segunda-feira, 14 de maio de 2012

Poema maravilhoso de Antero de Quental


Poema maravilhoso de Antero de Quental

Fui rocha em tempo, e fui no mundo antigo,
Tronco ou ramo na incógnita floresta…
Onda, espumei, quebrando-me na aresta
Do granito, antiquíssimo inimigo.

Rugi, fera talvez, buscando abrigo,
Na caverna que ensombra urzes e giesta;
Ou, monstro primitivo, ergui a testa
No limioso paul, glauco pascigo…

Hoje sou homem, e na sombra enorme
Vejo, a meus pés, a escada multiforme,
Que desce em espirais na imensidade…

Interrogo o infinito e às vezes choro…
Mas, estendo as mãos no vácuo,
Adoro e aspiro unicamente à liberdade.

7 comentários:

  1. Ao meu jeito, cem anos depoiS:







    Pó de estrela

    No rasto de Teixeira de Pascoaes

    Fruto de milenária evolução
    e de matéria orgânica formado,
    antes porém do meu presente estado
    fui luz de virtual constelação.


    Vim das galáxias, sabe-se lá quando:
    talvez já fosse pedra, lama ou flor
    que em espiral se foram transformando
    por obra do Supremo Criador!


    Bicho da terra, como diz Camões,
    matéria vil de vísceras e ossos,
    sujeita a toda a casta de emoções,


    ufano-me de ser, em todo o caso,
    entre montões de cósmicos destroços,
    o pó de alguma estrela… em seu ocaso!


    João de Castro Nunes

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    Respostas
    1. Diria eu, mero amador das poesias,
      maravilha essa arte
      que João de Castro Nunes
      compartilha por aqui
      e me hora fazer parte...

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  2. E ainda:

    *


    Cósmica saudade




    Eu tenho a poderosa sensação
    de já ter sido uma outra criatura
    com diferente forma, outra estrutura,
    uma outra natureza ou condição.


    Terei já sido luz primordial,
    porção de Deus, do paraíso expulso
    devido a por incontrolado impulso
    perder minha inocência original.


    Fui pedra, arbusto, fui roseira brava,
    água da fonte que refresca e lava,
    àguia talvez, bicho da terra, nada.


    Hoje, fazendo parte da manada
    que integra a infortunada humanidade,
    de tudo tenho um pouco de saudade!


    João de Castro Nunes

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  3. Para terminr, em jeito de oblata:







    Amar as pedras


    Não tratem mal as pedras: elas têm
    uma alma como nós; quem sabe até
    se não possuem como nós também
    um sentimento crédulo de fé!


    As pedras têm também sua cultura
    que importa conhecer e respeitar,
    havendo-as ideais para a escultura,
    outras especiais para talhar.


    Desde os seixos rolados aos calhaus
    tiveram de passar por muitos graus
    até chegar à forma que possuem.


    Trago-as no peito, mesmo as dos caminhos
    que me merecem todos os carinhos
    que em sua casta voz… me retribuem! 1!


    João de Castro Nunes

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  4. E ISTO É VERDADEIRO!
    Gritam as pedras e choram as plantas!
    ganem os animais, e o homem?
    Nem todos, é verdade, mas uns riem
    e atiram pedras nos animais,
    derrubam árvores para queimar
    por queimar sem saberem que o fogo
    tem na chama a forma caótica do espírito,
    que está por trás.
    Mas vale a sentença de servir...
    Por isso "bendito o leão comido pelo homem,
    maldito o homem comido pelo leão".

    Faça-se mais presente,

    nobre e grandiloquente poeta João de Castro Nunes!
    Ou me empreste um colher de palavras bem temperadas. (riso)
    E o Livreto?

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  5. caro julio, você é privilegiado
    e de poetas ao indagado, saibas!
    semente guia a correnteza no alado
    brotando a paz da hora, que o caiba.

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