Terei feito a minha estrada
de quimeras e a calçado com papel velho amassado, pedaços inúteis descartados, em vez de pedras assinaladas?
E às letras, as recortei de um jornal amarelado, arcaico, e joguei-as como folhas
secas sobre o papel em branco, que pretendi escrever?
O que terei feito com o
mínimo conhecimento da língua pátria que, ao escrevê-la, a verti literalmente
ao papel? Verti? Sim, verti, pois translado é termo muito culto, para referir
as minhas palavras, com que temo macular a língua. E isso eu já sei bem, não é mais
só a bela flor do lácio inculta! Ela cresceu, enriqueceu-se, desabrochou em mil
jardins e hoje é muito mais bela que aquela velha senhora do poeta que servia
em nome do velho lácio!
E por sua beleza, tempo de
maturação, não tenho vaidade ou pretensão para desvendar teus mistérios, que não me atrevo a tanto, mas profundo respeito por ti sim, mãe língua,
e ainda que te desconheça tenho orgulho e muita alegria de entender-te num
arranjo orquestral, em lusófono concerto.
E por não ser eu para ti
uma rica seara em que vás semeando e produzindo maravilhosos frutos, te devoto
meu sentimento rude de admiração,e honrado estou por ver-te tão cara em mil faces
esculpida por “Camonianas” mãos e Vieirinas prosas, só para citar o tronco de
gigantes de cuja árvore... tens quem te espalhe pelo mundo bela!
De minha autoria o que eu
fiz contigo até para mim próprio é um pouco misterioso e estranho, mas ainda
assim haveria quem entendesse minha alma em português, se me lesse; mas ninguém
quer arriscar editar um livro cujo autor o ostracismo envolve tão completamente,
de modo que pouca gente me vê, mesmo quando vagarosamente caminho pela rua.
Pois também o andar célere
passou de minhas mais primárias condições físicas, e já as energias não provem mais
que um andar lento e o movimento mal me tirem do lugar.
Também o motivo para meu
ânimo se inflamar e reagir com agilidade e destreza resfriou, enfraquecendo-me também
o entusiasmo; e neste estado nada além do sono profundo acalento, ainda que ao
da morte não deseje.
Mas como as formas
fragmentadas mantêm-se ainda, há o substrato de muitos inúteis sonhos que
sonhei... Mas não sei com exatidão se esses fantasmas do passado misturados,
vão agora de sonho ou pesadelo. Pois sim, como fantasmas à noite rondam meu
sono de astrais elementos, causando-me irritação e profunda inquietude;
todavia, como é o único momento em que saio de mim, não sinto dor em nenhum
órgão ou membro.
Tivesse alma, não tenho
certeza de ainda ter uma pessoal nos modelos de alma universal mitóloga, seria
ela a responsável por tudo, para quem sabe justificar certa pusilanimidade;
como não tenho certeza de mais nada, me restam dores físicas quando acordo bem mais
reais e concretas que as metafísicas.
E até os dedos com os quais
digito grosseiramente estas palavras hão de suscitar dúvidas de incompetência
quanto ao objeto em questão: seja das minhas palavras na expressão de pensamentos
confusos para quem os lê, seja a falta de habilidade com as mãos para digitá-las.
Isto, já agora ao anoitecer
de outono de uma vida humana, mas com aparência de pleno inverno, sem, todavia já
nem desejar também nenhuma primavera.
E digo-o assim ao sabor
visceral de o dizer, sem o falso escrúpulo de esconder a decadência humana, que
ao longo de muitos anos dedicou-se a fazer arte à qual já não tem certeza de arte
poder chamá-la.
Pelas marcas indeléveis dos
calos nas mãos sim, mas não creio que essa identificação assegure identidade a
um artista. As da alma sim, guardam as características dos atos falhos dos amigos,
das frustrações, de alguma inação, e de algum modo fazem de mim um singular ser
artístico, porque tenha sobrevivido embora invisível.
E estas pessoais marcas
serão para sempre as minhas características, meus códigos, mas já sem dor. As da
alma, essa alma real - emoção que sente e a razão que sabe - não passam nunca.
Ah, os calos do coração tão
duros! Quem os haverá de remover? Os olhos revelam espinhos dos sentimentos e
eu, como tenho olhos azuis, disfarçam bem... Mas sou como já o disse antes me
referindo a um personagem oculto que habita meu pequeno universo das letras - o
Encoberto. Não só em minhas páginas que ao longo do papel fez papel, mas,
sobretudo Encoberto perante o olhar do mundo que tão concretamente passa pelas
ruas e não me vê! Compreensível, por outro lado, devido o olhar mecânico
imposto às pessoas pela máquina, e assim, como quem não olha poderia me ver?
