sábado, 12 de janeiro de 2013

CONSELHOS...




... Nem o céu, nem a terra, nem Deus, nem o Diabo; só tu és o culpado pelo frio da geada em teus pés, quando pisas no chão descalço, e também porque ainda não tenhas o teu cajado...

Assim falava o velho a seu discípulo, quando deles se aproximava um mendigo, que depois de algum tempo ali ouvindo o interrompe, e pergunta:

- O que queres dizer com esse tal cajado? É necessário para não se andar descalço no gelo possuir um cajado?

Aparentemente irado como a inesperada pergunta, mas sem perder o semblante sereno respondeu o velho com energia:

- Sabes tu o que estás perguntando?  E porque me interrompes, quando a conversa não te diz respeito? Segue o teu caminho em paz, vai-te daqui e não digas mais nada.

Rindo de ironia, o mendigo balançando a cabeça sai andando a resmungar, deixando a pergunta no ar: haveria pronta resposta à pergunta que fizera? Sim, pouco depois a responderia ao seu discípulo. E até serviria de tema, pois são sempre bem-vindas quaisquer intervenções e poderão ferir ou interferir no ritmo de qualquer movimento para outra dimensão acima da faixa vibratória...

- O cajado ao qual me referia, diz o velho, é aquele que substituirá a vaidade e o fanatismo com que muitos se ungem no caminho do saber, vestindo a falsa capa da beatitude e alardeando compaixão.

Como o falso pudor, por exemplo, onde amar uma mulher com muita dignidade não é nenhum pecado; nem fugir dela sem a amar não fará ninguém mais santo nem sábio. Santo não é aquele falso casto que sonega a continuidade da vida humana! Só o fanático evita a carne, mas não lava as mãos antes das refeições nem mesmo depois de ter mexido nas imundices da vida.

Já andar descalço no gelo ou fazer sacrifícios inúteis de pouco ou nada vale, pois em verdade o terreno gelado significa caminho espinhos e à mãe terra se deve amar e possuí-la com todos os atributos de que ela oferece, e não vista como a que fere e oferece o caminho difícil. A mãe terra expressa a mulher, e a mulher talvez seja o seu mais belo fruto que alimenta o filho, cujo amor, nem o mais sábio o compreende.

Entretanto sê puro e casto no seio da tua alma, porque o pecado não está na carne. Vigia os sentidos superiores e honra os sentidos físicos sem receio de sujar as mãos na arte de moldar o “barro”... Mas não as suja de sangue! Ama todas as coisas, conquanto, não te apegues a nenhuma delas.

Segue o teu caminho sem olhar para trás e esquece tudo que eu te disse; não creias a uma só palavra de quem se diga sábio; os verdadeiros sábios falar-te-ão ao ouvido quando o silêncio falar contigo.

À verdade que encontrares, será apenas a tua verdade; e também ela passará e é bom que passe. Portanto ignora o que te diz o mundo e o que está escrito, mas presta atenção ao mundo e lê o que nele está escrito.

A cada segundo envelhece tudo que já foi pensado, pois tudo passa enquanto se escreve ou diz, mas é preciso escrever e dizer coisas, pouco importa se verdade ou mentira se a mentira estiver vestida de verdade, desde que convenhamos serem as palavras relativas, e também as verdades!

Entretanto, o teu cajado não! Entendeste o significado do teu cajado? Aos poucos tomará forma e em cetro de comando se converterá. Haverá um tempo em que, mesmo tendo perdido tudo, em teu cajado feito cetro poderás te apoiar.

- Mas, para onde terá ido aquele mendigo? Pergunta o velho olhando nos olhos de seu discípulo – que mendigo? Indaga o discípulo com o espanto de quem não viu nem ouviu mendigo algum...  

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