Ciclo da Saudade
Acariciei a tua face na penumbra impalpável
da minha memória; mas, ao abrir meus olhos já não vi o teu rosto. Só a imagem
colorida da saudade imensa, já sem lágrimas...
Físicas, físicas lágrimas de imagens impossíveis,
não? Não, só etéreas, informes, vindas virtualmente à face da memória por
sentimentos de ontens.
Pensei ter visto o teu rosto por momentos, o teu
rosto, ó divina maravilha em vulto e corpo de mulher!
Por um acariciado sentir o teu rosto e sem tocar-te
beijei teus lábios sem beijar-te, e amei o teu ser sem as minhas mãos sentirem
a quentura do teu corpo, nem a maciez da tua pele.
E o que serias mais então agora do que um sentir
na minha memória? Só a recordação atrevida que te traz à existência, pois nem
sei por onde andas! Sequer sei já onde eu estou, porque também eu parti de mim
há tanto tempo!
Não por seres penumbra informe e só saudade do
teu sorriso é que és tudo para mim! Não! Sem identidade, sim, mas só por não
estares aqui é que não tens corpo!
Mas ainda escuto o som da tua voz nas letras
da tua carta, quando me dizias: “A esperança precisa de muito tempo para ser
alguma coisa”; antes nem faltou o sonho com que também tu sonhavas; e até
beijar meus lábios tu ousavas!
Só um beijo metafísico, e depois acariciei ainda
mais uma vez o teu rosto na penumbra impalpável da memória, de olhos fechados!
E ao abri-los, já não estava mais aqui o teu sorriso.
Igualmente ausentes e sem tua presença os
teus beijos também não mais! Talvez, por isso o chão da alma e o chão dos pés estão
vazios e desolados. Aridez e ausência no céu e no chão.
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