terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Desde o Verbo à Carne Muito Tempo se Passou


Destroços no Pântano

“No início era o verbo”: não se deveria confundir esta frase magistral, com a cópia que até parece sátira que em má hora a interpretaram os tradutores mal informados. Mas tendo atravessado os tempos corrompendo-se, veio até os nossos dias atormentar os pesquisadores da verdade e bem intencionados.

Não é o verbo agente da passividade simplória, nem expressão da palavra que sequer havia ainda quem a falasse, antes da carne, que se faria. Em sua mais exata e pura essência define o ato inicial da criação do universo, enquanto Ação movida pela Vontade do Eterno, função semelhante como é até numa oração, e desde aquele momento e para sempre enquanto existir o verso do uno, porque antes era o caos da inércia passiva, a partir de então o verbo como embrião do movimento dos movimentos é a Vontade Infinita do Eterno...

Bilhões de anos já se passaram e a voz ainda permanece no estado passivo de um verbo estranho na tradição religiosa do ocidente, na cantilena e na voz daqueles que pretendem transformá-lo em dízimos, credos, dogmas e misérias mentais, quando na verdade é como é em todos os verbos a ação de criar, gerar movimento, agir...

E é assim que por vis metais acorrentam os pobres de espírito e miseráveis de saber, para com as trevas da mais crua ignorância alimentá-los; e para que não os banhe também o sol da verdade; mas ainda um dia hão de acordar com a luz que em vez de cegá-los como agora cega, abri-los-á.

Abri-los-á tão completamente, que de imediato os olhos de seus falsos profetas diante de tamanha luz se fecharão.

Já pregaram à cruz o Filho do Verbo, acorrentaram à terra todos os desvalidos mentais, e ainda em pedaços e escárnios o exaltam em praça pública com exclusiva letra morta, e até aos berros agressivos e insanos o oferecem a preço vil!

Aos demais a quem excluem e agridem com impropérios rogando pragas e fazendo ameaças com o inferno, ah! a estes excomungados saúdo em memória daquele momento histórico marcado por João, quando impedido de falar! – Pois de qual outro “vocábulo verbal” haveria de ter saído o inferno, senão de ínfero! (onde Ele desceu?), mas para lá não haverão de ir pastores, que o inferno deles é de fogo.

E sendo já outono, as amareladas folhas caem ao chão, anunciando rigoroso e duradouro inverno! Só muito tempo depois, já na primavera novamente as flores e os lírios do deserto se abrirão, para deleite dos heróis que ao rigoroso frio resistiram praticando o verbo como ação, não como ladainha e canto vão.

Não são tantos os heróis, mas são bons por terem resistido ao intenso e rigoroso inverno e nos estendendo a mão firme, deles outra etapa mais lúcida e culta iniciar-se-á, mais sábia e livre da fé cega, que a muitos ao abismo já arrastou.

Todavia logo vai amanhecer mais outro dia, mas não há ainda o trigo novo! E o velho as formigas consumiu boa parte e um tempo considerável há ainda que se esperar. Mas felizmente com a ausência dos desejos, porque os objetos das paixões passem rapidamente, diminui a fome e não há nada para temer... O verbo? Sim, o original no original sentido sacia a fome, traz movimento, vida e renovação! Nem tampouco o movimento pode ser interrompido!

Porém as vestes costuradas pelos fariseus de todas as épocas foram-se-lhe retiradas, para que nesse dia brilhe a eterna possibilidade de surgir a única verdade que atravessou todos os tempos, todos os credos, todas as fés e ocultamente a única verdade escapou das traças.

E ante o pedestal que reflete a luz da lua e da ilusão não ri o povo eleito à luz do novo sol... Porque até parecia um pedestal, em verdade parecia, mas confirmam-se as suspeitas de que aquela luminosidade todo era brilho falso: e o templo de barro edificado sobre o pântano e a aparência de subido e santo, não passavam de mero reflexo da luz astral.

À sua volta não há cinzas, e depois da chuva há lama; e o quadro triste aparece meio submergido na figura de uma boneca sobre a lama denunciando que por ali também levaram crianças, também mentiram promessas de fartura e salvamento.

Ante tal quadro chora quem passa por ali de profunda tristeza, mas não de escárnio! Já, já a alegria se refaz sobrevivente das lembranças antigas de quão tentadoras vezes pararam a ouvir promessas de céu e salvamento, mas resistiram.

Felizmente não acreditaram, senão como estariam agora ali, a contemplar o pântano, o abandono, quando rolam lágrimas de tristeza pelas crianças que para aí arrastaram?

Ante seus olhos, o pedestal que lhes parecia subido e digno destroçado e agora boia no meio do pântano, na lama fétida apodrecendo com os dejetos dos seus criadores.

E assim paira quedo, imóvel, desfazendo-se sem história digna de ser contada. Restos Cármicos materiais dos infelizes exploradores da fé alheia, que se tornaram cegos e surdos ante o lucro da profanação do Verbo Singular e nem na falsa arte será reescrita ou reciclada do lixo, pois o sentido universal do Verbo Inicial foi, é e será sempre agir no mundo em prol da evolução.

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