Este livro na sua mais íntima essência tem a marca indelével de múltiplos personagens. Mas nenhum deles defende verdades definitivas. Nasceu por acaso numa região desconhecida na alma do autor, onde ele nem sabia existir tanta indiferença e contradição entre seus entes co-autores.
Enquanto
sujeito do singular e chefe supremo dessa tribo senta-se às vezes a um canto de
sua mente observando o jogo personalista entre eles, mas nunca interfere entre
esses passageiros egos que se manifestam e escrevem através dele.
Fica
alerta quando alguém de existência duradoura e com identidade mais sólida se apresenta,
mas estranhamente sempre é o mais infantil a quem carinhosamente toma pela mão e
guia seus passos, acalentando-o, gentilmente, desejando mesmo prolongar a sua
existência. Um ou outro ente político, para não fugir à regra pede a palavra amiúde,
e de fato são esses os causadores de sua irritação e quem à sua alma imprime o
tom melancólico, mergulhando-o desolado na solidão de sua existência terrena.
Resultado
do choque entre personagens opostos, este livro contém algumas contradições, mas não sofreu
a mácula nem o contágio de influências estranhas à sua gênese original, devido o
profundo respeito do ente central aos grandes autores, a quem não ousaria
macular. E aos falsos profetas das letras a quem despreza profundamente sequer faria
citações. Reconhece a originalidade de cada personagem, embora não lhes atribua
traços de genialidade.
Não
foram esses egos criados a caráter para esta tarefa literária, já existiam
antes do livro no âmago do autor, e há entre eles um que recua no tempo muitas
eras, antes mesmo do autor nascer.
Em
razão desta babel não faltariam nele clarões de esperança nem escuras vagas
de melancolia. Mas jamais intencionalmente a qualquer desses estranhos egos
fora concedido o atrevimento de agredir alguém, ainda que suas identidades metafísicas
pudessem servir-lhe de esconderijo, pouco importando os seus caracteres de “Meta–Fixos”.
Nem mesmo ao ente político, mesmo que ao conjunto de egos falantes seja patente
o sentimento de profundo desprezo à escória que ora politicamente dita as
regras da vida coletiva.
Mas
quem em sã consciência teria hoje uma palavra gentil para dirigir ao coletivo
da classe política? E talvez por esse momento histórico em que a Nação/Estado
vai mergulhada no fosso moral e o caráter revogado por decreto, a vida enquanto
hipótese sendo apenas esperança, em virtude da irrevogável certeza da morte
como saneadora agente, em algum lugar deste livro é cantada com alegria e alvissareira
redenção.
Também
estes egos não são heterônimos.
Representam
somente estados diferenciados, em momentos alterados da consciência central do
autor. Imperativos, de reação espontânea podem nem ser perceptíveis as
diferenças entre eles, mas numa leitura mas acurada nota-se até o tom da voz
alterada para mais grave ou mais amena de um ou de outro. E reina durante o
desenrolar da trama inevitavelmente paz e guerra, Deus e Diabo, numa luta onde
surge a incerteza desafiadora num constante desafio por respostas e elementos
definitivos, que não tenham fim.
Ah,
momentos! Egos estranhos e sem identidade formal poderiam desconcertar ainda
mais este livro, mas nasceu quase do nada, não mais do que de meia dúzia de
palavras. Depois foram surgindo esses egos momentos e ao sucederem-se foi tomando
corpo até o estagio considerado extremo.
E
a finalização abrupta dá-se no momento em que verdades perigosas começavam a
bailar em ritmo alucinante na ponta da língua de um ego extremamente rebelde e perigoso
sem limites, que se manifestaria vez primeira, revelando verdades necessárias
para despertar o povo que dorme. Nascido da mais profunda indignação com os
desmandos do grupo dominante dos últimos anos, é pena que o autor sufocou-lhe a
voz, é pena! Mas no silêncio reverbera alto e forte o seu canto abafado, e o
seu pensamento impossível de evitar impresso no cosmos já está criando
arquétipos de futuros guerreiros da palavra.
Pois
também a fome do povo acalenta e fortalece esse canto! E um dia ecoará nos
côncavos vales onde campeia a miséria escondida com programas virtuais muito
bonitinhos e caríssimos, cujos atores muito bem vestidos na televisão parecem até
exalar os seus perfumes em largos sorrisos.
Ah,
mas a fome continua muita feia e não é nada perfumada! Tomara venha então à luz
esse eu ora trancado no âmago do autor! Tomara enquanto oculto se fortaleça e nasça
com a força de um vulcão, dando corpo à dimensão que tenha adquirido no cosmo, para
terminar o que nem a mais grave enfermidade não conseguiu sequer calar!
Tomara
ganhe coragem o seu pai e o liberte para que a sua espada da palavra faça o que
precisa ser feito com a mesma eficiência com que os simulacros de estadistas
mentem e enganam o povo com esmolas e pratos de restos de comida!
Repetindo,
embora este ego tenha sido calado, não o será definitivamente. Ainda que oculto
e em extrema omissão o autor o sufoque, poderá na calada da noite libertar-se e
ao som de potente trombeta derrubar os muros do castelo mal assombrado, da
capital do reino dos corrompidos.
Ao Meu Amigo JCN,a ideia de um poema caminho.
ResponderExcluirCaminho
Mas é preciso caminhar!
Seguir em frente cada um o seu destino
Cumprindo um fado ou carma adquirido
Por ter vindo à sua vida a consagrar.
Mas é preciso caminhar!
Que o tempo não espera quem se atrase
Escravo do momento ou no tempo em que jaze,
Porque cego nem o visse a passar.
Mas é preciso caminhar!
Ainda que parado olhe sem ver nada para trás
Algo caminha em seu corpo nos pequenos ancestrais
Pela vida afora em si até parar.
Por isso é preciso caminhar!
Que neste ato de levar com nós a vida à frente
É onde Deus por bem resolveu morar na gente
E vai de gente em nós em frente
A caminhar...
Para o meu carismático Amigo Júlio Teixeira como um eco da sua grata solicitação:
ResponderExcluir*
Fecho de conta
Estou chegando ao fim do meu caminho,
já pouco me faltando para andar,
mas não desisto de continuar,
mesmo que seja mais devagarinho.
Seca e meca corri por esse mundo
com minha casa às costas, sabe Deus
devido à acção de quantos fariseus
me dedicaram seu rancor profundo.
No meu país termino a caminhada,
feliz de haver amado e ter vivido
com meu amor sem par correspondido.
Falta-me a Deus prestar as minhas contas,
que por sinal há muito tenho prontas
sem para trás… ficar a dever nada!
João de Castro Nunes