sábado, 18 de maio de 2013

HOMEM


HOMEM
Os principais atributos que distinguem os homens entre si reinam no alto, soberanos: sabedoria e amor. E naturalmente as ações que em seu nome se pratiquem decorrentes e recorrentes dessas supremas virtudes.

Há por isso então há homens sábios, amorosos, e naturalmente há homens ignorantes e brutos, por lhes faltarem esses atributos maiores.
E não é por outra razão que para os ignorantes a suprema conquista concentra-se nos bens materiais e nas paixões, e os seus sensores mais ativos giram em torno dos desejos mais densos e fúteis: a paixão pelo seu time, por sua religião sectária, pela cor da sua “camisa única”, ainda que milhões iguais tenham sido produzidas; a música mais barulhenta e rude, a marca de cerveja determinada pelo tamanho, e, se houver em barril de muitos litros, melhor ainda, e até um vinho barato, se tivera adquirido o vício de beber vinho, que hábito já será um estágio um pouquinho melhor acima deles.
E naturalmente, e este é o grande drama, o seu candidato, via de regra o mais corrupto, e o mais corrupto se destaca dos outros pela falácia e grande demagogia.
Para outros a erudição acadêmica, cuja linha que siga preenche uma boa parte de seus celeiros mentais, terrenos e materialista, o que já não é tão ruim, considerando os ignorantes que nada entendem, embora falem pelos cotovelos, iludidos e acreditando ver o que ninguém vê, por de fato aí não haver nada.

Resumidamente isto encerra os desejos de uma maioria absoluta, incluindo-se aí grande parte da população, que se contenta em mitigar a fome.

Entretanto, e de alguma forma, por causa desta maioria é que existem os sábios, que se tornam sábios por amor ao saber, primeiramente, e depois criar modelos mentais e fórmulas para servir ao próximo a fim de elevar a mente e o espírito mais esclarecido, de quem se dispuser a ouvir e a aprender.

 Os homens éticos, bem formados, instruídos, filósofos e sábios congregam na mesma medida do sentimento amoroso a inteligência, buscando a consciência pelo desejo ingênito de compreender o todo e redimir os carentes, guiando-os pela senda luminosa da sabedoria, na medida do possível ensinando meios de saciar as necessidades básicas de modo mais consciente que por essa via custa menos caminhar.

E não é o objetivo de nenhum sábio buscar a sabedoria se não para servir, pois sabe, com o desapego de si mesmo serve ao próximo a si e, portanto a Deus servirá; é isso o que rezam as regras e os códigos dos Manús, como única fórmula de encontrar Deus.

Por isso é que se diz que o manto do sábio é a sua humildade adquirida pela renúncia; já a porta sagrada de seu templo são os seus ouvidos; o altar de suas orações a sua alma, e da essência nela semeada em conhecimento e amor é que nasce a sua sabedoria exteriorizada em suas mãos para servir e em seus pés para seguir buscando o novo.

Pratica as suas orações trabalhando na busca incansável do esclarecimento e da iluminação mental, na pura intenção de encontrar o caminho do meio a fim de esclarecer e indicá-lo ao próximo.

Concentra-se a sua busca na conquista do seu paraíso onde reina a paz e o silêncio; e quando sob o domínio do silêncio, ouve todas as almas e determina o ritmo do seu tempo, mas a sua opção em servir é antes a favor dos mais pobres.

O seu mais belo jardim floresce em seu coração amoroso, e as flores de rara beleza e de raro perfume são as crianças, como o signo do futuro; e ele sabe que o elo que une e desune todas as coisas é a mente universal, à qual exercita e vivifica dando-lhe novos modelos mais perfeitos, dentro dos cânones da justiça universal, pois sabe que ao pensar estará criando.

A seara onde o sábio cultiva os frutos mais raros e saborosos e também semeia as suas humildes sementes no seio da humanidade, é no espaço onde reverbera o som da sua palavra sábia, proferida com sabedoria; por isso com a sua voz alimenta de entusiasmo a quem o ouve e as suas falas relatam as obras dignas de servirem de exemplo.

Justo e profundamente agradecido, reconhece e celebra o terreno já plantado ao longo de muitas eras por outros mais sábios que ele. E as boas sementes outrora lançadas à terra por esses grandes sábios, hoje estão presentes nos frutos das grandes conquistas de espírito.

Por isso, os bons livros para o sábio são obras sagradas; e os seus nobres autores em todas as áreas do conhecimento os verdadeiros heróis a quem guarda o mais zeloso respeito.

Com eles aprendera as suas artes, e entre todas as artes a mais bela é a arte da paciência, por trazer em seu ventre escritas duas supremas legendas: paz e a ciência; e depois a arte do jogo do tempo, por tudo estar contido nele.

Sabe, entretanto, que o tempo não existe; e sabe também que nesta não existência reside a grande metáfora da vida, entre o ser e não o ser...

Caminha com passos firmes, porque fez da arte do desapego a leveza do seu movimento, pois ouviu dos antigos sábios: “quanto mais pesado fizer o mundo, mais o mundo pesará sobre ti”.

Compreende e tolera os mais intolerantes, porque reconhece neles a si mesmo no dia de ontem; e a sua intolerância de ontem pode muito bem estar agora com eles!

Faz da prudência a sua arte mais poderosa, e com ela se defende dos perigos reais ou imaginários; vigia os seus sentidos como quem guarda os seus inimigos, mas usufrui de todas as artes que dos sentidos emanam e a nada hostiliza, observando, entretanto, a boa moderação.

A coisa alguma distingue nas diferenças e a ninguém julga em nome do livre arbítrio universal.

E como ele é o sábio ama, pensa, trabalha e confia; mas prudentemente vigia as entradas de sua régia residência, porque a mantenha sempre de portas abertas.

Abraça amorosamente todas as coisas sem distinção, mas serenamente, em seu coração agasalha as crianças e sabe que a elas o falso terá de ser desviado.

Pensa com acuidade nos problemas metafísicos, reconhece os seus efeitos concretos, pois neles o mundo das formas e o divino se assentam.

Trabalha para o engrandecimento da inteligência, sem esperar recompensa e sem querer para si os frutos da sabedoria, porque sabe que lhe serão inúteis se a todos não servirem.

“Para que serviria a sabedoria, se por ignorância o homem escraviza outro homem, que sofre e se penaliza?” É esta a pergunta que freqüentemente o sábio a si mesmo faz.

Confia em si mesmo e em todos os homens, pois sabe por experiência que errar é a lição mais preciosa com a qual se solidifica a experiência.

Reconhece e respeita nos erros os benéficos dos obstáculos a serem vencidos, para que existam vitórias e vencedores.

Espera, e enquanto o faz ao seu pensamento exercita, porque isto dele espera o universo; sabe também que a forma mental que criar assim pelo mundo mental espalhar-se-á. Por isso, vigia os seus pensamentos.

Com eles aprendeu que o templo do sábio é o seu corpo, por isso deve ser muito bem zelado; e se o altar do sábio é a sua alma, deve mantê-la sempre límpida e transparente.

Já o templo maior do sábio é o próprio universo, e o seu altar coletivo rodeado das almas de todos os homens; e à guarda de todas as vidas concentra a sua luta.

Por isso deve unificar os seus esforços em orações, e não há oração superior ao trabalho. 

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