segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Dúvidas quanto à origem das borboletas



Triste e desanimado pensei-me até vitima; mas, refeito, mais calmo e ouvindo Haendel, ocorreu-me perguntar: de quem seria vitima? Do mundo? De minha mãe, que sem saber que eu viria gerou-me? De meu pai, que sequer sabia que eu andava em si e no ventre de minha mãe lançou-me? De mim mesmo, que deveria ter “crescido” e não “cresci”? Da civilização humana que deveria dar-me instrumentos de construção da felicidade e não deu? De quem sou, afinal, vitima?
Certamente não serei mais vítima do mundo do que outro cidadão rico ou pobre, mortal ou “imortal” que por aqui vá envolvido em sentimentos de prazer ou de agonia, feliz ou infeliz. (Mas porque alguém seria feliz com os objetos que recebe e sustentam o mundo)?
Pensei-me vítima de muitas outras coisas, mas diante dos acordes da música sublimada de quem sabe o que faz com as notas e escreve melodias dentro de um ritmo absolutamente equilibrado e de uma harmonia maravilhosa, não sou vítima de mais nada! Embora me sinta pequeno... Mais do que antes!
A vida - parece-me agora - é realmente um drama ante a incógnita e o incerto. E não me venham com fórmulas psicológicas nem crendices dogmáticas, que a vida sempre será heróica, e com absoluta dramaturgia, “vítima” apenas do desconhecido novo; pois só o escuro do amanhã gera preconceitos e ignorâncias, medos e sofrimentos infundados; ou fundados, mas onde?
Só mesmo no véu negro da noite do futuro, onde a mais bela e legitima esperança é sonho, apenas sonho, para não ser pesadelo astral. Diferente dos códigos mais ou menos racionais, em que uma minúscula borboleta é uma minúscula borboleta. Mas o que é uma minúscula borboleta?


Efêmera em Portugal, mas não deixa de ser efêmera e frágil também no Brasil a frágil borboleta.
Pensei-me vítima, e realmente sou, mas só de minha mente em conflitos e de minha emoção fora do eixo, porque entre isto tudo que rodeia e forma o saber universal a meu dispor, não sei o que é um ser real. Mas já agora, o que é afinal um ser real?
Diante de todas as dúvidas, como certificado de todas as certezas o que realmente pode ser verdadeiro e permanente? A incógnita, que no fim é uma hipótese, é o mais próximo que se pode chegar de uma possibilidade. Mas que, por ser possibilidade nos desafia e obriga a caminhar.
E com razão, diante das circunstâncias inevitáveis haveremos de sentirmo-nos vítimas. Todos nós vítimas de tantas dúvidas e de nenhuma certeza. Exceto, repetindo: “a hipótese da vida, e a certeza absoluta da morte”. Mas o que é que vive e depois morre?

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