quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

ÁRVORE PÁTRIA





Eu sou aquele viajante que partiu de sua Pátria um dia, e nunca mais voltou. Desde lá caminho sem parar e o faço apenas pelo dever de caminhar. Tenho noções do rumo, mas não sei exatamente onde irei ter. Não seguirei à esquerda cega, nem à direita gulosa. Mas não deixo de seguir a minha estrada, ainda que o faça sentado na calçada de qualquer esquina da vida, onde seja possível pensar. E este pensar é sem dúvida o meu único e possível caminho.

E se eventualmente nele encontrei espinhos, hoje já me não ferem. Embora os sinais indeléveis marquem meus pés e a minha alma. Mais a alma do que aos pés; todavia grato lhe sou por tudo quanto colorido há no mundo e a meus olhos permitiu que eu visse.

E há agora um pouco colorido em meus dias, onde outrora existiram lágrimas, que grande tolice, e às vezes em crises profundas mágoas, que grande asneira!

Não as choro nem as sinto mais daqueles espinhos, mas como as pedras brutas pelo caminho ainda ferem quem por elas ande... Alguns obstáculos ainda hão de existir, para me acordarem e lembrar, mas já sem às lágrimas segregar. Para quê? Chovê-las por serem líquidas, ou vertê-las por serem tristes e espúrias? É possível ser triste sem chorar, salvo precisemos lubrificar as pupilas e manter os olhos abertos sem sofrer.

Este é o código dos navegantes; e estas são as armas dos guerreiros da paz. Existem outras, mas a essas outras não as conheço. Não permite minha humilde formação conhecer muitas coisas, nem sou culto para depositário de algum saber mais alto ser.

Contenta-me o andar calmo e leve sem grandes pesos carregar, que os meus ombros fracos não agüentariam grandes “bens”... Talvez tenha sido até um pouco indolente com os bens mais caros, mas ainda assim vale-me o sacrifício de seguir mais livre e sem patrimônios a prenderem-me a qualquer lugar.

Ao vento suave que ao passar a brisa sopra-me o longe, o incógnito, exalto em louvor quando o sol quente aquece-me a cabeça e a faz vacilar na direção incerta. Mas louvo ao sol, como não poderia deixar de fazê-lo pela luz e pela vida verdejante à beira do caminho colorindo o mundo, para quem passa.

E para não dizer que não sou nada, digo que sou o caminhante sem pátria; mas não sem pátria do ninho onde nasci e onde estou e vou agora! Sem pátria das regras, sem pátria dos preconceitos, sem pátria dos códigos secretos, sem pátria dos politiqueiros, sem pátria dos ditadores que sem pátria vão por eles muitos desvalidos em pátrias dos de ninguém, sim.

Minha verdadeira pátria é o universo, mas é também minha terra humilde; e como Ele disse é “minha língua”, meu coração, o meu pensamento, meus irmãos do mundo e se o conheço e dele possuo ainda que um mísero e parco entendimento, é também o meu Amor.

Mas a verdadeira pátria é a árvore da vida universal, onde consciente ou inconsciente estou a pensar e a sentir – e se no fim nisto se resumir o ser, sou um ser... Patriótico sem pátria, porém sou um homem pátrio da minha língua e do meu sangue.

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