quarta-feira, 30 de maio de 2012

UMA OUTRA PORTA




            Existe sempre uma porta aberta, para compensar aquela que se fechou. Pena é que raramente seja vista, ainda que muito larga, tremendamente alta, e eleve a grande altitude ou desça a grande profundidade.
            Dolorosas penas que por serem penas não deveriam pesar pesam, contraindo e enfiando nossa cabeça ombros adentro, enfraquecendo o nosso pequeno ser sustentado numa coluna “vertebrada”.
            E esse peso que afunda a nossa cabeça pressiona também os nossos olhos, fechando-os; e nós, já antes meio cegos, aí é que não vemos mais nada!
Conquanto magnífica porta aberta fruto de todas as que se fecharam, há de congregar as virtudes e os talentos adquiridos no ato de fechar e abrir, o que tenha animado ao entrar ou sair, criando luz própria e iluminando o caminho, pouco importa se apenas o clarão do vão da porta aberta ilumine.
Pena é todos não verem essa bela e magnífica porta! E às vezes só por medo de olhar lá fora cerrem os olhos a chorar penas, enfiando a cabeça quando não no peito, em qualquer buraco da terra, imitando o avestruz, ainda que muitos insistam na mentira de olhar dentro!
Há quem diga de quem nessa porta especial entrou, por ela nunca ter saído. Mas não é verdade. Afinal, quem revelou as suas virtudes não poderia ser outro se não aquele que por ela entrou e saiu maravilhado!
Mas existe mérito no fato de muitos duvidarem de suas virtudes. E assim é que se criam mitos negativos, demônios assustadores e se desenvolve o sentido instintivo de autodefesa, fugindo de medo.
Também esse medo cria o instinto de defendê-la pela fé, outros há que morrendo de pavor lançam sobre ela mentiras, atribuem-lhe crimes e cobrem de injúrias.
Todavia, e isto é uma pena, são esses que a carregam às costas, arrastando-a, em vez de nela entrarem sem temor, e de olhos abertos descobrirem o que há dentro ou além dela para ser visto.





3 comentários:

  1. "Existe sempre uma porta aberta, para compensar aquela que se fechou. Pena é que raramente seja vista, ainda que muito larga, tremendamente alta, e eleve a grande altitude ou desça a grande profundidade".


    Olá julio, sabe que poucas pessoas tem o dom de escrever a respeito de sentimentos tão especiais quanto você, embora saibamos que a generosidade das palavras em compartilhar ao outro é que de mais precioso possamos oferecer, a recôndita dinâmica da compreensão do querer bem, a inocência; a ternura com que descreva por acariciar o sentido da existência e para além deste sol que brilha em seu interior, creio no meu e de tantos que atendem por abrir da porta.


    atenciosamente,

    ResponderExcluir
  2. Olá Claudia!
    Saiba que você é, também, de alguma maneira uma porta que se abriu no meu horizonte quase sem fronteiras.
    Espero que se sinta sempre bem por aqui, e quando não lhe agradar o que escreva, desculpe.
    Estou recolhendo prosas para um livro, onde pretendo mostrar minha indignação política, minha inocência, mas também meu querer bem só por querer a quem de repente...mesmo sem olhar nos olhos, se olhe através da alma.
    Obrigado amiga!

    ResponderExcluir
  3. Agradeço a gentileza ao meu pouco entendimento, e por vezes, ouso estender da compreensão a vossa prosa; e assim tem descrito os temas: sentimento, força e graça! a seguir outro facto, tomado em vez, a inclinação política. e julio, nem consigo desta trajectória implicar entre igualdade ou diferença a temas; e você descreve com dedicação na busca do perene, sintonia em mover da beleza contemplativa, uma dádiva de elevada serenidade; se atrevo é respeito, mas, do pensamento sã por onde conciliar, outros assuntos de vossa angústia, inclusive como coloca a indignação.

    atenciosamente,

    ResponderExcluir