quinta-feira, 15 de maio de 2014

Passagem breve


         Passagem breve

    A voz dos anjos, caso os anjos tenham voz é a que gostaria de ouvir neste momento; mas porque não a ouça talvez não tenham voz, e não a ouço por eu não merecer ouvi-la. E o tempo, o senhor da razão e do juízo resolve esse silencioso incomodo. 
     Responder-me-á ele, por que não estou a ouvir a voz dos anjos caso eles tenham voz?
     Contudo, apesar de ainda ou já doer-me o corpo, há no tempo algo muito bonito que se apresenta em formas concretas e abstratas de arte, e até os anjos aí ganham uma voz metafórica e vai em silêncio! E assim, diferente de mim, se alguém um dia já a ouviu, qual seria o motivo para não a ouvir hoje, caso como eu não a ouça agora? Talvez se a ouça um dia se de fato eles tiverem voz, ou mesmo agora caso prestando sentido na passagem do tempo se dê voz ao silêncio.
Pois sim, tudo passa, tem começo, meio (e porque é algo no meio de tudo e tudo é meio relativo) tem também fim. O fato é que tudo passa e nem tudo passa por mim. Não, não sou medida para nada, cânone de nenhuma forma, nenhum exemplo digno de ser copiado; sou no máximo um corpo falante que vai por aí. Às vezes sem rumo, sem destino, embora onde eu me encontro haja um modesto jardim... Sem flores nem rosas que o tempo até já as despetalou... Mas ainda dos espinhos há os sinais antigos e as boas novas já não ferem por temer o novo; e se vierem a ferir-me um dia, não poderia senti-las por já de terem passado. Mas ainda espero e sempre haverei de esperar antes de passar ouvir a voz dos anjos.

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