segunda-feira, 9 de junho de 2014

RITMO




Distanciei-me de tudo correndo, mas não cheguei a lugar algum, porque me atrasasse perdido entre umas nuvens, que haviam descido rentes à terra.

E não era o nevoeiro que envolvia os vales nem a serra nem o horizonte da cidade, mas umas nuvens espessas de fumo que se desprendiam da boca dos canhões, que faziam guerra.

Guerra de palavras, guerra de classes, guerra com fogo, com paus, com ferro e da pólvora, guerra de todas as formas e preços, que em salvas tremendas estouravam meus ânimos e nervos.

Depois acordei e vi outra guerra. E outra vez, porque me atrasasse enquanto dormia sobressaltado, acordei com os pesadelos das feras, mas em estado de vigília estranhamente contaminado pela demagogia, completamente anestesiado.

Vi então a guerra lá fora na rua, e minha cabeça completamente aturdida e a minha alma absolutamente nua; só o meu coração batendo é que ainda estava vestido de corpo.

Mas batia muito forte de incerteza e de pavor. E é assim que em guerra em estado de vigília quanto a sonhar o meu destino é ver o mundo ir à guerra sempre a guerrear!

Parece ser mesmo o meu castigo ver os dois mundos irem à guerra. Pois se nem durante a noite cessa a luta no astral, o que dizer deste lado da moeda onde brigam tanto pelo bem, quanto pelo mal?

E não é que brigam e guerreiam por quimeras, em nome do suposto meio bem, que é qualquer quimera rude sem importância igual ao outro meio mal!

Ou seria contra o inteiro bem que brigam pelo inteiro mal? Mas não tem jeito e de todos os quebrados fazem arte e a oferecem de ao outro com a sua melhor parte...

E assim para que todos se fartem e se acalmem fazem guerra no céu, na terra, na rua e no mar; em toda parte fazem guerra, eternamente o mundo anda em armas a guerrear.

Não poderia mesmo sonhar com outra coisa, em ambos os mundos! Se os profundos seios tanto do céu quanto da terra estão sendo por feras bombas bombardeados, com o que poderia eu sonhar?

Não por isso posso justificar o meu atraso nem este meu caminho incerto, desconhecido e confuso. Não por isso!

Ao meu percurso pessoal sempre pensei percorrer depressa; todavia com o que trago e vou me arrastando por aí, sigo lento e sempre tardo. Ah se não houvesse tantas nuvens e quimeras!

E se de tanta fumaça tantas curvas não vingasse tanto mal, não haveria tanto o que me atrasasse!

Mas bem pior que guerras nos dois mundos e de todas as formas desencadeadas, são as quimeras por se vai á guerra!

Igualmente ferozes e infames são as pedras, que em nosso telhado e nossos ouvidos jogam por ofertas em nome do mentido bem, que é mal, gritado ao preço vil do dia!


Tão eloqüentes são as vozes eletrônicas que concorrem entre si nos dias de pagamento, que é esta a mais infeliz guerra, ainda que permitida por uma lei fora da lei!

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