terça-feira, 3 de junho de 2014

HOMEM II


O homem comum se arrasta e o sábio caminha com passos firmes, mas leves, porque fez da arte do desapego a leveza do seu movimento, e ouviu com os ouvidos da sabedoria: “quanto mais pesado fizer o mundo, mais o mundo pesará sobre ti”.

Compreende e tolera os mais intolerantes, porque reconhece neles a si mesmo no dia de ontem; e a sua intolerância de ontem pode muito bem estar agora com eles!

Faz da prudência a sua virtude mais poderosa, e com ela se defende dos perigos reais ou imaginários; vigia os seus sentidos como quem guarda os seus inimigos, mas usufrui de todas as artes que pelos canais cognitivos e demais sentidos observa, e a nada hostiliza; entretanto, é rigoroso com a boa moderação.

A coisa alguma distingue nas diferenças; e a ninguém julga em nome do livre arbítrio universal.

E como ele é o sábio ama, pensa, trabalha e confia; mas prudentemente vigia as entradas de sua régia residência, porque a mantenha sempre de portas abertas.

Abraça amorosamente todas as coisas sem distinção, mas serenamente, em seu coração agasalha as crianças e sabe que o falso terá de ser desviado delas.

Pensa com acuidade nos problemas metafísicos, reconhece os seus efeitos concretos, pois neles o mundo das formas e o divino se assentam.

Trabalha para o engrandecimento da inteligência, sem esperar recompensa e sem querer para si os frutos da sabedoria, porque sabe que lhe serão inúteis se a todos não servirem.

“Para que serviria a sabedoria, se por ignorância o homem escraviza outro homem, que sofre e se penaliza?” É esta a pergunta que freqüentemente o sábio a si mesmo faz.

Confia em si mesmo e em todos os homens, pois sabe por experiência que errar é a lição mais preciosa com a qual se solidifica a experiência.

Reconhece e respeita nos erros os benéficos dos obstáculos vencidos, para que existam vitórias e vencedores.

Espera, e enquanto o faz ao seu pensamento exercita, porque é isto que dele espera o universo; sabe também, que a forma mental que criar assim pelo mundo mental espalhar-se-á. Por isso, vigia os seus pensamentos.

Com eles aprendeu que o templo do sábio é o seu corpo, por isso deve ser muito bem zelado; e se o altar do sábio é a sua alma, deve mantê-la sempre límpida e transparente.

Já o templo maior do sábio é o próprio universo, e o seu altar coletivo rodeado das almas de todos os homens; e à guarda de todas as vidas concentra a sua luta.

Por isso deve unificar os seus esforços em orações, e não há oração superior ao trabalho.


Amanhã a última parte...

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