segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

OS CÍNICOS




Diógenes, grande Diógenes, e os nobres místicos, seguidores dos Vedas, inclusive Mahatman Gandhi com o famoso Ahinsa, exercitavam na pratica a teoria da libertação pelas vias do desapego, que também outro caminho não há.

Desapego em Sânscrito tem o bonito nome: MOKSHA. E não é de estranhar se muitas teorias libertárias sejam plágios daquelas velhas doutrinas, muito bem fundamentadas pelos seus criadores, que viveram realmente o que em tese enunciavam.

Prova-o quando numa fria manhã Diógenes, sentado ao sol na frente de sua tina, dele se aproxima o seu amigo Alexandre, o Grande e lhe perguntava: - o que posso fazer por você, meu amigo? E Diógenes, olhando-o debaixo para cima, respondia: “não me tires o que não podes me dar”! Naquele momento o Grande Alexandre colocara-se à sua frente tampando-lhe o sol. E apesar de Grande, o sol não lhe poderia mesmo dar.

Esta passagem merece profundas reflexões e uma análise mais séria deve se fazer em relação os modernos libertadores!

Pois, não se tem noticia de nenhum libertário moderno, que more numa tina de madeira, cujos bens sejam apenas a surrada túnica para cobrir o corpo, e um embornal para carregar o seu pobre farnel!

Ao contrário, vivem os modernos libertários no supremo luxo que o dinheiro sofista pode comprar, e longe de qualquer virtude humanitária e sem qualquer desapego. Portanto muito distantes do real conceito de libertação. Ou será possível alguém se libertar das coisas materiais, acumulando terras, ouro, títulos e muito dinheiro?

Não, não é possível, mesmo que ostente a saga de herói ou tenha por trás um famoso frei sociólogo e que dê prioridade às suas convicções ideológicas, camufladas de teológicas.

Nos dias de hoje não se tem noticia de ninguém que agisse dessa forma, em beneficio do outro, e não de si mesmo. Então definitivamente não cabem em nenhuma doutrina de libertação os nossos famosos heróis.

Por outro lado, são do conhecimento de boa parcela da sociedade que as fórmulas filosóficas e as doutrinas iniciáticas, sérias, fundamentarem-se no desapego de todas as naturezas, principalmente políticas.

Os verdadeiros libertários têm as suas ações e sentidos voltados para a causa das causas, e em o nome de alguém que pode ser Deus, e esses sabem muito bem que, para servi-lo, só é possível servindo a humanidade.

Quem então serve em primeiro lugar a si mesmo, serve na verdade às suas raízes egoístas, cultivando o apego que não por acaso tem um nome tão feio, TANHA! Por isso MOKSHA, é sem dúvida um belíssimo termo, na velha língua sânscrita?

Mas um homem libertador de si mesmo há de libertar-se antes de tudo da compaixão ao próximo, que nas profundezas da alma será compaixão por si mesmo, e não pelo outro.

Embora semelhante afirmação não seja compreensível no primeiro momento,
mas um verdadeiro desapegado também não é um frio intelectual, indiferente ao meio aonde viva.

Se não um profundo amoroso que não mais consegue distinguir o rico do pobre, o branco do negro, o dia da noite etc., consciente de que o outro é agora parte de si mesmo, e todos ligados ao todo através uns dos outros.

Também isto soa estranho no primeiro momento, para os ecumênicos; mas  é compreensível, devido eles verem Deus um ser mágico dogmático enquanto crença milagrosa, que dá e tira e pode ser encontrado em qualquer esquina numa igreja e até numa prateleira, ou modernamente num arquivo.

Mas Ele é a única semente da realização pessoal física e metafísica, muito clara na exortação do Cristo aos seus discípulos, para que eles buscassem a consciência do Inefável “Eu Sou”, na bela Obra PISTIS SOPHIA, quando diz: “Ele conhece o mistério por cuja causa as trevas foram feitas e por cuja causa foi feita a luz”...

É natural que o Cristo durante a sua realização pessoal tivesse tido a visão de Deus em todas as coisas: “trevas e luz”, independente de qual seja a cor, credo, condição social, bem ou mal, agradável ou desagradável e longe, portanto de qualquer religião, que por sinal ele não criou nenhuma.

Assim deve ser entendida a presença divina num conceito superior de inteligência, por um estudioso, reunindo elementos Teosóficos das mais diversas correntes do pensamento teológico e científico, universais.

Isto não é possível a nenhum pesquisador que despreze uma única vírgula de qualquer fonte de pesquisa. Coisa que, para um crente é humanamente impossível.

A não ser um iluminado ou já bem adiantado iniciado que vê Deus em tudo, Deus continua sendo um objeto para a maioria...

Mas estes seres tão especiais não andam por aí com nenhum livro na mão dizendo que Deus está ali, e só ali está escrita a sua palavra.

Pois certamente se ele não estiver em todos e muito especialmente vivo nos miseráveis de pão e famintos de conhecimento, menos há de estar num papel impresso, pouco importa o nome do livro, pouco importa quem o livro traga debaixo do braço.

Diógenes, grande Diógenes, o Cínico – canino em Grego e Kepler – o cão pardieiro devido à vida de cães que levavam, são entre alguns outros dessa estirpe um exemplo de como os buscadores de Deus, modernos em luxuosos edifícios instalados criam suas teorias da libertação que não libertam ninguém, e não devem por isso ser levados a sério numa única palavra que disserem ou escreverem.

Pouco importa e apesar de muito modernas, moderníssimas até as suas teorias, o que estes ídolos escrevem porque entre no processo da escrita o seu pessoal e humano raciocínio, maculado com uma gama variada de concepções acadêmicas ou ideologias misturadas com teologias, o melhor destino que se lhes pode dar enquanto livros é o fogo, caso não tenha sido possível evitar a asneira de havê-los comprado.

Ainda bem que existem alguns poucos, mas verdadeiramente magníficos livros! Porque ainda presentes estão por aqui Diógenes, Platão, Hermes Pitágoras, Homero, Dante Alighieri, JHS etc. e na arte... e na poesia entre uns poucos mais Camões, alguns modernos e sérios pensadores e outro poetas-prosadores, para não cometermos o erro de dizer que o passado é que era bom, e o presente uma farsa!

O que urge, então, antes de qualquer outra providência é separar o lixo literário da real essência de todas as coisas de ontem, de hoje e de sempre, para um amanhã mais inteligente e justo, criando ambiente para o renascimento dos grandes seres que por aqui andaram nos ensinando a caminhar e ensejam por compaixão permanecer entre nós, os que aqui estão, e os que da mesma precisam voltar.   


2 comentários:

  1. Obrigada pelo texto, Julio.

    Todas às vezes que 'colho' algo, costumo deixar alguma coisa em troca. Um pequeno seixo que seja. (não fico confortável se assim não proceder).

    Hoje deixo no "Cavaleiro Solitário":
    I M A G E N S
    da Divina Comédia
    Retratos de Dante e Divina Comédia

    http://www.stelle.com.br/pt/index_imagens.html

    Até qualquer hora. Boa sorte, Norma

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