quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

DESCONCERTO


     ADEUS

Ao longe desaparece no horizonte a terra amada. O meu cantinho humilde onde eu nasci ficou pra trás.

Embarcado nesta pátria de ferro sobre o mar deitada e lenta ao sabor das ondas a balançar, vou preso.

E ao meu perdido elo que aos pés do chão da terra abandonei já nem o lamento tanto, pelo muito que já o chorei!

Tão cedo deserdado da pátria e do ninho onde eu nasci parto de mim nas primeiras horas do último dia que eu aí feliz nem vi passar!

Olho agora em frente e vejo mar, olho à direita e só vejo a água tediosa a balançar e num murmúrio tedioso à esquerda... não diz nada.

Mas à noite no céu de estrelas em silêncio em fraco brilho a estrelar,
só tédio doloroso me desperta para onde me ponha a olhar!

Já não vejo distantes os olhos de bem querer de minha mãe zelosa a marejar, só vejo um lenço na memória que ficou no “tempo cais” a me acenar.

Onde vai dar esta estrada oceânica, onde vai ter o meu destino só? Onde vou reencontrar a minha já perdida infância nesta caixa de ferro e de agonias?

Sepulcro do meu fado, túmulo dos meus sonhos e das minhas fantasias, aonde vai me levar não sei.

Quem dera entender do céu os seus desígnios ah, pudesse eu adivinhar o meu futuro e o meu destino!

Não andaria como ando assim perdido em tempo escuro dentro de um caos de ferro e negro muro!

Dentro de mim eu vou ainda bem, pois aonde vá dentro do peito aquietado e quente eu sempre estarei eu sei, enquanto viva!

Mas ainda assim olho ao longe e não sei onde vai dar este caminho nem sei quem sou a seguir por esta estranha via.

De meu perdido chão da infância tenho apenas as marcas gravadas em meus pés de andar descalço.

E em minhas mãos ingênuas as lembranças dos meus poucos dias lá na aldeia de poucas e belas manhãs.

Só nos olhos tristes o adeus de quem ficou no tempo e na memória é no peito agora a marca de um pedaço, que rasgado se perdeu.

Apesar do canto da cigarra e das promessas de vitória, nada, mesmo nada  haverá de preencher a rasgada página mais bela de minha história deixada a um canto da infância atrás do mar.

E se aí não houve feitos de boa memória, já nem sei por que insiste em se fazer em mim viva a triste história!

Porque então me não liberta  dessa lembrança, liberta-me da saudade desse tempo que passou!

Devolve-me a perdida infanta liberdade e livra-me deste fado de lembrar-me quem já não sou!

Revela-me o segredo que ninguém me quer contar e afasta-me para sempre das verdades humanas e de suas vitórias mentirosas!

Despidas de lealdade só mentiras encenam com bandeiras desfraldadas da igualdade!
Não! Antes do sonho e da vontade de voltar na infância faça-me esquecer,   que já não é aí nenhum lugar!

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