Sou então também o
deserdado do olhar, descoberto de prazer e de prestígio de quem me conhecendo me
desmereça; mas por ser eu enquanto eu inteiro para mim mesmo, pouco me importo
ser nada para quem passa sem olhar... (Gosto e respeito só às pessoas que dizem
alguma coisa, mesmo sem dizerem nada).
E por acaso deveras não
seria estranho ser eu o Encoberto para mim mesmo? Ainda que ao recordar as passagens
de convivência social seja totalmente invisível, mas se houver no mundo quem em
algum momento não foi igualmente para si e para outrem, é porque não existe
ainda enquanto ente consciente, ou mente para si mesmo e de cabeça levantada
com ares superiores em pose de inteligência e outras artes, passa rindo.
Talvez porque ignore o que seja
conhecer e vá distante infinitamente de qualquer senso de mensuração, peso e
dimensão do seu próprio “tato”!
Mas em termos razoáveis de
análise humana, sou mesmo Encoberto na relação de valores e de importância, que
as pessoas dão umas às outras...
Encoberto e sem direito a
um espelho ou a uma voz! Mas os espelhos em que muitos se miram; as vozes com
que muitos falam o que falam honestamente isso eu não os quero.
Embora eu tenha no espelho
excelente modo de olhar por reflexo e por observação obtendo parâmetros e verdadeiras
analogias, virtudes relativas e defeitos passageiros...
E também à voz tenho em boa
conta como um instrumento de exaltação e de execração através da palavra, tal como
deve ser a língua em que se expressa a canção e se espalha pelo ar, ou um
postulado que se enuncia uma sentença que se profere. Ainda enquanto lei a que condene
ou liberte da prisão das trevas da ignorância. Ou até numa profecia que anuncie
a volta de um Deus em encarnado, a fim de nos conduzir.
Mas também para muitos homens
o negarem e depois de morto e estranhamente o venderem aos pedaços e
pedacinhos, de acordo com a bolsa ou embornal de cada comprador.
Tenho então realmente do
espelho a ideia da magia, ser e me ver como Encoberto, para desse gesto obter o
conselho e o eixo de hoje ser aquele que se liberta de seus orgulhos e vaidades.
Esse mágico olhar liberta-me
também da ilusão de que tenha exclusivos conhecimentos ou poderes ocultos, com
os quais possa aos semelhantes salvar ou simplesmente mais que qualquer
semelhante!
Pois, sendo Encoberto não
estou nunca nem longe nem perto, nem fora nem dentro. E naturalmente descoberto
de alguns “valores” porque a esses valores já não deseje!
Olá Julio querido.
ResponderExcluirAndas a ler Augusto dos Anjos?
Dá para cortar com faca essa névoa...
Fique bem, Nac♥
Não.
ResponderExcluirCom faca? rsrsrs até com uma régua de madeira.
Mas já passou.
Obrigadão Norma10 rsrsr (???)
Julio,
ExcluirVc sabe! (isso é uma afirmativa)
A energia chega primeiro.
Outro ass.: Vc é artesão?
Bjo nac♥
P.S.: O WPress ñ me reconhece aki nos teus domínios - sniff
A energia segue o pensamento.
ResponderExcluirSou. Em madeira e óleo sobre papel.
Eu nem sei como posso ajudar com essa
droga de códigos internéticos...
Norma, você mora aonde?
ResponderExcluirGosta de escrever?
Quer trabalhar um projeto a quatro mãos?
Editora não temos, mas temos Papa rsrsrsr
fraterno abraço
Vou postar aqui uma talhas...
Júlio
Ipanema - RJ/RJ
ResponderExcluirSim
A ver. (estou com algumas portas abertas, necessitando ser fechadas - com elegancia - depois podemos ver se a distância não for impedimento - rs)
Talhas? Gosto muito. Poste sim.
Um mimo:
http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=NqakBJgl9Lw
Veja. Divirta-se ou se descabele (rs.). Eu recebi do cineasta Beto Bertagna (Superint. do Iphan em....Porto Velho/RO. Um viva para internt!
E me respondeu assim, ao meu coment:
Não gosto de responder assim, mas não me ocorreu nada no momento a não ser kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk.
beto
M/coment.:
Beto:
Uma dúvida: Quando ele fala: "Acorda, Po#$a !
Tá se referindo a 20m de corda (e um banquinho*) a ser usados após ver o vídeo e atingir o pleno estado de consciência de quão 'otário' sou ?
(*) - item opcional ou de fábrica?
"Oh, e agora quem poderá me salvar?
(gif do Chapolim Colorado)
Vá a pé, magrela, patins in-line roller, caiaque ou nas asas de um beija-flor.
Boa Sorte, Bjo Norma
Bjo Nac