quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

DO LIVRO DESCONCERTO


                               
                           A  CIDADE PERDIDA
                  
Já distante no tempo e de remota idade, na minha cidade ainda inacabada gastei as iniciais reservas de energia e luz.

Com elas poderia terminar a demarcação física definitiva do projeto, mas por não poder fincar no chão permanente a minha original cruz de sustentação, é que parece ter havido falhas em algum momento.

Dei-lhe inicio, de algum modo demarquei as bases com as minhas pessoais escolhas, mas não terminei a ideia original cidadã de acordo com a herança sanguínea e das características regionais de minha aldeia, devido a falta de alimento físico cultural.

Mesmo que se trate de uma obra com principio universal, meios e fins para servir deveras a elevada finalidade, sofreu desvios de curso e deixou de ser o que deveria ser.

A cidade que mal edifiquei e ficou sem a luz pátria logo no inicio devido uma viagem para longe que tive de fazer e assinalei-a não com a originalidade integral, que viria a ser alterada por hoje morar noutro real endereço.

Apesar de fracas as suas fundações porque fossem os materiais modestos, dotei-a das mais modernas instalações e os seus propósitos são de fato muito honestos.

Nunca pensei, apesar de refinado sonhador, fazê-la de sonho; é que às vezes o sonho vira pesadelo e é preciso evitá-lo!

Nem quero a minha cidade do espanto para não causar medo; embora nela colocasse algum mistério e um pessoal segredo.

Mesmo não a tendo acabado com os valores aldeões nem represente um belo exemplo de arte, a minha inacabada cidade sujeita ao tempo também não tem luxo, mas guarda o meu mais elevado enlevo.

Ainda que inacabada e seja destinada a pacificar, todavia não através do método dogmático nem do credo de nenhuma ordem.

E apesar de não ser luxuosa, em homenagem à vida em todas as suas formas vai a consagrá-la celebrando o saber e o amor.

Poucos recursos, que muitos não os há, mas é com o que de melhor a vida tem de humano que ela vai se equipando.

A minha cidade tem uma película caiada em tom carmesim rosado que lhe serve de véu; sustentada por uma central vertical de onde partem conexões para todos os terminais e órgãos internos, é também dotado de um rio com muitos regatos e finíssimos fios nervosos terminais.

Felizmente ainda nela não se instalou nenhum banco nem financeira estranha que explore o trabalho, não é a sua natureza, mas com o desvio do mundo até aí a perdição pode gerar anomalias mercantilistas entre os pequeninos.

Apesar de não ser grande, tem uma floresta de muito rica fauna; e ao homem triste que por ela passa um sorriso lhe presta, aos feridos socorre e aos tristes, quando possível acalenta.

Ah, alguém pergunta o que é a minha cidade? É a minha cidade! Mas não é exatamente uma metrópole com a marca da coisa pública!

E apesar de inacabada naquela etapa inicial onde teria nascido, está já com o tamanho definitivo devido o seu tempo de vida!

Mas quando me ausento dela em devaneios ou quando adormeço voo pelo mundo astral, quanta perda de tempo eu sinto que perco! Melhor o poderia empregar já com a compreensão relativa que tenho da existência, pois é este o meu pessoal projeto que herdei da terra, para nele servir ao Eterno.

Externamente expressa a legítima persona de um comum cidadão, por isso assisto chorando perder-se em mentiras e desmandos a nossa rica e pobre nação!

Ainda não sabem o que é nem onde está e para quer serve a minha cidade?

Quando está desperta durante o dia e dormindo durante a noite é mantida por um coração bomba muscular que a irriga e mantém viva e de pé quando anda.

Mas a minha cidade, ah a minha cidade, nem eu próprio sei muito bem o que é!

Não é uma cidade fantasma, não é construída pela fé, mas tem um tempo de vida relativamente curto.

A minha cidade é real, vibra na batida de um compasso e me leva de agora ao futuro do ainda obscuro amanhã; depois de uns tantos dias tomba, se desfaz voltando ao pó. Então é feita de pó, ora bolas!

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