quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

FLOR DO BREJO


Flor do Brejo


“Estava linda aquela tarde de verão à beira do rio”. Quem ou o que estava linda? Aquela tarde à beira do rio ou a figura metafísica do sujeito oculto que na verdade seria “sujeita” porque estava linda? O verão nos trópicos é muito quente à tarde, pra se pensar na paisagem, mas quem falou em trópicos?

Essa região realmente só o poeta poderia achar linda aquela tarde, à beira do rio; em nome de sua arte ou da sua dama oculta criada para refrigério do seu martírio de ser poeta, ou talvez por não conhecer o sentido irreal das palavras que ora reverberam aos gritos pelo mundo.

E o que faria àquela hora o poeta à beira do rio, se a lua é a verdadeira companheira dos solitários sonhadores, que em boa hora trocam o ardor do sol pelos afagos da lua?
Passava por ali, talvez apenas passasse por ali!

E que rio seria aquele, em cujas margens a imaginação gera tantas interrogações e tantas dúvidas? Quem poderia decifrar esse mistério da lindeza oculta numa tarde de verão? O barqueiro esperando o mísero soldo pelo transporte do passageiro à outra margem do rio delirante, imaginado que a ave voando por sobre as águas à procura de peixes seria a fênix? Não, nem saberia o pobre barqueiro ocidental do mito da fênix! Ainda que já o sol na cabeça lhe houvesse amolecido o juízo não conhecia o mito da fênix!

É então possível que tudo se resuma ao mísero “tostão” que recebe como pagamento. Não, o barqueiro do Ocidente não ousaria filosofar de barqueiro Oriental!

Mas quem disse que aquele rio está no Ocidente, se os rios são todos semelhantes em lodo, lama, pedras, areia, troncos de árvores, farrapos humanos, cadeiras quebradas e restos de bebedeiras e até raros, muito raros alguns de água limpa e sem idioma pátrio?

De repente, num agito da água, “estava linda aquela tarde à beira do rio, a flor do brejo”! Foi o que finalmente revelou o papel ao desdobrar-se na superfície da água mostrando a frase inteira. E foi assim que uma simples flor do brejo despertou o olhar de alguém e declarou sua admiração no papel provocando aquela dúvida!

Mas, resolvida à questão, não importa saber quem achou linda naquela tarde a flor do brejo à beira do rio! Mas se o vento ao levantá-lo o jogou na água, então soprou uma brisa fresca, e isto é deveras maravilhoso devido o calor infernal! Quanto à flor do brejo à beira do rio, quem a teria visto e descrito a cena realmente não importa, mas ensinou-nos que “estava linda aquela tarde de verão à beira do rio, a flor do brejo” escrita num papel que se desdobrou com o agito da água antes de se desfazer ou a tinta se espalhar.

De qualquer modo, ainda bem que tudo foi esclarecido e não há mais dúvida de que “estava linda aquela tarde à beira do rio, a flor do brejo”, apenas e tão somente isso sem qualquer dúvida, e naturalmente a brisa que soprou, lembrando que alguém por algo semelhante a esse caso poderia até declarar guerra! Não é de duvidar, pois um simulacro de estadista por causa de uma mosca pousada no seu parto, é capaz de declarar guerra ao mundo!

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