ENIGMA DAS PORTAS
Fecharam-se todas as portas da terra uma após a outra, até
todas completamente cerradas furtarem os ânimos com que se poderiam abrir as do
céu. E eu, encerrado neste arcaico pote, o que farei?
Envelhecido, nem o tempo confere já um tom artístico, que
até uma velha lata amassada possui como estética de lata velha amassada. E eu?
Nem isso!
Absolutamente decaído, sou o rei deste meu reino passageiro
de portas fechadas. Não abri as metafísicas do entendimento em tempo hábil, fiquei
preso dentro de mim. Por isso este complexo ser, por não saber como
“descomplexar” o corpo corruptível, este o leva à morte. E sem ter para onde ir,
por não ter sequer aberto janelas para além daqui, queda-se estático no espaço
reduzido de um órgão!
E então de portas e janelas fechadas, não há como ir aos
floridos campos da imaginação, para aí reencontrar enlevos de saber e de
esperança, quanto a desvendar o enigma da vida.
E assim continuo alheio sem saber nada dessa estranha onda
que anima corpos, pensamentos, árvores, insetos e até as pedras, além da
consciência instintiva dos farrapos pendurados no cordão das coisas, dos livros
e das vistas, por onde já nem descem lágrimas de ignorância.
Mas, vê-se ainda como único prêmio um quadro pendurado na
parede, cuja moldura de cedro enrolada com um cipó de jasmim sugerindo o seu
perfume abstrato, único refrigério de espírito e a suprema arte de um cipó, que
lembra perfume, a única parte, talvez, de uma cena onde posso imaginar
esperança.
Ainda assim, apesar de todas as portas fechadas da terra e sem
ainda ter aberto as do céu creio na suprema beleza abstrata do espírito, em
tudo que possa imaginar meu.
E naturalmente também por ter-me intuído e gravado eu pessoalmente
a minha marca, enquanto executor de mim mesmo.
Por isso, não há mágoa porque seja eu, eu, cujo destino ao meu
carma pessoalmente teci-o, não obstante não acreditar em sina.
E é assim que eu sigo em frente tecendo-o! E descrendo e
crendo hei de ser eu, pois de fato sou realmente eu e sem poder ser outro, sou apenas
órgão, sou apenas algo dentro desse órgão debatendo-se para ir além.
De modo que, congênito ou carmático não creio ser
totalmente responsável pelo que fiz ou deixei de fazer, resultando no
fechamento das portas de ninguém. E reparto a culpa, se a houver, com outros
eus em mim arcaicos e só.
Também não me importa saber se alguém se interessa por
portas fechadas ou abertas. Digo apenas que semelhantes portas para além de
metáforas servem na vida como reais sentidos, a serviço das faculdades sensíveis
e cognitivas.
E ao longo do tempo edificando a consciência vão engajadas
dentro da personalidade, tendo já adquirido uma carcaça ou pote perecível e
descartável.
Mas, em verdade este enredo tem também como meta abrir as
portas do céu, subjetivas, naturalmente, sem que se as possa denominar psicológicas
no sentido clássico do termo, embora físicas elas realmente não sejam; tanto
aquelas hipotéticas e as de madeira, quanto as de ferro forjadas a fogo.
Abstratas ou metafísicas é a melhor expressão para aquilo
que realmente definem como universalização da consciência, enquanto portas canônicas...
(de qualquer forma... portas)
É mais ou menos isto o que representa a parábola portas
abertas ou fechadas da terra, portas abertas ou fechadas do céu.
Estando muito claro para quem as abriu ou pretenda abrir,
que para isto muito pouco conta a fé.
O método clássico de abri-las tem como primeiro passo a
audição, seguida muito de perto do silêncio; e, coroando de êxito todo o
processo a atenção, antes de se entrar ou sair por uma porta. Este primeiro exercício
visa fortalecer a vontade e com ela fortalecida aumentar a sensibilidade, e eis
as verdadeiras chaves que se encaixam nas fechaduras das portas...
Daí em diante há de se buscar o método pessoal, pois não
sei exatamente o quê nem como será o retrato da alma; porquanto, também saiba,
ninguém tem competência para dar-lhe conteúdo; julgá-la, então, humanamente
impossível!
Mas é a alma para mim, no momento, apenas uma página
transitória de história a passar na minha frente, não sendo totalmente eu.
Talvez mero retrato instantâneo de um ser tão complexo, que a maior tragédia
está em não haver ontens. Porém tragicamente triste, é ver ruir o mundo, tão
sólido!
Desabar estupidamente sem esperança de amanhã, só porque os
ontens foram trágicos e também os hojes ainda os são! Infelizmente, o horizonte
já não sorri para que aos seus dentes de marfim vejamos brancos, branquíssimos.
Uma porta lhe falta, Amigo meu:
ResponderExcluira porta de marfim, a que separa
a terra, que ao inferno se compara,
do paraíso a que chamamos céu!
JCN
Essa, meu bom amigo é secreta,
ResponderExcluirmas já vi à distancia o seu portal
coincidente com a indicativa seta,
que anunciava a entrada universal.
olá julio, você tem acima o conselho do poeta maior, Portugal! seu amigo, seu apoio, e tanto quanto possa compreender o querer bem; então julio com relação a este post, "enígma das portas" posso ousar comentá-lo, mas é escolha vossa, ou não. A sabedoria e a prudência são irmãs do conselho.
ResponderExcluirClaudia, ainda assim salve a língua,
ResponderExcluirque esclarece e confunde!
Por isso amo a nossa lusa mãe...
Mas para quem sabe do fio da navalha e sobre ele caminha,
meu texto é um hino ao livre arbítrio.
E já somam mais de 7 bilhões de livre-arbítrios!
Não é mesmo?
Salve a porta que se abra ao novo e se feche ao velho!
Portas há para sair
ResponderExcluire bem assim para entrar:
só não as há para eu ir
o meu amor visitar!
JCN
Precisa o novo do velho
ResponderExcluirpara se diferençar:
é bom que exista o vermelho
para o negro... realçar!
JCN
Mas por essa porta cabe
ResponderExcluirque em vez de sair se entre,
e invisível, quem sabe?
esteja agora à vossa frente!
Quem sabe?