O homem comum se arrasta e o sábio caminha com
passos firmes, mas leves, porque fez da arte do desapego a leveza do seu
movimento, e ouviu com os ouvidos da sabedoria: “quanto mais pesado fizer o
mundo, mais o mundo pesará sobre ti”.
Compreende e tolera os mais intolerantes, porque
reconhece neles a si mesmo no dia de ontem; e a sua intolerância de ontem pode
muito bem estar agora com eles!
Faz da prudência a sua virtude mais poderosa, e com
ela se defende dos perigos reais ou imaginários; vigia os seus sentidos como
quem guarda os seus inimigos, mas usufrui de todas as artes que pelos canais
cognitivos e demais sentidos observa, e a nada hostiliza; entretanto, é
rigoroso com a boa moderação.
A coisa alguma distingue nas diferenças; e a ninguém
julga em nome do livre arbítrio universal.
E como ele é o sábio ama, pensa, trabalha e confia;
mas prudentemente vigia as entradas de sua régia residência, porque a mantenha
sempre de portas abertas.
Abraça amorosamente todas as coisas sem distinção,
mas serenamente, em seu coração agasalha as crianças e sabe que o falso terá de
ser desviado delas.
Pensa com acuidade nos problemas metafísicos, reconhece
os seus efeitos concretos, pois neles o mundo das formas e o divino se assentam.
Trabalha para o engrandecimento da inteligência, sem
esperar recompensa e sem querer para si os frutos da sabedoria, porque sabe que
lhe serão inúteis se a todos não servirem.
“Para que serviria a sabedoria, se por ignorância o
homem escraviza outro homem, que sofre e se penaliza?” É esta a pergunta que
freqüentemente o sábio a si mesmo faz.
Confia em si mesmo e em todos os homens, pois sabe
por experiência que errar é a lição mais preciosa com a qual se solidifica a
experiência.
Reconhece e respeita nos erros os benéficos dos obstáculos
vencidos, para que existam vitórias e vencedores.
Espera, e enquanto o faz ao seu pensamento exercita,
porque é isto que dele espera o universo; sabe também, que a forma mental que
criar assim pelo mundo mental espalhar-se-á. Por isso, vigia os seus pensamentos.
Com eles aprendeu que o templo do sábio é o seu
corpo, por isso deve ser muito bem zelado; e se o altar do sábio é a sua alma,
deve mantê-la sempre límpida e transparente.
Já o templo maior do sábio é o próprio universo, e o
seu altar coletivo rodeado das almas de todos os homens; e à guarda de todas as
vidas concentra a sua luta.
Por isso deve unificar os seus esforços em orações,
e não há oração superior ao trabalho.
Amanhã a última parte...
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