Essa coisa de fazer da palavra uma arma, é bom lembrar ao atirador que depois
de disparada não tem volta, e perde o seu controle quem a dispara, passando
imediatamente ao domínio público, com todos os acréscimos e deformações que cada
um que a ouvir for capaz de falsificar. Nunca, todavia guardará sequer semelhança
com a palavra original, no momento em que for disparada. Pois até para o
atirador momentos depois já é outra coisa, ainda que mantenha a grafia! No
sentido conceitual, mil outras coisas logo nos primeiros instantes passa a ter no pensamento do atirador. Imaginem em quem a ouve!
Mas vale a pena semear e depois de nascidas, cuidar bem das palavras.
Imaginar que houve um tempo que não existiam palavras e as pessoas balbuciavam monossílabas
depois faziam rabiscos, e mesmo agora quantas pessoas ouvem-nas, e nem
desconfiam o que significam? Outros, usando metáforas são capazes de dizer sim
querendo dizer não, mel para significar o mais amargo fel, e há também uma
classe de gente que ao usar as palavras dá-lhe o pior castigo que um idioma
pode receber sem poder fazer nada... Se você pensou que essa gente é a política
dos últimos tempos e nomeadamente da situação, acertou em cheio.
O uso permanente em sentido inverso da semântica, o ataque frontal à
regra e o valor absolutamente falso das palavras, fazem-nas sentirem-se
marginais e cúmplices desses bandoleiros da língua, da moral e do caráter, que
as submetem a esse flagelo.
Realmente vivemos tempos deveras estranhos. Depois do advento político
alcunhado de lulopetismo de todos os roubos, até a honra das palavras foi,
depois de sofrer violento estupro, também furtada.
Ao longo de muitas eras cultivou-se entre os estudiosos do real
ocultismo, o mito da “palavra perdida”. Agora, temos o advento da palavra
furtada!
Não vivemos um tempo engraçado? Além de não termos encontrado a palavra
perdida, tivemos a palavra furtada!
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