumpro sozinho o meu caminho, sem olhar para trás.

Mesmo que bem pertinho vá alguém comigo a caminhar, sorrindo ou a chorar. Sempre do lado, sempre a estender a mão, a pedir um trocado...

Mas, afinal, por que embora andando vá ocioso e desocupado? A esperar caia do céu, sempre a estender o chapéu, sempre a pender do lado?

Enquanto seguir pedindo pelo caminho, tropeçando nas próprias pernas pelas ásperas e duras pedras a dizer querer ir pelo mar, mas indo por terra; remando contra a maré caminhando, quando deseja esperar; sem nada de seu haver, quando tanto quer ter e possuir; mas a pedir, só a pedir sem nada produzir para ter: ainda que bem perto vá assim alguém a caminhar, é melhor não olhar, é melhor nem ver!

E foi assim que também outra noite ao passar por mim o vento duas premissas me deixou: numa me dizia que deveria seguir em frente, sem esperar encontrar tesouros nem desejar viver pensando em morrer para ir para o céu; outra que deveria dar morte ao lado de fora desse viver sem viver ao relento e ao léu...

Pois que o ir passando em vão, é verdade, que se em vão se passa na terra, em vão não se vai ao céu...

E assim muito breve disse-me ainda agora há pouco o vento suave a passar num lance finito, nas folhas num simples agito, a murmurar...

Por isso deixo que de mim leve este meu papel, personagem, pelo ar; leve-o com todas as quimeras que de mim puder afastar; e a nada permita as possa reter; ninguém capaz de as retardar; e não mais a partir de então, vão quantos agora em vão a alardear a fingir que vão!

Pois nem uma folha ao vento, não vai por encanto ou magia, ao vento a voar.

Um comentário:

  1. Sim.
    Tal personagem vive em algum lugar de ti.
    Mas não entristeces não, porque por alguma OUTRA magia vai esse papel a voar.
    ..sonhos de cavaleiro...

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