segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

Cofre de Relíquias





Fiz do meu destino um gesto simples de viver e adotei por regra o hábito de pensar. Estranhamente não por isso, mas não aprendi a ser feliz. Também jamais compreendi a razão de algumas pessoas quererem tanto que eu seja o que elas querem e não o que eu sou.

E essa insistência provoca-me conflitos entre elementos contrários, que se debatendo entre si criam momentaneamente de mim um espectador singular, mas por outro lado também provocam pensamentos fragmentados que nem tenho certeza de querer pensá-los. E assim meio transfigurado num ser estranho que eu nem sou, acaba impondo-me característica que eu não quero ter. E até já cheguei a cogitar se esta seria uma das causas da loucura, mas louco totalmente eu ainda não sou!

Estranho é que ainda ontem fazia um discurso que não fiz e hoje já o não lembro; e porque ontem passou não lembro a razão de esquecer um discurso que faria e não fiz. Poderia em sua inexistência – o tempo – lembrar-me de um discurso que não fiz? (...)

Se existisse tempo fora da memória de quem recorda poderia até enquanto tempo voltar atrás, girar no sentido contrário e eu poderia então rever o meu discurso. Mas falho como tudo mais que hoje falho também o tempo falharia... De qualquer maneira não valeria a pena rever o discurso que ontem não nasceu. Não porque não o fazendo o esquecesse, mas por falhas na memória, pois o tempo não existe! E eu guardo tão somente fragmentos de sua essência como tema – o assunto – para que um dia o possa rever se relembrar da sua importância.

Hoje não, que o não lembro. Retenho em algum lugar da mente algo como pequena ilha onde bóiam na superfície fragmentos de mágoas e lúcidas loucuras que em minha lucidez fremem bandeiras de alegria, mas postas diante da realidade – me parece agora – o vento que as sopra é o vento da insanidade. Quem as terá gerado em mim, não sei; também não sei quem teria sadios e felizes pensamentos neste momento tão pobre global!

Afinal, quem os levará de volta ao limbo da matéria mental virgem, depois de terem tido tão estranha geração de alegria a meio ao caos do mundo?

Eu mesmo só na mais profunda instância da minha alma guardo um mísero traço de sano entendimento, de onde vez ou outra surge lúcido sentimento de esperança. Mas esperança muito simples, de que ante meus olhos surja de repente algum algoz arrependido e devolva ao mundo o que ao mundo usurpou e faz triste.

Mas no meu coração já escureceu e não bate de contente, nem pulsa de entusiasmo; bate, simplesmente bate-me, loucamente vive-me porque eu já não sei se ainda isto que faço é viver como ensina o pronome pessoal eu no sentido do Bem, Bom e Belo.

Mas de repente, lembro-me neste instante, hoje já é o inicio do “Ano-Novo”! As pessoas reorganizam-se, comemoram as vitórias do ano velho, esquecem o drama global, riem-se e eu meio choroso relembro o velho tempo de saudosas recordações de amizade, singela cortesia e belas damas elegantes mais vestidas.

2 comentários:

  1. Posso te dar um abracinho?
    Então, considere-se devidamente abraçado!
    Fique bem, Norma

    P.S.: Feliz Ano Novo, de novo!
    E lembre-se, não é 2013 que tem que ser diferente.
    É você!
    Nac♥

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  2. Devidamente abraçado por Norma e feliz de novo.

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